19 fev, 2021 - 00:00 • Beatriz Lopes , André Rodrigues (texto)
Veja também:
Os centros de saúde fizeram menos quase 11,5 milhões de consultas presenciais em 2020, uma quebra de 38% relativamente ao ano de 2019.
O número consta de um relatório da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e revela como a pandemia fez com que houvesse uma quebra significativa no número de consultas, cirurgias e diagnósticos médicos.
O documento indica, também, que houve uma quebra nos hospitais, com cerca de menos 3,5 milhões de contactos médicos, entre consultas, cirurgias e episódios em serviços de urgência.
São números que levam o bastonário da Ordem dos Médicos a pedir uma "resposta urgente" ao Governo.
Em declarações à Renascença, Miguel Guimarães defende que os médicos, sobretudo os de cuidados de saúde primários, têm de começar a ser libertados de algumas tarefas, como as chamadas telefónicas a doentes Covid-19 (trace Covid) para se dedicarem a outros doentes prioritários, “que estão identificados”.
“É preciso ter um plano para recuperação destes doentes. E é um plano que tem que envolver o Serviço Nacional de Saúde, que implica uma estratégia diferente daquilo que está a ser feito. O 'trace Covid', por exemplo, devia estar a ser feito por equipas independentes”, argumenta o bastonário da Ordem dos Médicos.
Miguel Guimarães defende, por outro lado, a utilização de recursos “do setor social e privado, se for necessário, para conseguirmos rapidamente estabilizar a situação e começar a recuperar todos os doentes que, neste momento, conseguirmos recuperar”.
O bastonário apela, ainda, aos doentes que não deixem de ir aos hospitais porque o risco de não tratar a doença é maior.
Covid-19
Números Movimento Saúde em Dia mostram o impacto d(...)
Miguel Guimarães diz-se preocupado com os diagnósticos cada vez mais tardios e com a diminuição do número de primeiras consultas.
“Se eu não tenho doentes a entrar nos hospitais, se não tenho doentes a fazerem exames complementares de diagnóstico e terapêutica, se eu não tenho doentes inscritos para cirurgias que precisam de fazer, obviamente que estes doentes não entram no sistema, não estão em lista de espera e são dificilmente recuperáveis. Há muitos doentes que não têm rosto nem nome”, remata.
O relatório divulgado pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares revela ainda que nos últimos dois anos houve uma queda abrupta no rastreio a doenças oncológicas.
E detalha: “a diminuição, em termos de mulheres que não fizeram o rastreio do cancro da mama superou os 169 mil; no caso do cancro do colo do útero, foram menos 140 mil mulheres a realizar o rastreio; no caso do cancro do colon e reto, foram menos 125 mil portugueses”.
Para Miguel Guimarães, as contas são simples de fazer: “se formos verificar o resultado dos rastreios por 1.000 pessoas rastreadas, há uma série de diagnósticos de novo que não foram feitos durante este ano, o que é preocupante”.
Projetando o futuro, o bastonário da Ordem dos Médicos antecipa um cenário pouco animador, admitindo que, além da crise económica, o país vai atravessar "uma crise dos doentes não Covid" com mais problemas no que toca à saúde mental, mais mortalidade e mais morbilidade.
“Temos que começar já a tentar que essa crise não seja tão grande, quer na mortalidade, quer na morbilidade (…) nós não sabemos quantos doentes com insuficiência cardíaca acabaram por falecer por não terem tido acesso a cuidados de saúde, ou quantos doentes com diabetes entraram em insuficiência renal, porque descompensaram”, conclui o bastonário da Ordem dos Médicos.
O presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga P(...)
Para Miguel Guimarães, as contas são simples de fazer: “se formos verificar o resultado dos rastreios por 1.000 pessoas rastreadas, há uma série de diagnósticos de novo que não foram feitos durante este ano, o que é preocupante”.
Projetando o futuro, o bastonário da Ordem dos Médicos antecipa um cenário pouco animador, admitindo que, além da crise económica, o país vai atravessar "uma crise dos doentes não Covid" com mais problemas no que toca à saúde mental, mais mortalidade e mais morbilidade.
“Temos que começar já a tentar que essa crise não seja tão grande, quer na mortalidade, quer na morbilidade (…) nós não sabemos quantos doentes com insuficiência cardíaca acabaram por falecer por não terem tido acesso a cuidados de saúde, ou quantos doentes com diabetes entraram em insuficiência renal, porque descompensaram”, conclui o bastonário da Ordem dos Médicos.