26 mar, 2021 - 22:14 • Ana Carrilho
Neste fim de semana, Portugal muda a “hora de inverno” para a “hora de verão”. Isso quer dizer que na noite de sábado para domingo, à 1h00 da manhã devemos adiantar os relógios para as 2h00. Ou seja, dormimos menos uma hora.
Para a Associação Portuguesa do Sono, esse pode ser o menor dos males. O problema é mesmo a mudança da hora. A APS considera que essa prática tem impacto na saúde dos indivíduos, sejam crianças, jovens ou adultos. No imediato e a longo prazo. E defende que Portugal deve adotar a hora de inverno, a que está mais próxima da “hora solar”. Senão ainda ficamos mais desfasados.
A assunto “tem barbas” e todos os anos a conversa se repete. Sem efeitos práticos, ou quase nenhuns. No entanto, o Parlamento Europeu já aprovou a abolição da mudança da hora bianual. O mesmo fizeram diversas organizações internacionais. Por cá, a Associação Portuguesa do Sono frisa ainda que Portugal deve adotar o horário de inverno.
A dirigente e investigadora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, Ana Allen Gomes, explica que este é o que está “mais próximo do ciclo natural da oscilação luz/escuro. E como o nosso ritmo sono/vigília é acertado por esse ciclo, é importante que esteja em consonância com a hora solar”.
Ou muito próximo da hora solar. Ana Allen Gomes explica que a nossa hora padrão é aproximada, não exatamente a solar. E em circunstâncias normais – o horário padrão, de inverno – o nosso desfasamento já é cerca de 30 minutos.
Ou seja, “no inverno, quando olhamos para o relógio e são 8h00, na realidade a hora solar são 7h30. No verão, com a mudança horária, o desfasamento passa a ser de hora e meia. Pode ser muito agradável termos dia até mais tarde, mas também nos deitamos mais tarde. E como temos de levantar-nos cedo, fazemos menos horas de sono”.
No imediato, para além do tempo de adaptação ao novo horário (que nalguns casos nunca chega a ser feita), o cansaço é maior, o desempenho escolar ou profissional ressente-se, ocorrem mais acidentes de viação e há quem fique mais propenso a acidentes cardio ou cerebrovasculares.
A longo prazo, o impacto reflete-se na maior tendência para o aparecimento de problemas oncológicos, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, como a de Alzheimer e redução da imunidade.
Para a APS, é certo que a poupança energética – argumento usado para a mudança da hora – não tem revelado resultados suficientes para equilibrar os efeitos negativos do acréscimo anual de uma hora ao longo de pelo menos, sete meses do ano.
Por isso, a Associação defende a adoção permanente do horário de inverno por apresentar mais vantagens: a luz natural, ao início da manhã tem efeitos benéficos para o ritmo de sono-vigília; o desempenho escolar e profissional melhora, assim com o a saúde mental e física. Os riscos de acidentes são menores e as repercussões na economia são positivas.