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Reportagem

Mãe e filha recuperaram da Covid e agora querem ajudar no hospital de campanha de Lisboa

05 fev, 2021 - 16:43 • Lusa

Sónia e Margarida foram as primeiras a realizar os testes serológicos para apoiarem o centro médico da Universidade de Lisboa, junto ao estádio universitário.

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Após recuperarem da covid-19, Sónia e Margarida, mãe e filha, querem ser voluntárias no hospital de campanha de Lisboa e integram o grupo de 80 candidatos, entre mais de mil inscritos, que começaram hoje a realizar o teste serológico.

No centro médico da Universidade de Lisboa, junto ao estádio universitário, cerca de 20 candidatos dos 80 escolhidos para serem voluntários compareceram hoje à chamada para o teste serológico, arregaçando as mangas para a recolha de uma amostra de sangue que vai servir para verificar se têm anticorpos específicos para o vírus SARS-CoV-2.

Vindas da margem sul do rio Tejo, do concelho do Seixal, Sónia Garcia, de 43 anos, empregada de balcão em ‘lay-off’, e Margarida Garcia, de 20 anos, estudante do 3.º ano de enfermagem, foram das primeiras a fazer o teste, diagnóstico que vai ditar se podem ou não ser voluntárias no hospital de campanha de Lisboa.

“Neste momento, estamos as duas em casa e, claro, toda a ajuda é pouca, por isso quando vimos o [anúncio de] voluntariado decidimo-nos inscrever”, conta a futura enfermeira Margarida, reforçando que “é uma maneira de ajudar”

E a mãe Sónia concorda: “estão a precisar de nós, pelo menos acho que me sinto nessa obrigação, não custa nada”.

A família Garcia foi infetada antes do Natal, sem perceber como aconteceu, refere a filha Margarida, adiantando que os familiares registaram sintomas ligeiros, mas já se encontram recuperados.

Depois do teste serológico, Sónia Garcia explica que “tirar sangue é sempre um processo muito difícil”, porque tem “umas veias muito preguiçosas” e “não foi à primeira, foi à segunda”.

A coordenar todo o processo de “busca de voluntários para ajudar”, Raquel Gonçalves, de 21 anos, estudante do 4.º ano de medicina, pôs mãos à obra para responder à necessidade de recursos humanos para o hospital de campanha de Lisboa.

“Tem sido muito bonito, ficámos positivamente surpreendidos com a quantidade de pessoas”, indica a coordenadora da iniciativa, explicando que, apesar de as inscrições já estarem encerradas depois de receber mais de 1.000 candidatos, “continuam a chegar ‘emails’ de pessoas a pedir para ajudar”.


Sobre o perfil dos candidatos, a maioria são estudantes, mas há também “empregados, desempregados, pessoas de todas as áreas de formação e de todas as idades”, aponta Raquel Gonçalves.

Mariana Vaz Pinto, de 21 anos, estudante do 3.º ano de fisioterapia, está entre os candidatos que foram hoje realizar o teste serológico. Tem experiência como voluntária, mas nunca no contexto da pandemia da covid-19. Entretanto, esteve infetada e como “o risco era menor”, quando lhe mandaram o formulário para ajudar no hospital de campanha não hesitou em se inscrever.

“Posso ser útil. Das tarefas mais simples, que qualquer pessoa sem nenhuma formação sabe fazer, até algumas que já requerem conhecimento da área da saúde […], já que estudei, então, que possa aplicar alguma coisa”, afirma a estudante de fisioterapia.

Sem experiência de voluntariado, Catarina Neto, de 19 anos, estudante de medicina, viu que estavam a recrutar para apoiar na resposta aos doentes covid-19, cumpria o requisito de já ter sido infetada, e decidiu abraçar a ideia.

“Como tenho tempo livre e posso ajudar, vou ajudar, porque sei que é necessário”, expôs a jovem estudante, defendendo que a participação de voluntários “é importante, porque há muitas atividades que estão, neste momento, a ser feitas pelos médicos e pelos enfermeiros que não era necessário serem feitas por eles”.

“É esse tipo de atividade que espero fazer e poupar algum tempo aos profissionais de saúde”, sustenta Catarina Neto.

Em declarações à Lusa, João Barreiros, pró-reitor da Universidade de Lisboa, disse que a iniciativa de procurar voluntários para o hospital de campanha “foi um sucesso inesperado”.

“Apesar de sabermos que em momentos de crise as pessoas tendem a ser mais generosas, nunca pensámos que em dois dias tivéssemos conseguidos mais de mil voluntários”, adiantou João Barreiros, indicando que são voluntários “com uma condição estranha”, já foram infetados pela covid-19.

De acordo com o pró-reitor da Universidade de Lisboa, a seleção dos voluntários deu preferência às pessoas com formação na área da saúde, a viver perto do estádio universitário e com meios próprios de deslocação.

Os 80 voluntários escolhidos, entre os 1.000 inscritos, vão apoiar o atual pavilhão do hospital de campanha de Lisboa, que começou a acolher doentes covid-19 em 23 de janeiro e dispõe de 58 camas, esclareceu João Barreiros, acrescentando que vão funcionar em cinco turnos, dia e noite, com quatro voluntários por turno.

Os resultados dos testes serológicos devem ser conhecidos na quarta-feira e, depois, segue-se a formação dos voluntários, “que será breve”, prevendo-se que “dentro de uma semana todos poderão estar a trabalhar e haverá voluntários no hospital de campanha 24 horas por dia”.

No âmbito da abertura do segundo pavilhão, com mais 150 camas que estão já a ser montadas, a Universidade de Lisboa pretende recorrer ao banco de voluntário, “para selecionar um outro lote, que poderá ser 80, 100, 120, o que for considerado necessário”.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.285.334 mortos resultantes de mais de 104,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 13.740 pessoas dos 755.774 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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