14 mai, 2021 - 00:43 • Eunice Lourenço
O Presidente da República está “moderadamente otimista” com o futuro próximo, tanto em termos de recuperação económica como de estabilidade política. Em entrevista à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa diz que está “confiante” que os dois próximos Orçamentos do Estado vão ser aprovados e salienta que a estabilidade ainda mais importante devido aos fundos que Portugal vai receber
“É fundamental que na transição do final do ano para 2022 e 2023 tenhamos um tempo em que haja estabilidade e por isso durar a legislatura é fundamental. Ainda mais fundamental do que seria porque estar a gerir planos com crises políticas pelo meio aí a taxa de execução passa a ser baixíssima”, afirmou Marcelo.
Os planos a que o Presidente se refere são os relativos à execução de fundos europeus. Nos últimos cinco anos, de acordo com o último relatório do Conselho de Finanças Públicas a execução ficou nos 55%. O Presidente alerta que é preciso não desperdiçar fundos na atual conjuntura de crise provocada pela pandemia, pelo que não se pode correr riscos e a instabilidade política baixar ainda mais o grau de execução.
Ainda em relação aos fundos, Marcelo deixou nesta entrevista alguma insatisfação com o Plano de Recuperação e Resiliência, assim como reservas sobre a sua monitorização e fiscalização.
Nesta entrevista em que falou de vários temas, o Presidente disse que o que aconteceu com os festejos do Sporting não pode repetir-se e que é preciso prevenir mais casos como o da falta de condições dos migrantes em Odemira, que admite não ser caso isolado.
“Aquilo que deu origem a decisões concretas do governo neste caso provavelmente tem de ser avaliado por antecipação noutros casos porque é capaz de haver outros casos em que haja dificuldade de controlo da legalização dos imigrantes ou problemas que sabemos que não é com imigrantes é também com portugueses no que diz respeito ás condições de habitação”, disse o Presidente, para quem também é um facto que Portugal precisa do tipo de imigrantes que trabalham em Odemira porque há “trabalhos que os português não aceitam fazer, mesmo em períodos de desemprego”.
Tanto no caso dos festejos como no de Odemira, o Presidente evitou atribuir responsabilidades diretas ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, Optou por diluir responsabilidades por entidades e pelos portugueses em geral.
E quanto a ministros, são todos da responsabilidade do primeiro-ministro, com quem reúne todas as semanas e fala todos os dias. Mas, garante, não falam dos membros do Governo.
“Cabe ao primeiro-ministro avaliar em cada momento os prós e os contras políticos de manter o governo ou de o renovar”, afirmou Marcelo, rematando: “Se o primeiro-ministro entende que não deve fazer remodelações ele é que decide sobre a matéria. É um juízo político, faz a avaliação política e é avaliado pela avaliação que faz.”
Ainda assim, o Presidente faz uma análise do ciclo político, remetendo uma remodelação para depois das eleições autárquicas: “Estamos a caminho de metade da legislatura, há um ano de eleições autárquicas, a experiência mostra que os primeiros-ministros fazem avaliações, as eleições autárquicas são uma espécie de subciclo dentro de um ciclo de quatro e o que aconteceu em legislaturas anteriores é que os primeiros-ministros sentem num determinado momento a necessidade de refrescar o governo.”
O “subciclo” das autárquicas também pode levar a clarificações nos partidos da oposição e, aí, Marcelo reconhece que é muito difícil o papel de Rui Rio, mas considera que é importante o partido fazer uma leitura das eleições autárquicas e definir quem é o candidato a primeiro-ministro.
“Não é muito fácil ao líder da oposição querer atingir todos os setores de direita e centro-direita que hoje são muito mais e mais divididos com a aprovação e orçamentos do PS”, avisa o Presidente, que já foi líder do PSD na oposição e viabilizou orçamentos socialistas, acabando por deixar de ser líder antes de ter possibilidade de ir a eleições para primeiro-ministro.
“A prática mostrou que a negociação entre PS e PSD é difícil em ano leitoral”, disse também Marcelo depois de reconhecer que “o português gosta de negociações entre o PS e o PSD”.
Pela entrevista também passou a questão dos apoios sociais que o Presidente promulgou e que o Governo enviou para o Tribunal Constitucional.
“Nunca vou perder como Presidente da República”, acredita Marcelo, porque seja qual for a decisão o que fica provado é que as instituições funcionam.
“O Governo faz muito bem usar o poder constitucional, o Tribunal Constitucional, se disser que são inconstitucionais fará muito bem porque o que disser é a democracia a funcionar”, continuou o Presidente, que até disse que nesta polémica, ao promulgar os diplomas aprovados pela oposição juntou o útil ao agradável: “O útil foi fazê-lo convictamente, o agradável é os apoios sociais terem sido dados.”