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Reportagem

Confinamento geral, parte II. Menos carros mas quase as mesmas pessoas em transportes

20 jan, 2021 - 14:28 • João Cunha

As novas restrições do segundo confinamento geral entraram hoje em vigor. A Renascença andou nas ruas da Grande Lisboa durante a manhã, para ver se havia diferença com os dias anteriores. A ronda começou perto das 6h00.

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Neste primeiro dia de mais restrições para combater a pandemia de Covid-19, que neste momento coloca Portugal no top do maior número de casos e de mortes associadas à doença, houve menos trânsito, mas não se notou menos pessoas nas ruas, porque, como as próprias fazem questão de dizer, "há trabalhos que não se fazem à distância".

A Renascença foi para a rua de manhã bem cedinho. Tão cedo que o metropolitano de Lisboa ainda não circulava e poucos eram os que se encontravam junto à estação do Sr. Roubado, em Odivelas.

Entre eles, Ermelinda Real, que espera pela primeira composição do dia para chegar ao trabalho. Nota que há menos pessoas do que ontem. Sendo certo que há algo que a preocupa.

"São as pessoas que se vêm por aí sentadas, juntas, à conversa. E nas camionetas. Eu saio do trabalho às 15h00, não há muita gente. Mas agora, às 6h30, ainda há muita gente no metro, é o primeiro", conta.

Interroga-se sobre o que faltará para que os portugueses que possam ficar em casa cumpram de facto as medidas em vigor. E lembra o cenário com o qual lida diariamente, por ser funcionária do Hospital de Santa Maria. "É apanharem um ‘escaldão’. Mesmo. Enquanto não passar por eles [a Covid], eles não têm cuidado".

De Odivelas à interface de Entrecampos, nenhum trânsito. E poucas pessoas à entrada para seguir viagem para o trabalho. Os autocarros chegam e partem com poucos passageiros.

Dali ao Cais do Sodré, o trajeto de carro é feito em poucos minutos. Na Avenida da Liberdade, só as folhas empurradas para o chão pelo vento do mau tempo enchem os passeios. Não se vê ninguém por volta das sete da manhã.

No Rossio, também deserto, lá estavam, junto ao edifício onde funcionava a antiga pastelaria Suíça, quatro policias: dois da PSP e dois municipais, à conversa e de modo a que, quem saísse da boca do Metro, com eles se cruzasse.

Não muito longe dali alguns cafés e pastelarias mantinham a porta de acesso bloqueada com uma mesa, em cima da qual está um frasco de álcool-gel. Colados à montra, alguns clientes, de café em copo de plástico na mão, a tentarem fugir da chuva miudinha que não parava de cair.

No Cais do Sodré, alguma azáfama própria do Mercado da Ribeira – com viaturas a descarregar frescos – contrastava com as poucas pessoas que por ali passavam.

Já na estação intermodal, a poucos passos de distância, dezenas de pessoas acabavam de chegar de Cacilhas e misturavam-se com os habituais utentes da CP e do Metropolitano.

Entre eles Carlos Martins, que acaba de chegar num comboio cheio de gente. "Parou em todas as estações desde Cascais", o que explica que dele tenham saído centenas de pessoas.

Não há diferenças em relação aos últimos dias. "Nenhuma, é igual. Não há diferença nenhuma. Eu penso que não é possível ser diferente, porque muitos não conseguem trabalhar a partir de casa. Máscaras, todos usam. Mas o comboio traz o mesmo número de pessoas de outros tempos", diz.

Daí que confesse que já há algum tempo que não se sente seguro em utilizar os transportes públicos. "Absolutamente. Não me sinto seguro. Eu trabalho e não tenho alternativa. Não vou comprar um carro para vir de carro, certamente".

E lá continua à espera que o supermercado da estação – onde já se forma uma fila com pelo menos uma dúzia de pessoas – abra portas, para fazer umas compras antes de ir para casa depois de uma noite de trabalho.

Ainda na estação, Lídia Marques troca argumentos com outras duas utentes da CP. Ainda tem dúvidas quanto às medidas e à sua aplicação. Dúvidas que serão comuns a muitos portugueses.

"A minha dúvida é que há uns abertos e outros fechados. O Leroy está aberto, as lojas dos telemóveis estão abertas... Eu acho que se a lei é para uns, devia ser para todos", diz, enervada, enquanto corre para apanhar o comboio para Cascais.

Contrastando com o cenário dos últimos dias, eram poucos os que utilizam o paredão que percorre quase toda a linha costeira de Lisboa a Cascais para praticar exercício.

Em Carcavelos, por exemplo, apesar de a Polícia Municipal ter colocado baias metálicas, havia algumas pessoas na praia, a passear de forma descontraída e sem máscara. Talvez porque uma baia não substitui um polícia.

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