27 abr, 2021 - 07:31 • Anabela Góis
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A situação da Covid-19 em Portugal tem evoluído de uma forma muito positiva, pelo que nesta altura estamos preparados para o último passo do plano de desconfinamento, uma fase que inclui um risco acrescido que é o regresso do desporto.
O diagnóstico é feito pelo Presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, Paulo Paixão, que em entrevista à Renascença, admite que foi surpreendido pelos números que colocam o país entre os melhores da Europa.
No dia em que o Governo volta a ouvir os especialistas em mais uma reunião no Infarmed, Paulo Paixão não mostra qualquer reserva quanto à abertura das fronteiras, embora sublinhe que é necessário reforçar os controlos sobre os viajantes do Brasil.
A poucos dias da quarta fase do plano de desconfinamento, o Rt voltou a subir, está agora muito próximo de 1, temos 70,4 casos por 100 mil habitantes. Acredita que estamos em condições de dar mais este passo já na segunda-feira?
Eu penso que sim. É evidente que temos de ir apalpando o terreno, mas os números são ótimos. Honestamente, não esperaria – e disse-o há um mês – que estivéssemos a passar tão bem nesta fase. Pensei que, com a Páscoa e com o início do desconfinamento, os números aumentassem.
Nós estamos numa situação muito excecional: somos o segundo melhor país de toda a Europa. Só há três países em toda a União Europeia com menos de 120 casos por 100 mil habitantes e nós somos um deles. E realmente, com a passagem das semanas, temos mantido. É verdade que tem havido algumas oscilações do Rt, mas não subiu tanto quanto se temia, porque quando nos aproximamos do 1, os epidemiologistas temeram que continuasse a trepar e o número de casos começasse a aumentar. Não tem acontecido e, portanto, respondendo à sua questão, eu acho que temos condições neste momento para ir avançando.
Agora, obviamente, cada passo que se dá em frente é sempre um risco acrescido. Já demos um passo importante, que até agora não se refletiu num aumento significativo de casos: estou a referir-me à abertura das escolas mas, sobretudo, à abertura das universidades e do ensino secundário, porque é um grupo de maior risco do que eram as crianças. Aparentemente, continua a correr bem. Agora, este novo passo tem alguns riscos acrescidos.
Quais são os riscos acrescidos?
Por exemplo, a abertura dos ginásios e o desporto. Não tenho nada contra o desporto, antes pelo contrário, mas representa um risco acrescido, claramente. Veja-se o exemplo do futebol profissional, onde há testes semanais e mesmo assim continuam a surgir casos. E numa situação muito controlada. Agora como é que nós vamos controlar milhares e milhares de pessoas que voltam para o desporto? Porque não estou a ver nós a fazermos semanalmente testes a todos estes atletas que praticam desporto amador.
É fundamental que o desporto volte, mas não deixa de ser uma matéria preocupante. Para mim, claramente, deve haver programas de rastreio, sobretudo agora neste regresso, com equipas federadas, nomeadamente nos desportos de equipa que têm maior risco.
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A reabertura das fronteiras não o preocupa?
Claro que sim. Se olharmos para a vizinha Espanha, que tem mais de 240 casos por 100 mil habitantes, há riscos, mas não acredito que o grande risco venha por aí. Portanto, a fronteira com Espanha não me preocupa.
As fronteiras internacionais com o Reino Unido não me preocupava nada, com o Brasil eventualmente há alguma preocupação por causa das variantes. Sabemos que têm uma ou duas que nos preocupam, não sabemos muito bem qual é a percentagem que lá têm, e claro que há um certo risco de os casos poderem aumentar com a abertura para o Brasil, isso é um facto.
Agora eu acho que o problema não se resolve cancelando indefinidamente os voos para o Brasil, porque as pessoas encontram forma de entrar (fazendo escalas) e, isso sim, as entradas descontroladas representam um perigo maior. Portanto, a abertura das fronteiras terrestres, como digo, não me preocupam muito.
Quanto às aéreas, eu acho que mais vale fazer a abertura de uma forma controlada: quem vem de fora tem de ser sujeito a controlo rigoroso e cumprir quarentena, havendo alguma forma de controlar essa quarentena.
Voltando às universidades e ao ensino secundário, porque é que acha que os números são tão controlados? Será pela testagem massiva que tem sido feita?
Claro que a testagem massiva é fundamental, mas, essencialmente, o que tem feito é confirmar o efeito das outras medidas – ou seja, pelo menos nas universidades tem demonstrado que o confinamento deu resultado.
Para o futuro é possível que a testagem comece a ter um papel mais de prevenção. Para a frente, com o maior contacto entre os jovens, é natural que comecem a aparecer mais casos, sobretudo agora no mês de maio, e então, aí sim, vai ter um papel de deteção precoce dos surtos.
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Mas é previsível que aumentem os casos?
É possível. É possível. Como referi, é evidente que os jovens agora vão estar mais juntos, mais presentes uns com os outros. Esta população ainda não está vacinada nem vai estar até à altura das férias e, por isso, o risco é maior e a isto associa-se também o fator desporto.
Portanto, é possível que possa haver mais casos. Mas não é caso para dramatizar, sobretudo, pela capacidade de rastrear. Temos de ter rastreios continuados e nos grupos de maior risco. Isso é muito eficaz. É isso que temos de fazer, sobretudo agora, no mês de maio.
Concorda com este sistema de abrir ou fechar os concelhos a cada 15 dias em função do número de casos? Ou seria preferível avançar para cercas sanitárias?
É uma pergunta delicada. O avanço e o recuo é horrível para qualquer zona, para qualquer pessoa, para qualquer negócio. Agora, a cerca sanitária também é algo que é mal recebido.
Eu acho que, apesar de tudo, embora seja mau andarmos a avançar e a recuar, acabará por ter de ser esse o caminho a seguir. Não estou a ver grandes alternativas.
A vacinação contra a Covid-19 está a progredir de uma forma relativamente rápida. Acha é que é um fator importante a ter em conta na hora de avançarmos no desconfinamento?
Sem dúvida. Vai ser o nosso grande ajudante nesta fase. Se nós olharmos para Israel, onde a vacinação está mais avançada, vemos duas coisas: primeiro, a quebra da mortalidade, porque estão vacinados os grupos de maior risco, como nós também estamos a fazer; e depois – embora de uma forma mais lenta – também o número de novos casos foi diminuindo. É o efeito normal e esperado da vacinação. Aliás, vai ser o caminho para podermos sair da pandemia.
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