18 nov, 2020 - 10:34 • Olímpia Mairos , Marina Pimentel (entrevista)
Os antibióticos são armas poderosas contra as infeções, mas devem ser usados com precaução para que sejam eficazes. Este é um dos alertas deixado na Renascença, no Dia Europeu do Antibiótico, pelo responsável pelo programa para a prevenção da resistência dos antimicrobianos.
José Artur Paiva lembra, por exemplo, que no atual contexto de pandemia, não devem ser prescritos antibióticos no tratamento da Covid-19 ou de uma mera gripe.
O médico assinala também que “o conjunto de mensagens que está a ser passado ao cidadão acerca da Covid-19 também evita outras infeções respiratórias”, acrescentando que “vai provavelmente diminuir a incidência de outras infeções respiratórias, algumas delas por bactérias”.
“A Covid-19 salienta esses aspetos. Em termos da prescrição de antibiótico, a Covid-19, sendo uma infeção vírica, permite-nos lembrar que o antibiótico não é eficaz para tratar infeções por vírus, como a gripe, como a Covid-19. E, portanto, não deve ser motivo de prescrição de antibiótico”, alerta.
José Artur Paiva, também diretor de medicina intensiva do Hospital de São João, elogia ainda o papel dos médicos que, nos últimos anos, têm vindo a prescrever antibióticos com mais ponderação, o que fez com que Portugal tivesse uma nota mais positiva, a nível europeu, no uso generalizado de antibióticos.
“Aumentar a consciencialização dos médicos para este efeito lateral coletivo do antibiótico é algo de muito importante e eu creio, os dados portugueses mostram-nos isso, que a prescrição tem sido cada vez melhor”, afirma o médico.
O responsável pelo programa para a prevenção da resistência dos antimicrobianos assinala que “tem melhorado a utilização dos antibióticos nos últimos seis, sete anos em Portugal” o que fez com que Portugal deixasse de ser “dos países europeus mais prescritores de antibióticos”.
“Estamos muito perto da média europeia; mas, por outro lado, sabemos que as decisões clínicas de prescrição, hoje em dia, já não têm aquele paradigma paternalista do antigamente. Há uma interação médico-doente que influencia, evidentemente”, acrescenta.
E porque nunca é demais alertar para os cuidados a ter na toma de antibióticos, José Artur Paiva considera que “é importante aumentar a literacia e a sensibilização do cidadão para o facto de que os antibióticos são fármacos muito particulares” e que “têm um efeito lateral coletivo, isto é, ao tomarmos um antibiótico, nós vamos excretá-lo e ao excretá-lo ele vai para o meio ambiente”.
“Indo para o meio ambiente, está a condicionar a modificação das nossas bactérias e das bactérias do meio ambiente, tornando-as mais resistentes”, alerta.
Quanto ao efeito lateral coletivo, é “muito importante que a população seja sensibilizada para ele e é por isso que proximamente a DGS vai desenvolver mais uma campanha para a sensibilização da população e para a literacia da população nesta área”, conclui o responsável pelo programa para a prevenção da resistência dos antimicrobianos.
Dados da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), mostram que nos primeiros nove meses do ano foram dispensadas nas farmácias comunitárias menos 1.249.637 embalagens de antibióticos do que em igual período do ano anterior.
A média de embalagens de antibióticos dispensada nas farmácias passou de 17,46 doses diárias definidas por mil habitantes por dia (DHD) para 13,97 DHD.
De acordo com os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), Portugal voltou a ficar abaixo da média europeia em 2019, tanto a nível hospitalar como no consumo em meio ambulatório.
Os dados foram revelados numa altura em que se assinala o Dia Europeu do Antibiótico e em que o Infarmed, a Direção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saúde estão a promover uma campanha alargada no âmbito da Semana Mundial dos Antibióticos.