23 mar, 2021 - 08:30 • João Carlos Malta com redação
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Na reunião da manhã desta terça-feira com especialista no Infarmed foi feito um balanço bastante positivo da evolução da pandemia em Portugal, dando conta de uma redução generalizada da taxa de incidência da doença no país, ainda que o R (taxa de transmissibilidade) esteja a aumentar e seja agora de 0,89.
Ainda assim, há dados positivos como um decréscimo da prevalência do vírus nas faixas etárias mais velhas, e por isso regista-se um decréscimo da letalidade. Há, no entanto, algumas ameaças a este cenário que os especialistas apontaram.
Uma das ameaças mais sérias é a das novas estirpes que já têm taxas de prevalência muito altas, nomeadamente a do Reino Unido. As estirpes são também mais mortais: dobram todas elas as probabilidades de morrer. A vacinação e o ritmo do processo foi um tema incontornável.
O Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente do parlamento e os partidos voltaram a reunir-se com epidemiologistas, por videoconferência, num momento em que o país regista menos casos de Covid-19 e iniciou há uma semana um processo de desconfinamento. Leia os momentos mais importantes das intervenções na reunião do Infarmed:
O especialista faz um retrato positivo da evolução da pandemia em Portugal. Em quase todos os indicadores os números são agora melhores. No entanto, André Peralta alerta que, para que o número de internados não cresça novamente, a vacinação tem de ir até às faixas etárias de 40-60 anos.
“Num cenário de grande incidência, como tivemos em janeiro e que se repercutiu nas hospitalizações em fevereiro, só a população de 40 a 60 anos é suficiente para ultrapassar o indicador de 245 camas em unidades de cuidados intensivos (UCI). Esta mensagem quer dizer que, para estarmos completamente seguros, a faixa etária a vacinar terá de ir até estas idades”, afirmou o diretor de Serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde, notando que o país está abaixo do indicador de 245 camas de UCI ocupadas.
Em relação à incidência da doença por grupos etários, os cidadãos com mais de 80 são agora os que representam menos situações de infeção. É um “sinal positivo” porque a redução é maior à medida que a idade aumenta e isso pode significar um “peso da doença” menor em termos populacionais.
O investigador evidencia que o grupo de maior incidência da doença é agora o dos 20 a 30 anos. As pessoas com mais de 80 anos têm agora menor prevalência da doença e o valor está a descer. O mesmo espcialista diz que há uma incidência menor nas faixas etárias mais velhas, o que reduz o peso da doença nos internamentos.
Baltazar Nunes avança ainda que o R (taxa de transmissão) está a crescer. Teve um mínimo de 0.61 e é atualmente de 0.89. O mesmo avança que ainda não é possível observar o impacto da abertura das creches neste indicador.
Todas as regiões estão com o R abaixo de 1, com exceção dos Açores. Na Madeira não é possível ainda calcular.
A mobilidade está a crescer em Portugal, e o confinamento é agora de 55%. O especialista deu ainda a situação na Europa como um fator de risco para a evolução da doença em Portugal.
Avançou que a testagem está a crescer em Portugal. Os testes de antigénio aumentaram consistentemente e os testes de PCR mantém o mesmo volume.
A notificação da testagem deve ser simplificada, defendeu Ricardo Mexia.
Investigador avança que os testes não se devem substituir uns aos outros. Ricardo Mexia diz que é necessário criar um sistema de notificação para informar de forma “ágil” da testagem, “seja por plataformas web ou aplicações”, e “tem de haver forte capacidade de resposta” aos casos positivos.
Recomenda-se que a taxa de positividade esteja abaixo dos 4%. Especialista revela que em março o valor global era de 1,2%.
Nas escolas foram feitos mais de 80 mil testes, com 0,1% de casos casos positivos detetados. Nos estabelecimentos prisionais, foram feitos mais de 14 mil testes, dos quais 7% são positivos. No Governo foram feitos quase 2 mil testes nos últimos 15 dias , com 25 positivos encontrados. Nos cuidados integrados integrados, foram feitos mais de 58 mil testes, com 2.652 positivos e nos lares mais de 150 mil testes com 2.627 positivos.
É recomendado que a taxa de positividade esteja abaixo dos 4% e em Portugal está abaixo dos 1,4%.
Revela que a variante britânica existe em mais de 80% dos casos no nosso país. Portugal está com um “crescimento bastante acelerado”, nesta variante.
Quanto à variante da África do Sul, registam-se apenas 24 casos, “um número modesto” – na Bélgica, por exemplo, já supera os 300. Este investigador evidencia a importância do controlo de fronteiras nesta altura, a nível do “historial de viagem” dos passageiros que chegam a Portugal de avião, para que a variante do Reino Unido não se espalhe tanto.
João Paulo Gomes alerta que a variante da África do Sul é aquela em que há mais casos de falhas nas vacinas.
Já em relação ao caso da estirpe de Manaus (Brasil), há 16 casos em Portugal. “ Está perfeitamente dentro da média dos restantes países”, avança, dando o exemplo de Itália que já supera os 160.
Recomenda ainda voltar a testar os positivos para vigiar variantes. “É o que a Dinamarca está a fazer. Estão a retestar todos os casos positivos.”
O presidente deste instituto afirma que há dois fatores que aumentam a letalidade da Covid-19 em Portugal: a idade e ser do sexo masculino. Atualmente, o risco é de 2% entre os casos de coronavírus detetados. Mas como o especialista calcula que haja três vezes mais casos de infeção dos que são reportados oficialmente, então essa taxa na realidade será de 0,7%.
O risco de morrer sobe para 20% nas pessoa com mais de 90 anos, estando em 12% entre os 80 e os 89 anos.
A região em que há menor risco de falecer com a doença é a Madeira, em que a taxa de mortalidade é metade da que se verifica no Norte do país. O risco de morrer, segundo Barros, foi maior no início da pandemia.
Já em relação às variantes, todas elas apresentam risco de mortalidade maior do que a média do indicador em Portugal. No caso da estirpe mais comum no Brasil, que não a de Manaus, a taxa de letalidade é mesmo de 15%. No Reino Unido essa taxa é de 4,1% e a de Espanha é de 5,6%.
O mesmo médico afirma que os novos casos serão entre os mais novos, devido à estrtégia que se desenhou para a vacinação. Em relação às escolas, e aos mais novos, não encontrou correlação entre mais crianças no agregado famiiar e mais casos de Covid-19.
Em relação às escolas, o mesmo Henrique Barros detalha que com os estabelecimentos de ensino abertos a infeção sobe e com as escolas fechadas sobe mas depois desce. “São as pessoas mais velhas que infetam primeiro”, diz o presidente do instituto.“as medidas de mitigação e proteção no âmbito escolar foram levadas muito a sério por isso os nosso resultados foram diferentes do que noutros países onde isso não aconteceu”.
Henrique Barros sublinha ainda que as crianças e os adolescentes têm um menor risco de infecção, e apesar de a evidência cientifica não ser forte, Barros aponta uma menor transmissibilidade da doença nos mais novos. "As pessoas mais velhas é que infetam primeiro", apontou.
Uma em cada cinco pessoas todos os dias, ou quase, sente-se agitada, ansiosa ou triste, alerta a investigadora, que apresenta as conclusões sobre as perceções sociais dos portugueses, de 6 de março a 19 de março.
A perceção sobre o estado de saúde mantém-se estável. Já o estado de saúde mental, em concreto - que pergunta se a pessoa se sente ansiosa e agitada - melhorou no verão e no Natal. Os quadros de saúde mental são piores entre as mulheres e os mais novos.
Carla Nunes considera que há uma melhoria nos comportamentos desde setembro. No entanto, nas últimas duas ou três quinzenas, verificou-se “ligeiro aumento de piores comportamentos”.
O uso de máscara fora de casa e com outras pessoas descreceu ligeiramente. A 19 de março eram 86%, mas um mês antes era de 91%.
São os mais jovens que adotam "piores comportamentos" em relação ao combate à pandemia.
Em relação às medidas de proteção da propagação da doença, o lavar as mãos foi considerada mais fácil, em relação a outros comportamentos como a manutenção dos dois metros, e a visita a familiares e amigos.
O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da Task Force para o Plano de Vacinação, avança que o ritmo de vacinação em Portugal será de 95 mil cacinas por dia, o que considera ser um valor bastante alto.
O responsável pela task-force diz que o ritmo de vacinação continua a não ter previsões de se alterar, e que a percentagem de 70% de vacinados no final do verão se mantém. O prazo pode inclusivé ser menor (começo do terceiro trimestre, ou seja início do verão) se a chegada das 14,9 milhões de vacinas se verificar no terceiro trimestre.
Até ao momento, entraram em território nacional 1,8 milhões de vacinas, sendo que destas 95 mil foram enviadas para as regiões autónomas. Até sábado foram ministradas 1,3 milhões de doses, sendo que a pausa na vacinação da Astrazeneca vai obrigar a aumentar o ritmo nos próximos dias, período em que vão ainda ser inoculados 80 mil professores e pessoal ligado às escolas.
Gouveia e Melo diz ainda que Portugal já tem 90% de cobertura da vacina contra a covid-19 em lares, e que o valor só não é maior por causa de alguns surtos que ocorreram. A população com mais de 80 anos também já tem uma taxa de cobertura de 83%, e as pessoas com mais de 50 anos com comorbilidades uma percentagem de 67%.
Na área da saúde (público e privado), o vice-almirante diz que se chegou aos 94% de vacinados e nos serviços essenciais 99%.
Após esta reunião, na quinta-feira, a Assembleia da República vai debater e votar o projeto de decreto presidencial para a renovação do estado de emergência por novo período de 15 dias, com efeitos a partir de 1 de abril e que abrangerá o período da Páscoa.
Apesar de a situação epidemiológica do país continuar a evoluir favoravelmente, em declarações aos jornalistas, o Presidente da República considerou muito provável que o quadro legal do estado de emergência se prolongue até maio, enquanto houver atividades encerradas.
O plano de desconfinamento do Governo prevê novas fases de reabertura em 5, 19 de abril e 3 de maio, mas as medidas podem ser revistas se Portugal ultrapassar os 120 novos casos de infeção pelo novo coronavírus por dia por 100 mil habitantes a 14 dias, ou, ainda, se o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 ultrapassar 1.
Ainda como medida cautelar, tendo em vista evitar um drástico aumento da mobilidade, a deslocação entre concelhos para a generalidade da população continua interdita no próximo fim de semana e na semana da Páscoa (26 de março a 5 de abril). E o dever de recolhimento domiciliário vigora até à Páscoa,
Apesar da redução progressiva do número de casos diários verificados em Portugal, o primeiro-ministro tem deixado sempre uma série de avisos, pedindo aos cidadãos para que não facilitem e que "o vírus continua a andar por aí".
Em Portugal, já morreram mais de 16 mil doentes com covid-19 e foram contabilizados até agora mais de 817 mil casos de infeção com o novo coronavírus que provoca esta doença, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).