05 fev, 2021 - 15:58 • Pedro Mesquita , com redação
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Ramalho Eanes considera que Portugal enfrenta uma “situação extremamente grave” e defende que está na hora de pedir ajuda à União Europeia para enfrentar a pandemia de Covid-19.
Em declarações à Renascença, o antigo Presidente da República diz que tem havido “muito ruído” no combate à pandemia, condena “erros inaceitáveis” de quem recebeu a vacina apesar de não ser prioritário e aplaude a escolha do vice-almirante Gouveia e Melo para coordenar o plano de vacinação contra a Covid-19.
Como vê a nomeação de um militar para coordenar o plano de vacinação?
Olho para isto não como militar, mas como cidadão. Entendo que o sr. vice-almirante tem todas as condições para desempenhar o lugar com eficiência. Obviamente, este lugar pode ser desempenhado por um civil, mas pode também ser desempenhado, e bem, por um militar, dada a sua preparação em planeamento e execução e em controlo da execução e, naturalmente, aquilo que é habitual entre os militares, a sua discrição.
A escolha então é boa, no seu entender, após os casos de vacinações indevidas?
A escolha foi boa. Eu creio que as trapalhadas em relação ao processo de vacinação não terão sido tão grandes quanto este ruído informativo tem aparentado. Houve erros evitáveis, erros que não deviam ter sido cometidos e por isso os responsáveis não são apenas o coordenador do plano, mas os portugueses, em especial os que cometeram esses erros.
Serão erros inaceitáveis, uma comunidade nacional assenta na confiança, na colaboração, na responsabilidade social e tudo isto implica que cada um respeite integralmente aquilo que são os direitos do outro e não utilize vias menos corretas para obter benefícios que não são devidos.
Sobre a questão de “furar a fila” das vacinas, que mensagem dirigiria aos portugueses num país onde este fenómeno acontece?
Eu não tenho estatuto para dirigir mensagens em relação aos portugueses, posso apenas expressar aquilo que é a minha opinião, aquilo que é a minha esperança relativamente ao comportamento dos portugueses.
Não se esqueçam que numa sociedade qualquer que seja não há apenas o eu. O eu, aliás, só ganha dimensão quando se conjuga harmoniosa e responsavelmente com o nós. E o nós somos todos e respeitar os direitos de cada um é de alguma maneira respeitarmo-nos a nós, é respeitarmos a comunidade a que pertencemos e fazer com que ela possa funcionar de uma maneira eticamente responsável e dinamicamente produtiva.
Creio que as coisas correram mal, mas correram mal noutros países, mas espero que agora tudo possa ser diferente. E que tudo possa ser diferente não porque há uma ameaça de uma sanção, que tudo passe a ser diferente porque, refletindo, ninguém por alguém que seja, pode, deve passar à frente do outro, porque isso significa não respeitar o outro e não se respeitar a si.
Como é que isto deve ser gerido daqui para a frente? Acha que tem havido por parte das autoridades de saúde algum ziguezaguear neste processo?
Há muito ruído, toda a gente emite opiniões e comentários. Entendo que é necessário um certo silêncio para que possamos ultrapassar a situação extremamente grave em que estamos procurando, se necessário, não apenas a ajuda alemã, mas a ajuda da Comissão Europeia que já nos disse que tem meios, que está disponível para nos ajudar a ultrapassar esta situação.
Mas esse pedido ainda não foi feito. Isso surpreende-o?
Não, não me surpreende. Eu acho que o pedido deve ser feito quando for necessário, não é quando for indispensável, é quando for necessário, mas acho que não podemos continuar a viver nesta situação com milhares de doentes por dia e muitas centenas de mortos diários também.
Acho que devemos ser modestos, humildes para reconhecermos que a situação começa a ultrapassar-nos e que pedir apoio à Comissão Europeia é fazermos aquilo que nos cabe fazer numa situação destas.