22 abr, 2021 - 18:00 • Lusa
Veja também:
Depois de mais de 120 dias com escassez de vacinas, o plano de imunização da covid-19 passa à fase seguinte de "abundância" em que a rapidez e o agendamento da vacinação são os principais desafios.
Considerada como a principal "arma" para superar a pandemia, a vacinação contra o vírus SARS-CoV-2 tem enfrentado contratempos em Portugal e na Europa pela falta de vacinas, mas também pelas dúvidas de segurança dos fármacos da AstraZeneca e, mais recentemente, da Janssen (grupo Johnson & Johnson).
Depois de as autoridades europeias e nacionais terem garantido que os benefícios destas duas vacinas superam os riscos, apesar de identificada a relação com casos muito raros de coágulos sanguíneos em pessoas que as tomaram, o objetivo é agora a vacinação em massa dos portugueses.
Para isso, Portugal vai passar da fase 1, que se iniciou a 27 de dezembro de 2020 e que teve o grande objetivo de vacinar as pessoas mais vulneráveis e os serviços essenciais do Estado, para a fase 2, que tem a meta de administrar uma média de 100 mil doses por dia.
Para o cumprimento deste objetivo, o grande desafio da task force que coordena no terreno este plano é o agendamento diário de cerca de 1% da população portuguesa e a consequente fluidez da vacinação.
Mais de dois milhões de pessoas já receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19, o que equivale a 20% da população portuguesa, enquanto cerca de 700 mil, que representam 7% dos portugueses, já têm a vacinação completa contra a doença.
Por grupos etários, 91% dos idosos com mais de 80 anos (617.566 pessoas) já estão vacinados com a primeira dose e 58% (394.186) já receberam as duas doses da vacina.
Na faixa etária entre os 65 e os 79 anos, 42% (669.263) também receberam a primeira toma do fármaco, uma percentagem que desce para apenas 4% (59.658) no que se refere às duas doses.
Do grupo de pessoas entre os 50 e os 64 anos, 16% (355.519) tomaram a primeira dose e 4% (84.810) têm a vacinação completa contra a covid-19, enquanto na faixa etária dos 25 a 49 anos 10% (345.865) já receberam a primeira toma e 4% (138.923) estão totalmente vacinados contra o novo coronavírus.
Desde o início da vacinação, Portugal recebeu quase três milhões de vacinas, tendo sido distribuídas pelos postos de vacinação do país mais de 2,6 milhões de doses.
Atualmente, o stock destes fármacos no país é a reserva necessária para garantir as segundas doses mais imediatas.
A fase 2, que vai decorrer ao longo dos próximos meses, define duas estratégias distintas: a vacinação por idade decrescente até aos 16 anos, assim como das pessoas com 16 ou mais anos que tenham doenças com risco grave ou de morte por covid-19.
Entre as patologias incluídas nesta nova fase estão a diabetes, a obesidade grave, a doença oncológica ativa e as doenças mentais, assim como as pessoas transplantadas, com imunossupressão e doenças neurológicas graves (neuromusculares).
Grande parte das doenças associadas a maior risco de internamento e morte por covid-19 têm também um padrão etário - são tanto mais frequentes quanto maior for a idade -, como é o caso da diabetes tipo 2 e da hipertensão arterial.
Nesse sentido, uma vacinação por faixas etárias decrescentes permite também a vacinar as pessoas com grande parte das doenças identificadas inicialmente para a fase 2 do plano de vacinação.
As pessoas que recuperaram de infeção pelo vírus SARS-CoV-2 há pelo menos seis meses podem ser vacinadas, de acordo com o grupo prioritário ou a faixa etária a que pertencem, mas receberão apenas uma dose de vacina, tendo em conta que, por já terem tido a doença, têm uma imunidade natural considerada boa.
As pessoas com sintomas de covid-19, que estejam infetadas ou em isolamento profilático não devem ser vacinadas, nem se dirigir aos pontos de vacinação.
No ato da vacinação, o profissional de saúde tem a obrigação de esclarecer previamente sobre a vacina que vai ser administrada, explicando os benefícios da vacinação e as potenciais reações adversas.
O plano de vacinação português inclui as quatro vacinas que já têm a autorização do regulador europeu (EMA): a Comirnaty da farmacêutica Pfizer, a Moderna, a Janssen do grupo Johnson & Johnson e a Vaxzevria, anteriormente designada de AstraZeneca.
As vacinas da Pfizer, Moderna e AstraZeneca obrigam à toma de duas doses, enquanto a da Janssen, a mais recente a chegar a Portugal, é administrada numa única dose.
Na quarta-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, disse que não há qualquer restrição à utilização da vacina da Janssen e que as autoridades nacionais seguirão as recomendações da EMA.
Todas as vacinas contra a covid-19 são disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Saúde.
A vacinação contra a covid-19 é voluntária.
Portugal assegurou, no âmbito dos contratos da Comissão Europeia com as farmacêuticas, cerca de 35 milhões de doses de vacinas, suficientes para vacinar todos os residentes no país.
Para este novo impulso na vacinação, Portugal deve receber neste segundo trimestre perto de nove milhões de vacinas, distribuídas por 4.137.503 doses da Pfizer, 794.968 doses da Moderna, 1,6 milhões de doses da AstraZeneca, 1.248.828 doses da Janssen, 733.333 doses CureVac e 349.662 doses da Novavax.
As vacinas são armazenadas e distribuídas de acordo com o plano logístico definido pela task force, que tem a seu cargo a implementação, no terreno, da campanha nacional de vacinação contra a covid-19.
A gestão desse plano compete à "sala de situação" do Ministério da Saúde, onde estão representados também os ministérios da Administração Interna e da Defesa, que ajusta a logística de acordo com os critérios definidos e com a disponibilização de vacinas a cada momento no país.
Nesta nova fase, a vacinação vai decorrer nos locais previamente existentes nos agrupamentos de centros de saúde, nos centros hospitalares e nas unidades prestadores de cuidados do sistema de saúde.
Mas o grande impulso da vacinação será dado através dos centros de vacinação covid-19 criados especificamente para este objetivo.
No total, serão 280 postos de vacinação rápida e de resposta reforçada que estão a ser criados em todo o país para se conseguir vacinar uma média de 100 mil pessoas por dia.
Para a fase 2, estarão disponíveis 119 postos de vacinação rápida e 161 postos de vacinação reforçada, o que está a ser feito pelo Ministério da Saúde em colaboração com as autarquias.
Em relação à fase 1, em que as pessoas eram convocadas para os postos de vacinação, nesta nova etapa a grande novidade é possibilidade das próprias pessoas poderem autoagendar a toma da vacina através da sua inscrição numa plataforma digital.
Este portal para o autoagendamento estará disponível na próxima semana e funcionará em simultâneo com o processo de agendamento por mensagem SMS, chamadas telefónicas e cartas atualmente em uso.
Para concretizar o plano de vacinação em massa, a task force previa que seriam necessários cerca de 2.500 enfermeiros, 400 médicos e 2.300 auxiliares, num total de cerca de 5.200 profissionais a distribuir pelos vários centros espalhados pelo país.
Mais recentemente, o coordenador do plano admitiu a necessidade de um reforço de 1.700 profissionais de saúde, que poderão ser do Serviço Nacional de Saúde ou contratados para esta função específica.
Já na quarta-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, garantiu que não haverá falta de profissionais de saúde no processo de vacinação, sublinhando a existência de diferentes mecanismos legais de contratação.
A vacinação é considerada o principal instrumento para o país alcançar a imunidade de grupo, um objetivo que, segundo o Governo, será atingido no final do verão, quando 70% da população adulta estiver vacinada contra o coronavírus.
O Governo estima ainda que, até ao final de maio, todas as pessoas com mais de 60 anos tenham recebido pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19.
Esta imunidade é a resistência de uma comunidade à transmissão de um determinado agente infecioso, quando a maioria da população está imune, levando à proteção indireta dos não imunes. É um conceito habitualmente usado em relação a doenças evitáveis através de vacinação.
A proporção de pessoas que precisam de estar imunes para alcançar a imunidade de grupo varia com o agente infecioso, em função da sua capacidade de transmissão de pessoa para pessoa.
O estudo Painel Serológico Longitudinal Covid-19, divulgado a 16 de abril, estimava que 13% da população portuguesa teria em março anticorpos contra o coronavírus da covid-19 após a infeção natural, uma percentagem que sobe para 17% quando incluídas as pessoas vacinadas.
Entretanto, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) já tem concluído o trabalho de campo da segunda fase do inquérito serológico nacional à covid-19, cujos resultados serão conhecidos em maio.
Este estudo permitirá conhecer a distribuição dos anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2 na população residente no país por grupos etários e regiões de saúde, assim como monitorizar a sua evolução ao longo do tempo e estimar a fração de infeções pelo novo coronavírus em pessoas assintomáticas.
A Comissão Europeia espera atingir antes do objetivo oficial de final do verão a meta de 70% dos adultos da União Europeia (UE) vacinados contra a covid-19, dada a aceleração do ritmo de entregas de vacinas.
A campanha de vacinação da UE tem sido marcada por atrasos na entrega de vacinas por parte da AstraZeneca e da Janssen (grupo Johnson & Johnson), depois de terem sido registados casos raros de formação de coágulos sanguíneos após a toma de ambos os fármacos.
No início da semana, a Comissão Europeia anunciou que decidiu ativar a opção contratual para mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer contra a covid-19, prevendo que a União Europeia (UE) receba 600 milhões de unidades este ano.
Na prática, 27 milhões de pessoas já foram vacinadas com a segunda dose da vacina contra a covid-19 na UE e mais de 100 milhões já receberam pelo menos uma dose.
O executivo comunitário prevê que as entregas de vacinas aumentem significativamente neste segundo trimestre, com os acordos já finalizados apontam para 200 milhões de doses da Pfizer, 35 milhões da Moderna e 75 milhões da AstraZeneca.
A Agência Europeia do Medicamento já aprovou quatro vacinas para comercialização nos 27 Estados-membros: a Comirnaty (Pfizer), a Moderna, a Janssen, e a Vaxzevria (anteriormente designada de AstraZeneca).
Atualmente, estão em avaliação continua pelos especialistas da EMA outras três vacinas: a CureVac, a Novavax e a Sputnik V, esta última desenvolvida pelo Centro Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia da Rússia.
A revisão contínua é uma ferramenta regulatória que a EMA usa para acelerar a avaliação de um medicamento promissor durante uma emergência de saúde pública, como é o caso da pandemia da covid-19.
As vacinas contra a covid-19 são desenvolvidas seguindo os mesmos requisitos de qualidade, segurança e eficácia farmacêutica do que os outros medicamentos.
O que é diferente para as vacinas contra a covid-19 é a velocidade de desenvolvimento, assim como o processo de aprovação na UE, que tem sido mais rápido devido à emergência de saúde pública.
Para ganhar tempo, alguns fabricantes de vacinas aumentam a capacidade e começam a sua produção antes de obterem a necessária autorização de comercialização.
Cabe às autoridades de saúde de cada Estado-membro da UE decidir quem deve receber cada vacina covid-19 no seu país, de acordo com os respetivos planos nacionais de vacinação.
A EMA não está envolvida na alocação e distribuição de vacinas.