06 abr, 2021 - 19:34 • Henrique Cunha , Filipe d'Avillez com Lusa
Com o aproximar da próxima fase de desconfinamento, dentro de menos de duas semanas, são já alguns os municípios que admitem que as suas populações vão ter de esperar mais tempo.
Em declarações à Renascença, o autarca do município de Moura admite “a manter-se a visão do Governo” sobre processo de desconfinamento, “dentro de quinze dias”, o concelho vai “ficar numa fase diferente da dos outros municípios”.
Álvaro Azedo receia que “face à Páscoa, ao regresso das aulas, face ao desconfinamento possa haver uma evolução em relação aos casos positivos”, no concelho.
O autarca afirma que “os municípios com menos população são prejudicados com a atual forma de cálculo da incidência de casos da Covid-19”, e apela ao Governo para que “altere os parâmetros do desconfinamento”.
A incidência acima de 240 casos por 100 mil habitantes é uma das “linhas vermelhas” definidas pelo Governo que pode travar o processo de desconfinamento e ainda esta terça-feira o primeiro-ministro reuniu-se precisamente com os autarcas dos concelhos onde a incidência de casos está próxima dessa linha.
No final, António Costa anunciou “testagem massiva” e fiscalização nas zonas mais críticas.
O Presidente da Câmara de Moura quer “a fiscalização mais visível nas ruas, mais visível no acompanhamento dos estabelecimentos porque não posso aceitar que haja empresários que façam um esforço tremendo para ultrapassar esta fase difícil e estejam a cumprir todas as regras e que outros de facto não tenham essa atitude”.
“Eu não posso aceitar que haja na minha comunidade mourense que façam um esforço por cumprir todas as regras e haja outros não tenham a mesma postura. No ponto em que nós estamos, todos têm de perceber que estamos no mesmo barco e esta é a hora da responsabilidade total quer dos municípios, quer dos seus munícipes, e quer de todas as instituições”, diz.
Ainda no Alentejo, o presidente da Câmara de Odemira, distrito de Beja, José Alberto Guerreiro, realça a dificuldade em controlar os casos de Covid-19 nos trabalhadores migrantes e admitiu uma cerca sanitária no concelho se os números não diminuírem.
“As situações de risco em algumas atividades são bastantes, não só no domínio do comércio e serviços, mas também pela reabertura das escolas e porque a atividade agrícola tem aqui uma expressão muito forte, com muitos migrantes, alguns quase residentes e ambientados às regras, mas outros nem tanto”, frisou.
O autarca que falava à agência Lusa após a reunião, por videoconferência, com o primeiro-ministro, António Costa, considerou que os casos de Covid-19 entre a população local, a maioria de famílias que estão isoladas, “tendem a reduzir porque são situações controladas”.
Quanto à população migrante, já não tem “as mesmas certezas” porque já foram “detetados casos de indivíduos que deveriam estar em casa, por orientação da Saúde [Pública], mas continuavam a ir trabalhar”.
“Não temos a intenção de esconder esta realidade, antes pelo contrário. Queremos pôr a nu o mais rápido possível para quebrar as cadeias de contágio, atuar de forma ativa e ter, no futuro, uma situação mais tranquila”, afirmou.
Por isso, defendeu na reunião com António Costa e os restantes seis concelhos que registam mais de 240 casos de Covid-19 por cem mil habitantes nos últimos 14 dias (Alandroal, Carregal do Sal, Moura, Portimão, Ribeira de Pena e Rio Maior) que Odemira “não deve ser penalizado naquilo que diz respeito às restantes atividades”.
A população migrante “conta como infetado” quando detetados neste território, mas “não contam como cidadãos residentes” quando é calculado o rácio de 120 infetados por cada 100 mil habitantes, criticou.
Caso o número de infeções pelo vírus SARS-CoV-2 não diminua, o autarca admite a possibilidade de aplicar uma cerca sanitária no concelho “por uma questão de consciência cívica”.
“Se não formos capazes de conter esta pandemia de forma voluntária, em que todos possam contribuir para que os números desçam, não vejo alternativa. Neste momento, vemos uma preocupação grande de alguns, que temem que a sua vida possa ficar condicionada, e um relaxamento de outros”, condenou.
Apesar de preocupado com a atual situação, José Alberto Guerreiro mostrou-se satisfeito com o reforço da fiscalização e das inspeções às condições sanitárias de habitações temporárias de obras ou colheitas, anunciado no final da reunião pelo chefe do Governo.
“Nesta reunião, a generalidade dos autarcas defendeu ainda o uso obrigatório de máscara na via pública ou em lugares públicos em todos os concelhos onde se ultrapassem os valores dos 120 por cada 100 mil habitantes. Isto é essencial, não há razão para exceções e as coimas devem ser aplicadas”, reforçou.
De acordo com a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA) até à próxima sexta-feira, em Odemira, vão ser realizados cinco mil testes aos trabalhadores agrícolas, nacionais e migrantes, das empresas associadas da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores, e Lusomorango.
Além da testagem destes trabalhadores, o município anunciou que, ainda esta semana, será instalado um centro de testagem fixo em Odemira, onde a população poderá deslocar-se para realizar, de forma gratuita, o teste à Covid-19.
O autarca de Rio Maior, Filipe Santana Dias, lamenta que o seu conselho esteja na mesma situação e culpa os “comportamentos desviantes” de parte dos habitantes.
“Temos uma minoria de jovens que insiste em ter um comportamento desviante, e por isso quero dizer aglomerar na rua, consumo de álcool e viver como se nada se passasse”, disse.
Outro problema, explica o autarca, prende-se com a dimensão do território rural a controlar.
“Somos um concelho que temos uma parte urbana, mas que temos também uma área rural bastante grande. Portanto é muito difícil controlar o cafezinho da aldeia e o minimercado, porque o território é vasto”, conclui Filipe Santana Dias.