06 fev, 2021 - 01:33 • José Carlos Silva (entrevista), André Rodrigues (texto)
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Dificilmente haverá um desconfinamento antes do final de fevereiro.
O cenário é admitido por Carlos Antunes, matemático e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em entrevista à Renascença, este especialista defende que, um eventual desconfinamento em março, terá de ser parcial, gradual e poderá começar nas escolas, mas não em todas.
Quanto ao verão, Carlos Antunes admite que poderá ser salvo, se houver testagem e vacinação maciças até lá.
Em que ponto estamos nesta terceira vaga da pandemia?
Olhando para as tendências do número de casos de contágio, corrigidos à data de sintomas, a evolução dos óbitos, estamos numa trajetória de melhoria significativa.
O único lado que temos de esperar algum tempo - e temos de nos manter neste confinamento - é o lado dos internamentos.
Têm que haver um alívio nas entradas para internamentos, isso será consequência da diminuição da incidência do número de casos; a redução do número de casos também reduziu o número de situações mais gravosas e os óbitos já estão a sentir essa redução; quanto aos internamentos, vamos esperar.
Eu acredito que, em termos nacionais, já chegámos ao topo do número de internamentos e dificilmente vão aumentar mais do que aquilo que nós temos, ou seja, os 6.800... a tendência é para diminuir.
Nos cuidados intensivos, chegámos a um máximo [esta sexta-feira], mas também acredito que não vamos subir muito mais... certamente ficaremos no patamar dos 900 e na próxima semana acredito que iremos ter uma redução.
Perante estes dados, aconselha-se a continuação de um confinamento.
Enquanto não tivermos um conjunto de indicadores que nos digam que estamos em porto seguro, não se pode pensar nem em desconfinar nem em aliviar.
A positividade tem que vir para valores de 5%, nós estamos em 17%, por isso há um caminho a percorrer.
Na incidência, estamos, em termos médios, na ordem dos 7.000 a 8.000 casos de contágio.
Portanto, precisamos de trazer isto para baixo de 3.000 casos. Poderemos atingir esta tendência lá para final de fevereiro, mas não sabemos se ela se vai manter.
Antes disso não?
Antes disso não. A única possibilidade que pode haver, quando já tivermos chegado a essa zona de porto seguro, é, progressivamente, ir abrindo as escolas dos ciclos mais pequenos para os ciclos maiores.
Ou seja, fazer uma abertura progressiva das medidas, esperar uma semana a 15 dias, medir a evolução.
Achamos que alguma medida que seja desconfinamento tem de ser compensada por outra forma. A imagem que estou a dar é aquela que vemos no filme do Indiana Jones: quando ele está a retirar a joia, ele sabe que a joia tem um determinado peso que está a empurrar uma mola e ele tem que lá pôr um saco de areia que tem peso equivalente.
Aqui é igual: nós estamos a fazer uma pressão da mola e o desconfinamento é retirar essa pressão sobre a mola e sabemos qual é o resultado.
Portanto, eu tenho que ter algo que substitua esta pressão e o que nós achamos é aumentar a testagem massiva.
Se assim for, talvez salvemos o verão...
Sim, porque também vamos ter o impacto das vacinas. Por isso, a estratégia será: vamos manter o controlo na epidemia por forma a ganhar tempo até que o efeito das vacinas se comece a sentir.
Portanto, se conseguirmos uma vacinação significativa até inícios do verão e um controlo efetivo da incidência do conjunto de novos casos e com níveis baixos de letalidade e internamentos, poderemos ter um verão com cautela, provavelmente mais aliviado do que no ano passado, mas sempre com regras de distanciamento, de proteção da máscara em lugares fechados.
Portanto, é possível chegarmos ao verão mais aliviados, mas sempre do ponto de vista probabilístico. Pode acontecer ou pode não acontecer, ou seja, prognósticos só no final do jogo.