11 mar, 2021 - 15:25 • Pedro Mesquita
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Uma centena de personalidades assinam uma carta aberta aos decisores políticos para a vacinação prioritária de pessoas com deficiência contra a Covid-19.
A missiva é subscrita por personalidades tão diferentes, como Rui Moreira, Pedro Santana Lopes, Bernardino Soares, António Martins da Cruz, Carolina Deslandes ou Pedro Abrunhosa.
A ideia desta carta aberta para a vacinação prioritária de pessoas com deficiência, nomeadamente paralisia cerebral ou autismo, partiu de três mães de jovens adultos com deficiência: uma de Lisboa, outra a viver a Norte e a terceira em Castelo Branco, Ana Camilo.
A missiva é dirigida ao Presidente da República, primeiro-ministro, ministra da Saúde e ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), sublinhando que estas “são patologias que têm, normalmente, comorbidades associadas. São pessoas, geralmente, imunodeprimidas”.
Ana Camilo explica à Renascença que na base deste pedido há “estudos científicos a concluir que “os sintomas, nestas pessoas, são muito mais graves, e o risco de hospitalização, em caso de infeção por Covid-19, é muito maior”.
“Sabemos, também, que o risco de mortalidade face às patologias associadas é muito maior. Há um estudo – enunciado nesta carta aberta - indicando que, no grupo etário que vai dos 18 aos 74, a taxa de letalidade é praticamente o dobro do que a verificada nessas mesmas idades por pessoas sem deficiência”, sublinha.
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No total da população portuguesa, a Direção-Geral (...)
Ana Camilo afirma, por outro lado, que é pedir muito aos pais, ou aos cuidadores, garantirem que as pessoas com este tipo de deficiência cumprem as regras sanitárias mais básicas para evitar a infeção.
“Podem, até, interiorizar as regras, mas não as conseguem cumprir. Não conseguem cumprir o distanciamento, quando saímos com eles à rua eles não têm a noção de que não podem mexer nas coisas, ou da necessidade de desinfeção permanente. Também o uso da máscara é, muitas vezes, difícil para estas pessoas com deficiência.”
Num outro plano, explica Ana Camilo, estes jovens e adultos deveriam ser também vacinados para poderem frequentar, de novo, os chamados CAO - Centros de Atividades Ocupacionais: “São pessoas que fazem aquisições, ao longo da vida, e que demoram meses, por vezes anos, a aprender algo que parece tão simples como é levar um copo à boca. Portanto, estando privados dessas atividades, que tem nas instituições, e das terapias diárias, correm o risco de se perderem essas aquisições, conseguidas ao longo de muito tempo, sem que as voltem a adquirir”.
Esta mãe de um jovem adulto com paralisia cerebral e autismo declara-se muito feliz pela adesão a esta iniciativa por parte de tantas personalidades, que têm voz ativa na sociedade em diversas áreas.
“Aceitaram o desafio, aceitaram ser a voz de quem não a tem e que, muitas vezes, sofre em silencio. Esperamos ter os frutos desta carta aberta. Ou seja, esperamos que este grupo de pessoas com deficiência seja incluído, muito rapidamente, no plano de vacinação prioritária, tal como aconteceu já na Alemanha, Reino Unido, Dinamarca, Noruega ou Suécia. Todos estes países consideraram prioritária a vacinação de jovens e adultos com deficiência, entre os 18 e os 54 anos de idade. É uma urgência que tem por base critérios científicos, mas também de natureza ética, de respeito pelas pessoas mais vulneráveis”, diz Ana Camilo em declarações à Renascença.