22 abr, 2021 - 14:13 • Beatriz Lopes
Veja também:
Portugal tem vindo a assistir a uma estabilização da pandemia, mas os portugueses não podem respirar de alívio, para já. O aviso é de Carlos Antunes, matemático e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em entrevista à Renascença, o especialista alerta que "só no final desta semana é que poderão ser retiradas conclusões definitivas sobre a segunda fase de desconfinamento", nomeadamente sobre o regresso às aulas presenciais dos alunos do 2º e 3º ciclos e que, "provavelmente, só daqui a três semanas” é que se saberá o impacto da atual terceira fase de desconfinamento.
No entanto, há indicadores novos que devem desde já servir de alerta: a incidência em idades mais jovens começou a subir "já no pós-Páscoa".
"Há indicadores globais que nos indicam que estamos numa estabilização da incidência e há outros que nos indicam que há um início de um aumento. Verificamos que as faixas etárias dos 10 aos 49 anos estão com taxas de incidência crescentes, destacando-se a faixa dos 10 aos 19 anos, com taxas de 4,2% de aumento. Se olharmos para grupos etários específicos, associados ao ensino, dos 13 aos 17 anos há já uma elevada taxa de 4,6% e o grupo dos 18 aos 24 é o grupo com maior taxa de incidência. Em particular nestes dois últimos grupos, o aumento verifica-se pós-Páscoa", avisa.
Covid-19
Maior disponibilidade de doses levou a Direção-Ger(...)
Em sentido inverso, as pessoas acima dos 80 anos são agora o único grupo etário onde a taxa de incidência continua a descer de semana para semana. À Renascença, Carlos Antunes explica que é também nesta faixa etária que a redução de casos, de internamentos e da letalidade é mais acentuada, o que vem comprovar que o impacto da vacinação já está a ser sentido entre os mais vulneráveis à Covid-19.
"Há indicadores nomeadamente a redução da taxa de letalidade nos mais de 80 - e os internamentos também o indicam - que a vacinação está já a ter impacto e, à medida que vamos aumentando o ritmo da vacinação, isso vai sendo cada vez mais evidente. Outro indicador é a taxa de incidência. Esta é a única faixa etária que continua a descer de semana para semana. Estamos agora com uma taxa de incidência a 14 dias de 32 casos por 100 mil habitantes, quando, por exemplo, a 29 de janeiro, os mais de 80 eram o grupo que tinha maior taxa de incidência, tinha 2.036 casos por 100 mil habitantes".
Já do ponto de vista hospitalar, o especialista que colabora com a Direção-Geral da Saúde (DGS) considera que Portugal está a passar por “uma situação boa” porque não tem registado um aumento de internamentos, o que “reforça a necessidade de desconfinar”.
No entanto, Carlos Antunes não deixa de sublinhar que a maior parte do país já estabilizou a descida de internamentos.
“A região Norte, a região Centro e o Alentejo estabilizaram, os internamentos e os cuidados intensivos já não estão a descer. A única região que está a diminuir é a de Lisboa e Vale do Tejo e, no caso do Algarve, por causa daquele ressurgimento de casos, houve um aumento de internamentos e cuidados intensivos.”
Com a terceira fase do plano de desconfinamento em marcha, com a reabertura total das escolas e com um ritmo de vacinação ainda lento, têm sido vários os especialistas a alertar de que Portugal pode vir a enfrentar uma nova vaga, mas a questão mantém-se: quando é que a quarta vaga vai chegar ao país?
Graça Freitas indicou, em conferência de imprensa,(...)
No início de abril, as projeções de Carlos Antunes apontavam para um surgimento de uma quarta vaga no final do mês, mas agora o matemático diz-se “mais otimista” e fala apenas na possibilidade de uma “onda epidémica”, prevista para meados ou finais de maio.
"Há vários fatores que estão a compensar o desconfinamento e a evitar que a incidência aumente. Nesta altura temos uma testagem massiva e houve uma alteração de uma norma que fez com que passássemos a testar não só os contactos de alto risco do infetado, mas todos os contactos. Agora estamos a conseguir fazer 40 mil testes por semana, estamos a fazer testes na ordem dos 70 a 80 testes por cada infetado, o que nos leva a uma taxa de positividade abaixo de 1,5%. Além disso, mais de 90% dos casos estão a ser notificados pelas autoridades de saúde em menos de 24h00."
E apesar dos bons indicadores no que toca às medidas de saúde pública adotadas, este especialista sublinha que daqui para a frente tudo vai depender não só "do ritmo de vacinação", mas também "da chegada de novas variantes, para além da inglesa", que poderão surgir com a reabertura de fronteiras, prevista para maio.
Carlos Antunes entende que, como o país já tem os critérios definidos, "se Portugal voltar a ultrapassar os 240 casos por 100 mil habitantes, deverá voltar a adotar algumas medidas como o recolhimento obrigatório, a proibição de circulação entre concelhos aos fins de semana e a restauração volta a poder servir apenas em esplanadas".
Nestas condições, Portugal poderá atingir um máximo de dois mil casos diários, "mas longe de causar uma situação de stress" nos hospitais, conclui.