12 nov, 2020 - 07:51 • Anabela Góis , João Cunha (entrevista)
Nunca tinha havido tantos casos de pneumonia em Portugal. Com a Covid-19, os casos dispararam e estão a aparecer muitos diagnósticos tardios.
Paulo André, diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Barreiro Montijo, diz que, neste momento, as pneumonias virais, provocadas pelo novo coronavírus são as que mais preocupam.
“A pneumonia pode ser provocada por vários tipos de microorganismos – principalmente bactérias e vírus – e, neste momento, a que mais nos preocupa é a provocada pelo vírus da Covid-19, que provoca uma infeção viral e que afeta de uma forma muito importante o pulmão”, explica à Renascença.
“Hoje, falar de Covid é falar de pneumonia e falar de pneumonia é falar de Covid”, resume.
O diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Barreiro Montijo considera, no entanto, que as pneumonias provocadas pela Covid-19 não são obrigatoriamente as mais graves, “porque nas outras, sejam bacterianas ou provocadas por outros vírus, a gravidade clínica também pode ser muito diferente”.
“Aliás, a pneumonia é uma doença que pode assumir uma gravidade clínica ligeira ou uma gravidade clínica muito importante – o que também pode acontecer com as pneumonias provocadas pelo vírus que provoca a Covid-19”, explica.
“Portanto, pode haver pneumonias relacionadas com a Covid-19 mais ligeiras ou mais graves, não é aí que se estabelece a diferença”, reforça.
Paulo André, que foi diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos, mostra-se também preocupado com o excessivo uso de antibióticos.
Não há sintomas ou sinais que só apareçam num tipo de pneumonia, mas há muitas vezes casos de sobreinfeção, em que a uma pneumonia provocada pela Covid-19 se junta uma infeção bacteriana.
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“A afirmação da causa da pneumonia prende-se com o diagnóstico da doença de base: neste caso, da presença da infeção pelo vírus da Covid-19. Havendo esse diagnóstico, e havendo sinais de pneumonia, conclui-se que a pneumonia é provavelmente causada pelo vírus da Covid-19, independentemente de, em muitos casos, poder haver uma sobreinfeção bacteriana, uma pneumonia bacteriana ‘exacerbada’, digamos assim”, refere.
“Por isso é que, muitas vezes, temos de fazer antivíricos e, em simultâneo, antibióticos para tratarmos a sobreinfeção bacteriana”, acrescenta.
O diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Barreiro Montijo adianta, por outro lado, que aumentaram os casos de diagnósticos tardios de pneumonia, porque as pessoas têm medo de ir a um hospital. Apesar dos esforços, a situação continua a verificar-se.
“Todos temos noção que aconteceu. Houve uma reação compreensível de setores da população que tiveram medo de ser aproximar de um hospital, das unidades de saúde e por isso os diagnósticos e as terapêuticas das suas doenças saíram prejudicadas”, afirma.
“Aconteceu e continua a acontecer. Embora esteja a ser feito um grande esforço para que não aconteça, temos de reconhecer que acontece”, admite.
Nesta quinta-feira, assinala-se o Dia Mundial da Pneumonia, uma doença que, antes da pandemia, já matava 16 pessoas por dia em Portugal, o que representa 5,1% do total de mortes – um número que coloca o nosso país na cauda da Europa entre os que têm mais casos.
Segundo os últimos dados divulgados pelo Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da Direção-Geral da Saúde (DGS), as pneumonias são a principal causa de mortalidade respiratória.
Em todo o mundo, e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a pneumonia mata três milhões de pessoas por ano, entre as quais 476 mil crianças – é, aliás, uma das principais causas de morte em menores de cinco anos.
O Dia Mundial da Pneumonia foi criado em 2009, com vista a alertar para a gravidade da doença, que também pode ser contagiosa.
A prevenção é, por isso, fundamental e pode ser feita através da vacinação: quatro doses, administradas nos primeiros 15 meses de vida.
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