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Manuel Carmo Gomes

Desconfinamento. Devemos ter “espírito aberto para a possibilidade de fazermos nova pausa”

06 abr, 2021 - 09:58 • Miguel Coelho , Pedro Filipe Silva , Marta Grosso

O conselho é do epidemiologista Carmo Gomes que, em declarações à Renascença, defende que as diferentes fases de desconfinamento deviam estar separadas por três (e não duas) semanas.

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Portugal entrou, no dia 5 de abril, na segunda fase de desconfinamento do plano anunciado no dia 11 de março e há já sete concelhos com uma elevada taxa de incidência de casos de Covid-19. À Renascença, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes diz que é preciso estarmos preparados para suspender o plano e voltar a fechar.

“É importante que nós todos – portugueses, decisores, etc – tenhamos um calendário, mas também é importante que estejamos de espírito aberto para a possibilidade de termos de fazer uma pausa”, afirma.

“E a pausa pode ser em grandes regiões, no país todo ou ao nível municipal, para podermos ter uma avaliação melhor dos dados, das consequências do último passo que demos. E se virmos que as consequências estão a sair um bocadinho fora do controlo que gostaríamos de ter, então temos de ter a coragem de pausar, se for preciso, duas/três semanas”, defende.

Nos concelhos do Alandroal, do Carregal do Sal, de Moura, Odemira, Portimão, Ribeira de Pena e Rio Maior a taxa de incidência supera os 240 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes.

Muitos destes municípios têm pouca população, pelo que não é preciso muito para o nível de incidência subir. Mas Carmo Gomes alerta que os números podem voltar a subir, pelo que é necessária prudência na velocidade a que avança o desconfinamento.

“Temos ainda uma quantidade de população que pode contrair a infeção muito grande, porque não está vacinada, porque não foi infetada no passado, e é suficientemente grande para termos um ressurgimento significativo da doença. Não podemos esquecer isso”, sublinha.

“Não queremos estragar tudo, temos de ter esta abertura de espírito para, até dia 19, se necessário, tomar decisões que não são de fazer o calendário que está previsto cegamente sem ter em atenção a situação em que vivemos nessa altura”, reforça.

Para já, contudo, a situação está controlada, defende o epidemiologista. A própria subida do índice de transmissibilidade – o Rt, que está em 1 em Portugal continental – é tolerável, se o número de casos não subir muito.

“Nós conseguimos conduzir o barco com um Rt superior a 1, desde que não seja muito superior a 1, a partir do momento em que acompanhemos os outros indicadores. A ideia principal é não deixar a incidência subir muito e, no tal documento das linhas vermelhas, era indicado qual é o tempo de que nós dispomos para atingir a linha vermelha dos 240/100 mil [habitantes], que nós não queremos atingir, para diferentes combinações de Rt maior do que 1 e de incidência”, afirma.


Mas, na opinião de Manuel Carmo Gomes, as diferentes fases de desconfinamento deviam estar separadas por três semanas “para podermos fazer uma melhor avaliação da situação”.

“Nós agora estamos a abrir e só daqui a 15 dias é que conseguiremos ver bem as consequências da abertura que estamos a ter agora. E isto preocupa-me, porque daqui a 15 dias já estamos em cima do 19 de abril”, diz, considerando que a situação que estivermos a viver “em meados de abril, por volta de 15/16, vai ser decisivo para o que vai acontecer nesta Primavera”.

Nesta terça-feira, o primeiro-ministro reúne-se por videoconferência com os autarcas dos sete concelhos mais afetados por novos casos de Covid-19 para analisar eventuais novas medidas.

António Costa avisou, desde o início, que este desconfinamento iria ser a conta-gotas e com possíveis recuos, mais ou menos localizados. Isto, para evitar que a nova vaga que atinge vários países europeus – incluindo a vizinha Espanha – atinja também Portugal.

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