01 fev, 2021 - 12:17 • Olímpia Mairos
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“Bom dia. O seu documento de identificação, por favor”. Estas são as duas frases mais repetidas, por estes dias, na fronteira de Vila Verde da Raia, em Chaves.
Portugal repôs o controlo de fronteiras para conter a epidemia de Covid-19 e todos os veículos que se apresentam para entrar em território nacional são mandados parar. Só depois de verificada a documentação de todos os passageiros é possível seguir viagem ou não, porque alguns foram obrigados a inverter a marcha e regressar a Espanha.
Miguel Soares, inspetor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), um dos responsáveis pelo controlo dos camionistas e automobilistas que procuram entrar em Portugal, conta à Renascença que a operação “está a correr bem, dentro da normalidade, dentro do que era esperado”.
“Já não é uma situação inovadora, o controlo de fronteira, infelizmente pelas razões que são conhecidas. Maioritariamente, as pessoas que se apresentam na fronteira para entrar em território nacional são transportadores de mercadorias, cidadãos nacionais, trabalhadores transfronteiriços”, explica o inspetor do SEF.
De acordo com Miguel Soares, alguns veículos foram impedidos de entrar no país porque “não reuniam as condições de entrada”.
Ainda assim, o inspetor do SEF nota, em relação a março de 2020, uma alteração de comportamentos.
“Nota-se que as pessoas estão informadas, estão conscientes da situação pandémica e também têm uma noção, pela experiência anterior, do que podem ou não fazer”, destaca.
Covid-19
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Carla Sofia vem de Espanha. É lá que trabalha como auxiliar numa residência de idosos. Tem residência nos dois países e, por isso, apresentado o cartão de cidadão e o certificado de trabalho pôde entrar em Portugal.
“É muito importante que façam este controlo para obrigar as pessoas a confinar, diz à Renascença, acrescentando que “a situação que estamos a viver é muito grave e há pessoas que ainda não perceberam o ponto da situação em que estamos”.
No veículo seguinte, uma carrinha de nove lugares, seguem dois trabalhadores da construção civil. São espanhóis, mas trabalham nas barragens em Ribeira de Pena.
“Já deviam ter imposto esta medida há muito tempo, para ver se a doença acaba dos dois lados da fronteira”, diz o condutor António Lopez.
O companheiro, que segue no banco do lado, afina pelo mesmo diapasão e até vai mais longe, defendendo que “devia parar tudo”.
“Quando digo tudo, é mesmo tudo mesmo, para não haver gente a circular, porque enquanto se juntar gente nas ruas e nos supermercados o vírus vai espalhar-se”, explica José Sanchez.
As saídas do país são controladas por militares da Guarda Nacional Republicana que já tiveram que mandar para trás alguns automobilistas, por não cumprirem os requisitos para entrar em Espanha.
Foi o caso de Albino Rocha. “Fizeram-me virar para trás, mas perdoaram a multa. Ia buscar uma garrafa de gás e disseram-me que não podia passar. E o remédio foi virar. Não foi muito mau porque, como disseram, podiam multar”, conta à Renascença.
Uma multa que poderia ter sido aplicada por violação do dever de confinamento.
Mas este não foi caso único. Maria Filomena também queria ir “abastecer o automóvel” e foi convidada a “inverter a marcha e regressar a casa”.
“Nem me lembrei que não podia passar. Moro aqui perto e pensei que tendo um motivo podia ir ali num instante”, conta.
Segundo fonte da GNR, “alguns automobilistas também foram mandados para trás porque tentavam dirigir-se a Espanha para comprar tabaco”.
Foi o caso de António Santos. “Ia comprar tabaco, mas já vou para casa, porque me disseram que não podia circular”, diz, à medida que inicia a marcha.
Desde as 00h00 de domingo que o SEF está nas fronteiras a controlar a entrada de veículos e pessoas em Portugal. Em Vila Verde da Raia, no concelho de Chaves, só entram transportes de mercadorias, portugueses de regresso a casa e espanhóis que comprovem que trabalham em território nacional.
Já em sentido inverso o controlo é efetuado por militares da Guarda Nacional Republicana que só permitem a entrada de portugueses em território espanhol por motivos profissionais e de saúde.