21 mai, 2021 - 16:40 • Joana Gonçalves
A região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) apresenta um índice médio de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 de 1,11 e é, neste momento, a única região de Portugal continental acima de 1, anunciou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
De acordo com Manuel Carmo Gomes, a faixa etária dos 20-29 anos é a grande responsável pelo aumento exponencial de casos na região. "O grupo de idades que tem a incidência maior e que está a provocar isto em Lisboa é o dos 20-29 anos e essas pessoas não estão vacinadas. Estão a ser, neste momento, o motor da transmissão a que estamos a assistir", defende o epidemiologista, em entrevista à Renascença.
O docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) avança que a incidência neste grupo etário, em Lisboa, atingiu os 150 casos por 100 mil habitantes e está "muito mais alto do que a média nacional, que deve rondar os 70 casos por 100 mil".
Pouco mais de uma semana após os festejos do Sporting Clube de Portugal (SCP), que venceu a I Liga de futebol, Carmo Gomes adianta ainda que podemos estar a assistir às primeiras consequência do evento.
"O evento do Sporting começa a fazer-se sentir agora. Se houve alguém infetado naquele evento, essa pessoa, em média, começa a ter sintomas após cinco dias e depois damos mais um ou dois dias para ser testada e o caso ser confirmado. Não diria que este valor se deve apenas ao evento, mas digo que aquilo vai agravar a situação", explica o especialista.
O número de testes antigénio ao SARS-CoV-2 registou uma quebra nos últimos dias. Carmo Gomes revela que a diminuição da testagem está alarmar os especialistas e deixa um alerta ao Governo.
"Eu olhei para a testagem com os meu colega e começamos a ficar preocupados. Estamos na zona dos 35 mil por dia, quando devíamos estar bem acima dos 40 mil por dia", explica.
"O Governo tem um documento onde são dadas orientações sobre como proceder. Agora, é preciso não descurar isto, não assumir que esta guerra está ganha, não está nada", acrescenta.
O epidemiologista apela, ainda, ao financiamento público para garantir a sequenciação de genomas do vírus que permitam detetar novas variantes atempadamente. "Espero que o número de vírus que são sequenciados para detectar as variantes não caia muito e aqui, evidentemente, há necessidade de que seja claro quem paga o quê. A academia tem tido alguma responsabilidade nesta sequenciação, mas estas coisas não são de graça. Tem que haver dinheiro para prosseguir esse esforço".