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Ex-moradores contestam "negócio" do Monte da Bela no Porto e exigem regresso

27 mar, 2021 - 13:42 • Lusa

Dezenas de ex-moradores do Bairro São Vicente de Paulo, no Porto, contestaram hoje a intenção da autarquia de ceder o terreno a privados no âmbito do concurso para a construção de fogos de arrendamento acessível, exigindo regressar ao local.

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Dezenas de ex-moradores do Bairro São Vicente de Paulo, no Porto, contestaram hoje a intenção da autarquia de ceder o terreno a privados no âmbito do concurso para a construção de fogos de arrendamento acessível, exigindo regressar ao local. .

"Os moradores do [antigo] Bairro São Vicente de Paulo vão lutar até à morte. Isto é para ficar para os moradores", afirmou um dos moradores que participou na iniciativa convocada para o final da manhã. .

A Câmara do Porto aprovou na segunda-feira, com o voto contra da CDU e PS, a abertura do concurso público internacional para a urbanização e construção de 232 fogos de arrendamento acessível no Monte da Bela, onde se encontrava o antigo Bairro São Vicente de Paulo, demolido há cerca de 15 anos, durante o segundo mandato de Rui Rio. .

Para os moradores, esta proposta, que mereceu também críticas do PS, CDU e Bloco de Esquerda (BE), pretende favorecer "os ricos".

Mário Couto, um dos últimos moradores a abandonar o local aquando do início da demolição do bairro, em dezembro de 2007, condena o "negócio" que está a ser preparada pela autarquia liderada pelo independente Rui Moreira e lembra que aqueles terrenos foram doados para ajudar os mais pobres.

"Estes terrenos foram doados para bairros sociais, então isto tem de ser feito para bairros sociais, não é para pessoas com poder económico grande tenham vistas para o rio. Os pobres também têm direito de olhar para o rio", disse. .

Lembrando os tempos de infância, Maria José Barbosa, afiançou que é desejo de muitos ex-moradores voltarem ao antigo bairro, e avisou que irão lutar para que o regresso se concretize.

"Se vão ser feitas novamente, nós temos de ter prioridade a vir para aqui. O Dr. Rui Moreira tem de nos dar as nossas casas", defendeu, acrescentando que os ex-moradores não "ganham ordenados acessíveis" para se poderem candidatar ao arrendamento acessível, como é proposto para aquele local.

Implantado numa área superior a 23 mil metros quadrados, o projeto do Monte da Bela é constituído por 13 lotes, 12 dos quais destinados a habitação acessível, num total de 232 fogos, e um que acolherá uma esquadra da PSP. .

O valor do contrato, fixado em mais de 16 milhões de euros, corresponde ao custo das obras de urbanização e dos fogos a suportar pelo adjudicatário, sendo que este terá "como contrapartida" a cedência de 50% do terreno do Monte da Bela (avaliado em 4,4 milhões de euros) e os quatro lotes no Plano de Pormenor das Antas - PPA (avaliados em 11,6 milhões de euros).

Para Conceição Neiva, a haver construção de novos fogos, estes devem ser destinados à renda apoiada, permitindo que os ex-moradores possam regressar aquele local. .

"A casa para onde [no Bairro do Falcão] fui não tinha condições, a nossa casa estava impecável. Nós, aqui no bairro, éramos todos uma família", lamentou. .

A convite dos ex-moradores, a vereadora da CDU na Câmara do Porto Ilda Figueiredo e o deputado municipal Rui Sá também marcaram presença naquela iniciativa popular, tendo criticado mais uma vez "a negociata" em volta dos terrenos do Monte da Bela.

"Consideramos isto uma afronta aos antigos moradores do bairro, porque não só não querem construir para renda apoiada, como a câmara [...] quer que só metade deste terreno seja para rendas acessíveis, rendas acessíveis que não são acessíveis para os moradores, uma vez que atualmente ronda os 600, 700 euros", afirmou.

"O Dr. Rui Rio tinha um objetivo que era ir deixando ficar isto [ao abandono], exatamente como fez no Aleixo, que era um bairro que tinha boas vistas, para os ricos e, portanto, foi dificultantes a vida das pessoas que viviam aqui [...] o objetivo está aqui", acrescentou Rui Sá, referindo à intenção de parte daqueles terrenos a privados.

Na segunda-feira, durante a reunião do executivo e em resposta a questões colocadas pelos vereadores do PS e da CDU, o presidente da Câmara do Porto salientou que o "concurso só é possível se o Tribunal de Contas (TdC) o aprovar e isso dá todas as garantias".

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