05 abr, 2021 - 18:59 • Henrique Cunha , Sérgio Costa , André Rodrigues
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O virologista Pedro Simas considera que o facto de o Índice de Transmissibilidade da Covid-19, também conhecido como R(t), estar em 1 em Portugal Continental "não é um fator acrescido de preocupação", se os internamentos não aumentarem de forma substancial.
Em declarações à Renascença, o investigador principal do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa defende, até, que "numa altura em que estamos praticamente a acabar a primeira fase do Plano Nacional de Vacinação [contra a Covid-19], os internamentos acabam por ser o fator epidemiológico mais importante de todos".
"É natural que à medida que nós vamos vacinando vamos podendo ter mais infeção comunitária sem que isso se traduza num problema de saúde pública", sublinha.
De acordo com o relatório de situação divulgado esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o R(t) no continente está em 1, mas a incidência do vírus está em torno dos 60 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.
"Não é um fator acrescido de preocupação, face aos números que Portugal tem vindo a registar nas últimas semanas", clarifica Pedro Simas que entende que, apesar do indicador apontar para o aumento da disseminação do vírus, o país está em condições de tolerar "valores mais altos, desde que não afetem os grupos de risco".
Por outro lado, este especialista afirma que o número de novas infeções por dia também está dentro de parâmetros seguros e considera natural que, "à medida que vamos vacinando, vamos também podendo ter mais infeção comunitária sem que isso se traduza num problema de saúde publica".
Nesta fase, "os números não são preocupantes; são dos mais baixos da Europa", diz Pedro Simas.
Aliás, nas contas do especialista, Portugal tem quatro novas infeções por 100 mil habitantes por dia. São "parâmetros muito baixos e muito bons", assinala.
Lançando um olhar para os efeitos que a vacinação está a ter em países onde o processo está mais adiantado, Pedro Simas perspetiva a possibilidade de em maio Portugal conseguir "tolerar uma transmissão comunitária mais alta e até um número de infeções por dia mais alto sem haver hospitalização e sem haver morte" porque, através da vacinação, "os grupos de risco já estão protegidos e era esse o nosso principal objetivo".
O índice de transmissibilidade ou fator R(t) é uma estimativa de contágio que ajuda a determinar quantas pessoas podem ser infetadas pelo novo coronavírus depois de terem estado em contacto com uma pessoa positiva para a Covid-19.
Através desta variável, torna-se possível projetar e antecipar os efeitos da dinâmica da crise sanitária.
Com o R(t) de Portugal Continental igual a 1, isso significa que, no território continental, a transmissão da doença atingiu um nível constante: cada pessoa infetada pode, potencialmente, infetar outra.
Se o número for superior a 1 a epidemia está a crescer; se o número for inferior a 1, então a epidemia está a atenuar.
Contudo, a incidência de casos continua a recuar e isso não significa, necessariamente, que estejamos perante uma contradição: no semáforo da pandemia, Portugal continua nos tons verdes, uma vez que a incidência está nos 60,9 casos por 100 mil habitantes.
Só que, segundo os dados divulgados esta segunda-feira pela DGS, o R(t) nacional situa-se nos 0,98, o que significa que, no todo nacional, 100 casos de Covid-19 darão, potencialmente, origem a 98 novas infeções.
Ou seja, a redução de novos casos de Covid-19 é cada vez menos acentuada e há 26 concelhos com uma taxa de incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes, o limite nacional definido pelo Governo, que implicaria a retoma de "medidas cautelares para impedir que a situação da pandemia se degrade".