11 abr, 2021 - 10:16 • Lusa
A especialista em psiquiatria do idoso Lia Fernandes diz que as aulas "online" nas universidades seniores são um bom escape ao confinamento provocado pelo agravamento da pandemia de covid-19, mas sublinha que o "contacto social fica amputado".
"Não há contacto humano, afetivo, emocional. Mas, apesar de todas as limitações, as aulas "online" são um bom escape, sobretudo em confinamento", esclarece Lia Fernandes, em declarações à agência Lusa.
Na universidade sénior de Campolide, em Lisboa, todas as aulas práticas tiveram de ser suspensas, mantendo-se em regime "online" as restantes disciplinas, como o clube de leitura, expressão dramática, canto, psicodrama, inteligência emocional e escrita criativa.
O número de alunos inscritos desceu de 80 para 14 devido às aptidões e condições dos alunos em casa, mas também porque "o que os fazia participar nas aulas era saírem de casa e ir até à Junta [de Freguesia], o convívio entre todos", explica Inês Brito, uma das coordenadoras da universidade.
Foi o medo de parar depois da reforma que levou Dina Patrícia a inscrever-se nesta universidade em 2015, e ter obtido um "número muito grande de relacionamentos" no decorrer do processo, incluindo com professores, faz com que agradeça ter dado de caras com a instituição.
A vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses Renata Benavente revela que "o contexto laboral é uma das áreas das nossas vidas que nos permitem a socialização e o estabelecimento de redes com os nossos pares, sendo a universidade sénior uma boa opção para quem está perdido na pós-reforma porque as pessoas acabam por construir relações de amizade e encontrar-se fora dela".
Dina, de 67 anos, confirma que a transição do regime presencial para o ensino à distância "foi um desafio" porque as pessoas não estavam habituadas e o convívio não é o mesmo, mas acrescenta que foi ótimo ver que "tudo se pode fazer de outras maneiras".
"As aulas ["online"] têm ajudado muita gente porque quebram a monotonia para quem não tem mais nada e fazem companhia. Há pessoas que não têm um telefonema, família... Já ouvi uma pessoa dizer que 10 a 15 minutos antes das aulas ficava muito mais contente porque sabia que nos íamos juntar", frisa.
A aluna diz que não se tem ressentido da mudança porque tem muitas atividades e conversa com muita gente, mas reconhece que não sabe "como é que algumas pessoas estariam se não tivessem esta convivência".
Quem trabalha na universidade tem noção dos desafios trazidos pelo ensino à distância e tenta arranjar soluções.
Inês Brito conta que os professores falam muito das queixas dos alunos, para os quais "o confinamento foi uma situação muito negativa por estarem longe das famílias e amigos".
Por essa razão, "grande parte do tempo de algumas aulas foi para eles [alunos] desabafarem uns com os outros", o que, acredita, pode ajudá-los "a gerirem melhor esta situação, colmatando às vezes a ausência física".