28 mar, 2021 - 14:00 • André Rodrigues
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O dia começou cedo para Vera, professora do primeiro ciclo na escola da Torrinha, no Porto, tal como acontece durante a semana. Mas este domingo, por razões diferentes.
O relógio marcava 08h30 quando esta docente cruzou a porta do Centro de Vacinação Covid-19 (CVC) improvisado na Escola Básica do Sol, na zona da Sé do Porto.
Vera reconhece que, antes de lhe ser administrada a vacina, sentiu “alguma ansiedade”, mas “é o que tem de ser”.
“Também já ouvi relatos de pessoas que tiveram sintomas adversos com outras vacinas, por isso penso que temos de acreditar”, disse à Renascença já fora do CVC, depois de uma longa troca de impressões com colegas que aguardavam para ser chamados.
“Estive aqui uma hora”, conta esta docente que elogia “a boa organização” por parte dos profissionais.
Sentimento que é partilhado por Ana Cristina, assistente operacional que lamenta que a vacina não esteja acessível a toda população nesta fase.
“Se calhar, há pessoas que precisam da vacina tanto como eu”, diz, ao mesmo tempo que reconhece que, “pelo facto de lidar com professores, com as crianças e com familiares, estar vacinada dá muito mais confiança”.
Dentro do CVC, as setas no chão definem os circuitos de circulação.
Nas salas de espera, há professores e não docentes ansiosos pela tal dose de esperança.
A enfermeira Sónia Almeida está na parte logística deste CVC e reconhece que há utentes que sentem receio.
“Temos mais pessoas que querem ser vacinadas do que recusas, mas há quem chegue aqui com ansiedade e receio de ser vacinada, porque têm medo de ter um AVC, ou, então, porque têm antecedentes de problemas cardíacos ou que fazem medicação anticoagulante… esses, sim, têm receio”, conta.
É aqui que entra o papel pedagógico dos profissionais de saúde, tanto médicos como enfermeiros e, “às vezes, basta conversar um pouco com estas pessoas, explicar-lhes que o risco, apesar de existir, é muito reduzido” e, na maior parte dos casos, as pessoas entendem e acabam por tomar.
Os mais relutantes não aceitam e “há utentes que nos pedem encarecidamente que lhes demos a vacina da Pfizer, mas não podemos… temos de seguir as regras da DGS”, admite.
Da experiência que tem, Sónia Almeida reporta muito poucas reações adversas e todas sem gravidade: “tivemos recentemente uma pessoa que ficou com rubor na pele, minutos depois de ter tomado a vacina, que reverteu passado pouco tempo com medicação… foi a situação mais complicada, se assim lhe posso chamar, que tivemos”.
Ao longo do fim de semana, passaram por este CVC professores e pessoal não docente das escolas do concelho do Porto.
Este domingo “tínhamos 124 pessoas agendadas”, diz a enfermeira Sónia Almeida. Ninguém faltou à chamada.
A garantia foi deixada pelo líder da task-force, G(...)
Ao contrário do que acontece com a população idosa, Carla Ferraz, diretora do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) do Porto Ocidental, admite que há menos resistência à toma da vacina entre o pessoal das escolas, “porque são mais jovens, têm menos comorbilidades e uma melhor literacia para a saúde”.
“Quando eles chegam, nós explicamos-lhes o processo e, normalmente, não têm grandes dúvidas, entendem tudo bem logo à primeira”, diz.
Já no caso dos idosos, “nem sempre é fácil: são pessoas com menos conhecimentos, com problemas de saúde associados” e, também, mais desconfiados.
Carla Ferraz conta que o receio de tomar uma vacina correndo o risco de sofrer efeitos indesejados torna o agendamento mais demorado a nível administrativo.
“O agendamento de uma vacina demora três minutos, mas com as dúvidas das pessoas, sobretudo as mais idosas, pode demorar 15 minutos ou até mais… e, às vezes, a vacina não é agendada no momento, temos de ligar mais tarde, porque a pessoa quer falar com o seu médico”, revela a diretora do ACeS Porto Ocidental.
Por outro lado, Carla Ferraz, também ela enfermeira de formação, admite o cansaço dos colegas que, em alguns casos, estão a trabalhar “nos sete dias da semana” para responder à urgência de vacinar mais e mais depressa.
Desde o início da campanha de imunização, a 27 de dezembro de 2020, só no AcES Porto Ocidental, já foram vacinadas mais de 19 mil pessoas.