23 fev, 2021 - 07:44 • Liliana Monteiro
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O cientista Carlos Fiolhais lamenta a ausência de uma estratégia de combate à pandemia. Em declarações à Renascença, um dia depois de mais um encontro no Infarmed para acompanhar a situação epidemiológica no país, o professor da Universidade de Coimbra diz que falta reconhecimento científico em Portugal, numa altura em que todos os contributos são essenciais para responder ao desafio colocado pela Covid-19.
Às críticas do primeiro-ministro à comunidade científica, para um esforço de consensualização científica, Fiolhais responde que, “em Portugal, não foi criado nenhum mecanismo para pôr cientistas da mesma área e de várias áreas a criarem essas conclusões e, depois, o poder político democrático tem todo o direito de tomar as decisões que entender melhor, porque uma coisa é ciência, outra coisa a política”.
Na opinião do cientista e professor de Física da Universidade de Coimbra, Portugal não criou espaço para um conselho científico sólido e com trabalho orientado para a atacar esta ameaça global.
O que vemos, diz, é que “estas reuniões do Infarmed são reuniões de expediente em que há uma espécie de faz de conta que se ouve a ciência”.
Para Carlos Fiolhais, o caminho é distinto daquele que tem sido seguido: “não devemos fazer política sem ouvir a ciência e a maneira como a relação entre ciência e política em Portugal está longe de ser a mais perfeita: perante um caso sério como este, com mais de um ano, o que estamos a ver é vários porta-vozes da ciência, muito sábios, muito voluntaristas, mas não vemos a constituição de um conselho interdisciplinar, independente e que possa falar com a autoridade e a humildade própria da ciência. A ciência não é tudo, mas sem a ciência não nos salvamos”.
Carlos Fiolhais contesta, por outro lado, a cultura do “achismo lusitano, do ‘eu acho isto, eu acho aquilo’ e depois dizem que são os cientistas que não se entendem”.
“Era bom que nós tivéssemos mecanismos institucionais que ouvissem a ciência, quer no Governo, quer na Assembleia da República, quer na Presidência da República, para que cada um destes organismos tivesse aconselhamento permanente.”
A crise sanitária dura há quase um ano e, para este investigador, muito já se perdeu, embora reconheça que “que ainda vamos a tempo, porque esta crise está longe de estar terminada”.
No entanto, “era preciso uma coerência nisto era altura de estarmos unidos, era preciso procurar um melhor funcionamento institucional. O que se passou e está a passar em Portugal é gravíssimo: o desastre em número de infetados, em número de mortos, quase que diria que não há nenhum português que não conheça uma pessoa afetada”.
Na sua opinião, o caminho é interdisciplinar. Exemplo disso, diz, é que “tem havido pessoas da engenharia, da química, da matemática, da sociologia, da economia, da ciência política” envolvidas na busca das melhores soluções, “porque o conhecimento organizado tem vários ramos”.
O desafio é encontrar “a diferença entre o certo e o errado, nós procuramos acertar, por isso temos um método científico que se baseia na observação, na experiência, no raciocínio lógico, na validação por outros, no espírito crítico. A ciência faz este caminho que é um caminho que, apesar da pressa que tenhamos, exige algum tempo” e não deve ser esquecida ou mal aproveitada.
Apesar de reconhecer que “a ciência não sabe muita coisa”, Carlos Fiolhais reconhece nela “o poder de tornar a nossa vida mais segura. Não existe nenhuma vida que tenha risco zero, mas a ciência, conhecendo o mundo em que vivemos, permite que vivamos melhor nele”, conclui.
Para José Poças, especialista em Medicina Interna,(...)