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Coronavírus

Desconfinamento já se nota nas estradas portuguesas

16 mar, 2021 - 18:29 • Pedro Mesquita , Filipe d'Avillez

Especialistas contactados pela Renascença mostram que as taxas de congestionamento já aumentaram e ainda que é inevitável que a taxa RT suba, mas que isso pode não ser dramático.

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O desconfinamento já se faz notar nas estradas portuguesas.

No segundo dia de abertura das escolas e de alguns serviços os dados mostram que há mais carros na estrada e as pessoas que ainda se deslocam para o trabalho estão a demorar mais a lá chegar.

A Renascença falou com o professor José Alberto Rio Fernandes – especialista em mobilidade e ex-presidente da Associação Portuguesa de Geografia – que explica como os índices do trânsito detetados pelo sistema de GPS, da TOM TOM revelam a diferença entre os dados relativos a segunda-feira dia 15 e a da semana anterior, antes do desconfinamento.

“Já existem alguns sinais de que os portugueses estão mais presentes nas estradas, e é interessante notar que na comparação entre as duas segundas-feiras, ontem e a semana passada, aquilo que se verifica é que o tempo que as pessoas levam a fazer os seus percursos está na ordem dos 15% ou 20% mais, enquanto que na semana anterior era entre os 12% e 15% mais”, explica.

Comparando o aumento de tráfego nas duas maiores cidades do país, a conclusão é que o índice de congestionamento cresceu mais no Porto do que em Lisboa. “Esta taxa de congestionamento é maior no Porto. As cidades que se seguem são Braga e Lisboa. Há aqui um elemento muito curioso, muito interessante, que é Funchal tem uma inversão. Funchal diminui o congestionamento, passa de uma taxa de 21 para uma taxa de 18. Agora, o que se nota é que em geral a taxa de congestionamento é maior nas grandes cidades, Lisboa e Porto, mas sobretudo no Porto, com 19 no Porto e 17 em Lisboa.”

Mais, se a comparação for feita com o mês de dezembro nota-se que na altura as taxas de congestionamento eram significativamente mais elevadas do que agora, como se conclui pelos dados avançados pelo professor José Alberto Rio Fernandes.

“Em dezembro as pessoas de facto estavam mais abertas ao andar cá fora, as taxas de congestionamento eram maiores. Sobretudo no Porto, o Porto estava com 32, muito mais do que os 19 de agora, enquanto por exemplo no Funchal estavam mais comedidas, mas no Porto e mesmo em Lisboa as taxas de congestionamento eram significativamente maiores.”

“As taxas estavam muito baixas em fevereiro, de facto a perceção que se tem é que de facto em janeiro, e sobretudo fevereiro, as pessoas confinaram mesmo”, conclui.

RT acima de 1 é inevitável, mas pode não ser preocupante

A vontade manifestada pelo Governo tem sido para um desconfinamento “a conta gotas”, com uma grande insistência no cumprimento das regras sanitárias, para evitar que o número de casos aumente.

O matemático Óscar Felgueiras, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explica que só por altura da Páscoa é que haverá dados concretos que permitam tirar conclusões.

O especialista – que tem colaborado regularmente com as autoridades de saúde – está moderadamente otimista de que a situação de dezembro não irá agora repetir-se.

“A maior diferença nesta altura face a dezembro é que estamos com uma incidência muito mais baixa, e isso, à partida, garante uma maior segurança nesta reabertura. Portanto estamos com menos casos e de momento ainda nos encontramos com uma situação de descida consistente de casos.”

“A RT está em 0.79 no continente e isso significa uma situação verde, segundo a matriz apresentada pelo Governo. A questão é que havendo uma reabertura vamos ter naturalmente um aumento de transmissibilidade. Esse aumento poderá não ser muito preocupante, se a incidência continuar baixa, mas é algo que se tem de acompanhar para ver qual, nestas primeiras semanas, será a consequência desta reabertura”, diz.

Óscar Felgueiras foi um dos especialistas a desaconselhar a reabertura das aulas, no imediato, para o primeiro ciclo, pois acredita que a taxa de transmissibilidade da Covid – que ronda agora os 0.79 – irá subir um pouco, mas sublinha que até 1 há alguma margem.

“Apesar de tudo creio que há aqui alguma margem, ou seja, tem havido de facto um aumento no RT, que chegou a estar em 0.61 em fevereiro, e igualmente o RT tem sido relativamente moderado. É natural que com a reabertura haja um aumento algo maior, mas tendo em conta todos os cuidados que provavelmente haverá pode ser que a situação fique mais ou menos controlada.”

“A proposta que foi feita pela equipa que integrei foi no sentido de por enquanto não abrir já o primeiro ciclo, precisamente para tentar que nesta primeira fase se conseguisse manter com mais segurança o RT abaixo de 1. Temos de aguardar para ver o impacto na prática e só perto da Páscoa vamos ver ao certo se estamos numa situação que continua estabilizada”, sublinha.

Ainda assim, segundo Óscar Felgueiras, se a taxa de RT ultrapassar 1 isso poderá não ser um fator de grande preocupação, sendo até inevitável que aconteça.

“É inevitável porque a certa altura os casos tenderão a estabilizar e basta uma pequena subida e isso é o suficiente para colocar o RT acima de 1, no entanto isso não é necessariamente preocupante. O que é que isso significa? Que provavelmente perante incidências muito baixas, numa média diária de 200 casos e de repente, em vez de 200 temos 210, isso pode causar uma perturbação.”

“Aquilo que vai ser mais difícil manter é o RT constantemente abaixo de 1, mais tarde ou mais cedo deixará de acontecer, mas se a incidência estiver baixa não será propriamente caso de preocupação", conclui o matemático.

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