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Frio deve manter-se por mais uma semana. A culpa é do vórtex estratosférico

11 jan, 2021 - 10:27 • Marta Grosso com redação

A explicação é do presidente do Instituto do Mar e da Atmosfera. Miguel Miranda disse que Portugal ainda não bateu recordes de temperatura mínima e explicou porque nevou no Alentejo.

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O frio que se faz sentir em Portugal continental deve ficar ainda mais uma semana, segundo a previsão do presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). À Renascença, Miguel Miranda explica o que está a originar esta vaga de temperaturas baixas.

Começa por dizer que existem dois vórtexes. “Há o vórtex polar que está à superfície, nesta chamada troposfera, que dá o tempo dos esquimós, e depois há um vórtex polar na estratosfera, que só existe três ou quatro meses por ano – existe no Outono e acaba tipicamente no princípio da Primavera”.

Ora, por vezes, “o vórtex estratosférico tem um aquecimento súbito, que ocorre em cerca de uma semana e faz com que a direção do vento nesse vórtex mude de Oeste para Este. E foi isso que aconteceu agora”, indica.

No entender deste especialista, o “fenómeno está a terminar”. “Eu diria que dentro de uma semana estaremos novamente numa situação mais normal”, antevê.

Está frio porque faz calor

Não é intuitivo, mas é porque nos pólos está mais calor que Portugal e outros países estão a atravessar uma vaga de frio.

“Sabe-se que o frio que estamos a sentir aqui está relacionado com o aquecimento do ártico, imagine”, diz o presidente do IPMA. “Quando há um grande aquecimento na estratosfera do ártico, a frente polar vem mais para Sul; ao vir mais para Sul, influencia normalmente os países do Norte da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá. Este ano, veio tão para Sul que atingiu de forma significativa a Península Ibérica e, portanto, temos temperaturas ditas polares no Alentejo, o que é uma situação bastante inusitada”, considera.

“Por estranho que pareça, é uma consequência do aquecimento global”, o que é “uma situação bastante contraintuitiva”, admite.

E a neve no Alentejo?

“O aquecimento global colocou mais água na atmosfera e, portanto, quando as temperaturas são baixas, há mais facilidade em formar chuva – como vimos recentemente na Madeira, por exemplo – e há mais facilidade em produzir neve. A neve é dada pela conjunção entre haver mais água na atmosfera e as temperaturas estarem muito baixas.

“Tivemos neve em regiões que não habituadas a tê-la e isso, por estranho que pareça, é uma consequência do aquecimento global”, reforça.

Mas, Portugal ainda não bateu “recordes significativos” de frio. “Em Espanha, sim”, acrescenta.

Em 2019, os Estados Unidos também viveram um fenómeno semelhante, provocado pelo aquecimento do vórtex estratosférico. Na altura, “o ex-Presidente disse que o aquecimento global tinha acabado”, recorda Miguel Miranda. É exatamente o contrário.

O presidente do IPMA afirma ainda que, para nos aquecermos, é importante retermos ar, porque “o ar é essencialmente um isolante”.

“A temperatura que nós sentimos tem pouco a ver com o equilíbrio da Terra e o Sol. A temperatura que sentimos é a do ar que nos rodeia. É por isso que os casacos de penas são tão eficientes – porque, na verdade, não é a pena, é o ar a pena que isola”, explica.

Por causa da vaga de frio polar, Portugal está sob aviso amarelo até quarta-feira. Em Espanha, as baixas temperaturas bateram um record e em Madrid caiu o maior nevão desde há 50 anos.

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