10 dez, 2020 - 08:03 • Liliana Carona
A GNR da Guarda tem no terreno uma iniciativa pioneira de apoio aos mais vulneráveis. Em colaboração com os municípios do distrito, lançou o ‘eGuard’, um programa-piloto de teleassistência.
A Guarda é o segundo distrito do país com mais idosos a viverem sozinhos ou isolados: 4.500.
No total, já integram o programa 100 idosos, sendo que 24 têm idades compreendidas entre os 85 e os 100 anos. A maioria são mulheres.
Em Celorico da Beira, há 200 idosos a viverem sozinhos ou isolados. Onze aderiram ao “eGuard” e dois deles habitam numa povoação que tem apenas três habitantes.
Isabel Ferreira, viúva, de 95 anos, já recorreu várias vezes ao novo aparelho de teleassistência, que anda sempre pendurado ao pescoço.
“Está a piscar, tem carga”, mostra, satisfeita. “Posso cair e não dar por ela. A primeira vez que caí, pensava que ficava lá. Assim já posso chamar, pedir socorro. Foi bom, porque já tenho caído aí e vejo-me à rasca para me levantar”, revela a moradora daquela povoação de Celorico da Beira com três habitantes.
“Já usou o aparelho diversas vezes e ouve bem os meus colegas?”, questiona a guarda principal, Andreia Pena, da Secção de Policiamento Comunitário do Destacamento Territorial da GNR da Guarda.
“Sim, oiço-os muito bem”, confirma Isabel, sentada à lareira com o cachorro Caramelo, O amigo de quatro patas que herdou de um vizinho falecido. “O cão era do vizinho, o vizinho morreu, ele veio-me chamar à porta como se fosse uma pessoa a avisar do sucedido e agora anda sempre ao pé de mim. Quando caía, era ela que dava o alerta”, lembra.
Isabel não tem filhos, mas tem familiares que insistem para não passar o Natal sozinha, mas… “Estou aqui há tanto ano, não me custa estar aqui. A minha família não quer, mas enquanto puder, não deixo a minha casinha e no Natal, à minha vontade, não saio daqui”, afirma.
Ter socorro na hora, 24 horas, é também uma novidade para Manuel Cabral, 85 anos. Nunca casou nem tem filhos. Carrega no botão do aparelho de teleassistência e passado alguns minutos aparecem os militares da GNR, no caso de precisar de ajuda.
“Acho que o intuito é para meu bem. Se estiver doente, se me sentir mal, para transmitir para lá, para a secção deles. Sinto-me bem”, realça, admitindo “estar sozinho”.
“O Natal, derivado à situação do país, não querem que passemos com outras pessoas. Sou capaz de passar sozinho. Estou muito escondido agora”, lamenta, ao mesmo tempo que o cabo Aniceto, da Secção de Policiamento Comunitário do Destacamento da GNR da Guarda, se apressa a explicar o uso do aparelho de teleassistência.
“Quando necessitar, carrega neste botão durante 3 segundos e depois os guardas lá na sala de situação vão fazer uma chamada para si. Não se esqueça de carregar o aparelho”, adverte o militar.
O alferes Soares, adjunto do Comandante de Destacamento Territorial da GNR da Guarda, explica o que se passa do outro lado da linha. “Através de uma plataforma digital e de um aparelho, um botão simples faz a chamada direta para a sala de situação, no Comando Territorial da GNR da Guarda, que funciona 24h, monitorizando as pessoas especialmente vulneráveis”.
E sublinha que o programa “consiste na celebração de um protocolo entre a GNR e os vários municípios do distrito”, que identificam os idosos e pagam as chamadas às operadoras de telecomunicações. Tem por objetivo “construir um canal de comunicação mais rápido e mais eficaz entre a GNR e as pessoas mais vulneráveis”, conclui.
A deslocação dos militares permite aos idosos que vivem sozinhos e isolados a partilha de experiências e histórias de vida.
“Não queria chegar aos 100, só queria chegar à idade da minha mãe: 99 e meio”, sorri Isabel. Já Manuel nunca casou e agora “já não vai a tempo… agora ia namorar ou casar? Tenho 85 anos, tomara eu estar sossegado”, confidencia, enquanto mostra um retrato de família onde a sua irmã, Fátima, teve como padrinho de casamento Mário Soares”.