10 dez, 2020 - 00:00 • Susana Madureira Martins (Renascença), Marta Moitinho Oliveira (Público)
Veja também:
Depois de Carlos Silva ter anunciado que não se recandidata a novo mandato à frente da UGT, José Abraão, que lidera a Frente de Sindicatos da Administração Pública (Fesap) desde novembro de 2013, não exclui entrar na corrida à liderança da central sindical.
Questionado sobre essa possibilidade, o líder da Fesap assegura disponibilidade permanente, "seja para ser delegado sindical, seja para ter as responsabilidades que tenho na Fesap ou aquelas que já tenho na UGT enquanto secretário nacional ou outra coisa qualquer".
Sabemos que Marcelo Rebelo de Sousa é recandidato. Este Presidente da República foi útil ao longo destes cinco anos?
Foi um dos presidentes da República que acompanhou a UGT, tratou bem a UGT, como aconteceu com outros. Mas o professor Marcelo Rebelo de Sousa participou ativamente em muitas iniciativas, homenageando a própria UGT no seu aniversário.
Por oposição ao primeiro-ministro?
Não acredito que tenha sido. É uma questão de sensibilidade. Com o senhor primeiro-ministro temos de fazer sempre um combate mais direto na exigência, negociação e receber. Enquanto com o Presidente da República não temos nada a negociar. Acredito que, caso venha a ser reeleito, irá manter uma postura de grande diálogo e de grande abertura para ouvir os trabalhadores.
Como socialista, pensa que Marcelo Rebelo de Sousa poderia continuar como Presidente da República sem quaisquer problemas?
Isso é o povo que decide. Se vier a ser eleito no próximo dia 24 de janeiro por vontade do povo, iremos continuar a respeitar e trabalhar e esperando sinceramente a sua postura de diálogo. É também uma forma de valorizar o papel dos parceiros sociais.
O secretário-geral da UGT, Carlos Silva, já anunciou que vai deixar a liderança da central sindical no próximo congresso. Vamos ter uma crise de liderança?
Creio que nunca haverá nenhuma crise de liderança numa central sindical como a UGT, que tem já 40 e muitos anos. Nasceu também com a democracia. Eu próprio fui fundador no momento da carta aberta, quando era dirigente do sindicato de escritórios de Vila Real.
E como fundador, vê-se disponível para a liderança, para se candidatar?
Sou um homem disponível para o movimento sindical há já muitos anos e a minha disponibilidade é permanente, seja para ser delegado sindical, seja para ter as responsabilidades que tenho na Fesap ou aquelas que já tenho na UGT enquanto secretário nacional ou outra coisa qualquer.
Incluindo como secretário-geral da central?
Logo se verá. Neste momento, não estão abertas candidaturas. O meu colega, atual secretário-geral, Carlos Silva, disse que provavelmente não seria mais candidato.
Com o argumento de que está até amargurado com o comportamento do PS. Também se sente assim?
Não é amargurado. Sinto-me cada vez mais impelido e envolvido no sentido de que o PS, no Governo ou fora dele, tenha um respeito maior pelos seus sindicalistas e pela organização sindical. Não sou um homem de amarguras. Sou um homem de combate.
Não irá deitar a toalha ao chão em relação à luta sindical?
Não. E por isso a minha disponibilidade é a disponibilidade de há dez anos, de há quinze. A minha disponibilidade mantém-se se os trabalhadores, se os sindicalistas e os sindicatos assim o entenderem. Não vou nem quero pôr-me à frente de ninguém. Não podemos é continuar com representantes dos trabalhadores e de centrais sindicais a pôr-se de fora quando há condições para se estabelecer acordos, como é o caso da CGTP. Estou convencido que a própria CGTP há-de vir a criar as condições – aliás, como acontece hoje com o PCP e outros no Parlamento – para viabilizar um Governo.
Num cenário mais para a frente, eventualmente, se José Abraão chegasse a secretário-geral da UGT, a relação com a CGTP poderia ser normalizada ou melhorada?
O mundo está em permanente em transformação e eu acredito que as organizações vão-se adaptando àquilo que são os tempos.
Isso é um sim, não é?
É a manutenção de expectativas de que as coisas não são estáticas. Há dez ou 15 anos, ninguém acreditaria que o PS se pudesse entender com o PCP – que não tem problema absolutamente nenhum – para viabilizar um Governo com as políticas a que nós assistimos. Tudo isto são tempos. Agora, o que não é aceitável, claramente, é que a CGTP sistematicamente se ponha de fora.