01 mar, 2021 - 07:21 • Filomena Barros
“Senti-me sem chão e houve alguém que me disse que a Cáritas talvez me pudesse ajudar. De repente, não havia leite, não havia bens essenciais”, relata à Renascença Paula Araújo, de 53 anos.
As palavras, a conter a emoção, vão sendo acompanhadas pelo nervosismo das mãos. Paula vive com a filha, de 13 anos, e é uma das famílias monoparentais apoiadas pela Cáritas de Oeiras. Trabalhava num gabinete de contabilidade e o contrato acabava a 20 de março do ano passado. Não foi renovado por causa da pandemia.
Pouco tempo depois, começou a receber ajuda alimentar. “Todos os meses me ajudam com um cesto, com os vales para eu comprar os meus bens, basicamente agora é o meu apoio”.
Nesta altura, a Cáritas de Oeiras está a apoiar cerca de 50 famílias, com alimentação, mas também com o pagamento de contas.
“São poucas as famílias que não têm rendimento nenhum, mas com a pandemia e o facto de as pessoas estarem em casa, têm menos rendimentos, e há um mês que têm uma fatura maior e precisam de ser ajudadas”, explica a coordenadora Maria Dulce.
De acordo com os dados da Cáritas Diocesana de Lisboa, entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021, foram doados 735 mil euros para carências de vária ordem.
Na semana da Cáritas, o presidente desta instituiç(...)
Raquel Nascimento, de 36 anos, formada em gestão hoteleira, tinha um negócio de tuk-tuk que parou, há um ano, e tem estado a viver das poupanças. No mês passado, foi pedir ajuda. “Deram-me tickets de refeição para ir ao supermercado e pagaram-me duas contas, que foi um grande alívio, da luz e do gás”.
Raquel diz que foi “um balão de oxigénio”, mas ainda tem mais contas para pagar e a preocupação com a casa. “Agora, as moratórias vão ser levantadas e foi isso também que me fez vir aqui: eu comprei a casa há dois anos, farei tudo para não a perder, lutarei com todas as minhas forças, mas tenho medo de a perder”.
Raquel insiste no pedido de um emprego e assegura que envia muitos currículos e vai a entrevistas, mas a pandemia não tem ajudado a ter respostas.
Vanessa Rocha, de 30 anos, vive com o marido e os dois filhos, de 1 e 7 anos de idade. Há dois anos, trocaram o apartamento e compraram a “casa de sonho”, mas a pandemia impediu a conclusão das obras no exterior da vivenda, situada na aldeia de Manjoeira, freguesia de Santo Antão do Tojal, em Loures.
Vanessa deixou de poder trabalhar nas limpezas e, agora, é só o marido que vai tendo algum rendimento.
Há um ano que esta família recebe o cabaz, entregue sempre à sexta-feira, de três em três semanas. “É alimentação, arroz massa, legumes; no Natal tivemos produtos de higiene, este mês já recebi fraldas para o Vicente, bolachas, cereais, iogurtes, congelados, é um bocadinho de tudo”, explica.
A resposta social criada a pensar nos sem-abrigo d(...)
Esta é uma das 88 famílias que estão, nesta altura, a ser apoiadas pela Cáritas Interparoquial do Tojal, num total de 250 pessoas, número que duplicou em relação ao início da pandemia, em 2020.
Chegam os pedidos, mas também a ajuda de quem se preocupa. Maria Dulce conta que, em Oeiras, “as pessoas todos os dias passam por aqui e dizem ‘o que precisam’?”, e todos os dias nos vêm entregar bens.
A própria Cáritas Diocesana também nos tem ajudado com os tickets e com os donativos que lhes dão e que depois transferem para nós”. A Cáritas de Oeiras, criada em dezembro de 2019, está a funcionar na Igreja Matriz da vila. Numa das salas, estão arrumados os produtos que serão colocados nos cabazes.
À espera de dias melhores, Paula procura emprego e tem na filha “um grande apoio”. A Vanessa espera que tudo passe para criar um negócio com a cunhada e deixar de precisar de ajuda. Raquel lamenta: “sempre trabalhei, sempre estudei, com toda a humildade penso que tenho um bom currículo, e é triste chegar a um ponto em que uma pessoa não tem dinheiro para ir ao supermercado”.
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