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Pandemia

Jorge Torgal. Alarmismo "alimenta a irracionalidade no combate à pandemia"

29 jan, 2021 - 20:25 • Lusa

Jorge Torgal considera "ilusório pensar que vamos controlar a epidemia com as medidas que estamos a tomar" e lembra que o novo coronavírus “vai continuar por anos” na sociedade. A resposta à pandemia "não depende só da atuação do Governo", diz.

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O médico e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP) Jorge Torgal criticou o que diz ser o alarmismo em torno do número de novos casos de Covid-19, alegando que isso alimenta a irracionalidade no combate à pandemia.

Em declarações prestadas numa audição conjunta com outros especialistas em saúde pública, no âmbito da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia e do processo de recuperação económica e social, na Assembleia da República, Jorge Torgal vincou que a comunicação “tem sido um vetor pouco positivo” na ação contra a propagação do vírus SARS-CoV-2 no território nacional.

“Todos os dias ouve-se que temos 10.000 casos de Covid, 15.000, 13.000 e não é verdade. Nós temos 10.000, 15.000 ou 13.000 casos de infeção pelo vírus e, felizmente, destes apenas 5% é que serão Covid, se tivermos a média habitual na generalidade dos países. Este é um dado objetivo. Ao alarmar, damos uma dimensão que não leva à racionalidade que entendemos que os cidadãos devem ter para abordar o seu quotidiano e a luta contra a epidemia”, frisou.

De acordo com o especialista em saúde pública, o novo coronavírus “vai continuar por anos” na sociedade e defendeu que a resposta à pandemia não depende só da atuação do Governo.

“A primeira noção é que uma pandemia se combate com o país: os cidadãos e as suas estruturas representativas. É ilusório pensar que vamos controlar a epidemia com as medidas que estamos a tomar”, salientou.

Jorge Torgal comentou ainda o encerramento das escolas neste segundo confinamento, depois de o CNSP ter recomendado em março de 2020 que os estabelecimentos de ensino continuassem abertos, uma orientação que o executivo liderado pelo primeiro-ministro António Costa acabaria por não seguir, decretando a suspensão da atividade letiva presencial.

“As escolas não são o principal foco de infeção. Encerrá-las é útil, porque baixa o nível de transmissão, mas temos de aceitar que o objetivo primeiro é proteger as pessoas frágeis e isso não resulta diretamente do encerrar das escolas e do fechar a sociedade. Vamos ter problemas sociais graves, de desenvolvimento das crianças, de saúde mental e também consequências económicas muito relevantes. Devíamos ter um foco mais preciso no combate à pandemia”.

Já sobre a postura do CNSP, Jorge Torgal reconheceu que o organismo se tem reunido “com pouca frequência” e adiantou que não se vislumbra “uma mudança de linha estratégica”. Por conseguinte, defendeu que “não tem prestado o foco que deveria haver sobre como evitar esta tragédia social de toda uma geração”, em alusão aos mais idosos.

“Devemos olhar para os dados e agir em consequência. Até ontem [quinta-feira] tivemos 405.827 casos de covid-19 em pessoas com menos de 50 anos e 134 mortes nestas pessoas. Tivemos 48.390 em pessoas com mais de 80 anos e morreram 7.600 pessoas. É uma diferença abissal. Quer dizer que o foco do Governo e da sociedade deve ser neste grupo que tem uma mortalidade incomensuravelmente maior”, finalizou.

Em Portugal, morreram 11.886 pessoas dos 698.583 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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