14 jan, 2021 - 13:13 • Joana Gonçalves
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No dia em que Portugal regista um novo máximo de novos casos de Covid-19, Pedro Simas, virologista do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, deixa um alerta: a nova variante do Reino Unido pode vir a desempenhar um papel preponderante no aumento de infeções pelo novo coronavírus.
“Devemos estar muito preocupados. Uma das razões para decretar o confinamento nesta fase é, precisamente, que não só houve aumento exponencial do número de contactos entre as pessoas na época anterior ao natal, no natal e ano novo, como também agora estamos sob a possível influência desta variante do Reino Unido, que já está em Portugal, assumir um papel mais preponderante”, referiu o especialista em entrevista à Renascença.
O especialista adianta que apesar da nova variante, que já foi identificada em 72 casos de infeção em Portugal, não se manifestar numa doença mais grave, o aumento de transmissão pode ter consequências indiretas na mortalidade. “Se nós tivermos muitas infecções, não conseguimos proteger os grupos de risco. Vai haver, probabilisticamente, maior infeção nos grupos de risco, mais internamentos e mais mortes”, defende o virologista.
Pedro Simas alerta, ainda, para o potencial risco da manutenção do regime presencial em todos os estabelecimentos de ensino. “Nós vamos ter as escolas e as universidades abertas e eu concordo e respeito a decisão. Mas é um risco enorme. As escolas são partilhadas por centenas de famílias. Se estas centenas de famílias não respeitarem o teletrabalho e o recolher domiciliário e houver contactos extra sem cuidado, que resultem em infeção, o que acontece é que as crianças também vão ser infetadas, vão para escola e vão disseminar o vírus por todas as outras famílias”, lembra.
“Apelo a todos os portugueses que cumpram as recomendações do nosso primeiro-ministro. É uma responsabilidade de todos. Todos salvam vidas com o seu comportamento”, afirma o especialista.
De acordo com o último relatório de diversidade genética do novo coronavírus em Portugal, o país regista já “transmissão comunitária” desta variante. O documento do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) refere, ainda, que a variante foi detetada em 28 concelhos portugueses, das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.