26 mai, 2021 - 18:29 • Pedro Mesquita
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Em menos de dois dias, tanto o Governo como o Presidente da República vieram a público admitir a possibilidade para os critérios da matriz de risco para a transmissão da Covid-19 ser alterada - medida que parece estar feita à medida dos últimos números relativos a Lisboa e Vale do Tejo - e acelerar o processo de vacinação.
“Eu sempre achei isso, mas sempre respeitei a opinião dos especialistas e a decisão do Governo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, após visitar uma exposição no Museu das Artes de Sintra, esta quarta-feira. Ou seja, António Costa tem luz verde de Belém. E ao contrário do que seria expectável esta semana, Lisboa pode mesmo não recuar no desconfinamento, apesar do número crescente de infetados.
Para Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Publica, a forma de agir de Marcelo Rebelo de Sousa "é claramente intencional e tem um objetivo em mente, que é evitar de facto que Lisboa confine". Até esta quarta-feira, o Presidente da República nunca havia dado qualquer sinal no sentido de ser favorável à mudança de critérios.
“A mudança dos critérios ou a sugestão de mudança de critérios, agora que Lisboa está em risco de voltar a ser a única região do país ou principal região do país com confinamentos, parece-me algo politicamente balizado e objetivamente causado por esta situação que estamos a viver agora em Portugal”, frisa o especialista, em declarações à Renascença.
Gustavo Tato Borges lembra que "nunca se falou em acelerar a vacinação em outros locais que não correspondiam aos valores indicados pela matriz de risco e que estavam a regredir no seu desconfinamento. Era aquilo que era expectável para Lisboa e Vale do Tejo e, de facto, agora parece que há uma mudança na estratégia que não é justificável por critérios epidemiológicos, mas provavelmente sim pela vontade do Governo. E não há coincidências com o senhor Presidente da República”.
Mudanças na matriz de risco fazem sentido a longo prazo, quando uma percentagem maior da população portuguesa já estiver imunizada. Esta é a perspetiva de Gustavo Tato Borges. “O ideal seria criar condições para que as pessoas diminuíssem um pouco a sua mobilidade e isso basicamente seria seguir as regras que o Governo definiu e cumpri-las exatamente à risca, independentemente de Lisboa e Vale do Tejo, de ser Braga ou ser Odemira.”
"Creio que ainda é cedo para fazer uma alteração na matriz de risco. É verdade que há mais pessoas vacinadas, é verdade que uma boa parte dos nossos vulneráveis ou mais vulneráveis já estão protegidos pela vacina, mas nós sabemos que existem muitos jovens, com obesidade, com diabetes, com asma, com hipertensão, podem também depois vir a sofrer consequências graves desta doença e também vir a falecer", diz.
O especialista relembra que mesmo que entre as pessoas estão vacinadas neste momento, “existe uma porção delas que infelizmente a vacinação não vai ser eficaz nelas por diversos motivos."
"Enquanto não houver uma quantidade substancial da população vacinada, que diria que é um valor de 60 a 70% das pessoas, mudar a matriz de risco para aligeirar as medidas parece-me ser um bocado prematuro nesta fase”, sublinha.