28 mai, 2021 - 07:28 • Marta Grosso , Sofia Freitas Moreira , Carla Caixinha
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O Infarmed volta a acolher uma reunião de peritos para avaliação da situação epidemiológica de Covid-19, da qual se espera uma revisão dos critérios da matriz de risco que determina o ritmo do desconfinamento.
O Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, a ministra da Saúde e os representantes de partidos voltam a reunir-se com peritos sobre a evolução da pandemia em Portugal e novas regras a adotar no verão.
Esta será a primeira reunião entre políticos e especialistas desde que terminou o estado de emergência em 30 de abril.
O país está com um incidência baixa a moderada, por volta dos 60, mas com ligeira tendência crescente na última semana.
O concelho de Lisboa, sendo o mais populoso do país, apresenta uma incidência superior a 120 casos/100 mil habitantes. A região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) é a que tem a linha de crescimento mais pronunciado, mas ainda abaixo daquele rácio de casos/habitantes.
Voltando ao concelho de Lisboa, verifica-se uma incidência maior nas freguesias do centro da cidade, algumas já com tendência de descida, mas com um crescimento a dispersar-se ao longo das freguesias mais perféricas.
Grupo dos jovens adultos (20-29 e 30-40) é aquele em que a incidência é mais relevante.
Na faixa etária dos 80+ mantém-se a tendência decrescente.
Numa perspetiva pelo país, e quanto aos internamentos, incide agora mais sobre a faixa etária dos 40-49. Ainda assim, o número de internamentos diminuto.
A mortalidade mantém-se em níveis muito baixos: 3 mortos por milhão de habitantes.
No que toca à testagem, continua a bom ritmo (270 mil testes numa semana), com a maioria dos municípios a realizar pelo menos mil testes por 100 mil habitantes.
Testagem nos estabelecimentos de ensino deram origem 3.800 notificações positivas.
Passados 14 dias da vacinação completa, 272 pessoas adquiriram infeção pelo novo coronavírus, tendo 15 delas sido hospitalizadas. Não foi registada qualquer morte. "É normal" e "na esmagadora maioria dos casos", a sintomatologia "é ligeira".
Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, refere que, desde meados de março, a incidência tem estado constante, com algumas oscilações de subida e descida, de 400 a 500 casos diários. O Rt indica uma fase de crescimento neste momento. (O último Rt diário é de 1,11.)
Neste momento, o Rt está abaixo de 1 no Norte e no Algarve, ao contrário do resto do país, acima de 1. Mantém-se a média próxima de 60 casos por cem mil habitantes. Baltazar Nunes refere ainda que as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Alentejo apresentam um crescimento mais acentuado em relação ao resto do país.
No processo de abertura de escolas, de setembro a novembro de 2020, e entre 8 de março a 23 de maio, houve situações bastante diferentes, refere o especialista. Em maio, a taxa de incidência tem-se mantido abaixo dos 60 casos por cem mil habitantes nestas faixas etárias que frequentam as escolas. Na primeira reabertura escolar, em setemebro de 2020, a incidência mantinha-se em tendência crescente.
Atualmente, a Europa está numa fase decrescente da pandemia. Portugal e Reino Unido estão no mesmo nível, com 60 casos por cem mil habitantes.
A 25 de abril, a maioria dos países apresentavam uma incidência superior a 480 casos por 100 mil habitantes, a 14 dias. Agora, a faixa que se tem mantido é abaixo dos 480 casos, com um Rt abaixo de 1, de forma geral.
"O Reino Unido e Portugal têm estado a oscilar, resultado de eventos de transmissão localizados em determinadas regiões e por imposição de medidas locais, foi possível colocar o Rt de novo abaixo de 1. É isto que queríamos manter", referiu o especialista.
Portugal é um dos países europeus que apresenta uma menor redução da mobilidade, mantendo, ainda assim, níveis baixos de incidência.
"Estamos com valores de infeção muito baixos em relação a agosto de
2020, e muito provavelmente
estamos a aproximar-nos de uma mobilidade pré-pandemica", disse.
O especialista avançou ainda que aumentou a mobilidade em situações de trabalho presencial e transportes públicos, mas mantendo-se uma "situação controlada".
A efetividade da vacina na população com 80 ou mais anos, que tem um maior historial de exposição às vacinas, encontra-se nos 80%. A efetividade contra a possibilidade de contração da doença está nos 75%.
“São valores muito bons, bastante elevados”, explicou Baltazar Nunes, porque esta faixa etária, normalmente, não entra nos ensaios clínicos.
Sobre a atualização da vigilância de variantes genéticas do novo coronavírus em Portugal, João Paulo Gomes começa por dizer que, em abril, foram sequenciados 1.600 genomas, proveniente de 153 concelhos, incluindo as ilhas.
Em maio, o processo está em curso e foram já sequenciados 800 genomas. Falta sequenciar entre 200 e 300, provenientes de 17 distritos e da Região Autónoma dos Açores.
A variante do Reino Unido verifica agora um decréscimo, mas ainda tem uma prevalência de 87,2% na população portuguesa. Nove em cada dez casos em Portugal são provocados pela variante do Reino Unido.
Quanto à do Brasil, está nos 3% de disseminação por 13 distritos e 41 concelhos. A da África do Sul teve o seu pico em março e começou depois a decrescer, tal como a de Manaus (Brasil), sendo igualmente detetada em 13 distritos e 41 concelhos.
A variante indiana tem três variantes, mas apenas uma é preocupante. Não foi detetado qualquer caso destes em abril, mas em maio 4,6% dos genomas virais já estão associados a esta variante, que se encontra em nove distritos e 13 concelhos.
Estes 4,6% correspondem a cerca de 160 casos associados a esta variante indiana, pelo que se suspeita que haverá mais concelhos e distritos afetados por ela. "É expectável que esteja a ser disseminada na comunidade", diz João Paulo Gomes.
“As novas variantes que vão aparecer e continuar a existir" e "são sempre de preocupação”. Assim continuará a ser, com a abertura de fronteiras e mais mobilidade entre as pessoas.
O vírus está a adaptar-se a uma população cada vez mais imunizada, refere ainda, desejando que “o processo de vacinação equilibre a balança a nosso favor”.
“Vividos 15 meses de infeção e doença”, começou por dizer
Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, e com
três meses que “coincidiram em dois anos diferente”, já é possível avaliar a “natureza
cíclica do grande número de infeções respiratórias”.
“Estamos como estávamos, de um ponto de vista dos casos, na mesma altura, há cerca de um ano, mas acima dos 80 anos há uma grande diferença devido à enorme efetividade da vacina”, referiu.
Em relação à região de Lisboa e Vale do Tejo, "que nos preocupa, estamos como estávamos na fase correspondente há um ano".
A região Norte, no entanto, apresenta uma incidência maior do que há um ano.
“Só precisamos de medidas individuais de trabalho – a probabilidade de morrer desceu drasticamente”, disse Henrique Barros.
Pandemia
Coordenador da "task force" anunciou que Portugal (...)
Relativamente aos casos de Covid longa, isto é, a presença de sintomas para lá de 12 semanas após a resolução da fase aguda, Henrique Barros refere a diminuição da qualidade de vida das pessoas e os efeitos sociais e psicológicos da Covid longa.
“Os efeitos da Covid longa é e permanece à volta de um terço para o total de infeções que surgem. Quer na fase inicial, quer na fase mais recente da pandemia.”
De acordo com um estudo apresentado pelo especialista na sua intervenção, aqueles que recuperaram, mesmo assim, sentem menos qualidade de vida. Aumentaram também os riscos de obesidade.
“Temos de estar atentos à natureza cíclica destes fenómenos. Tudo leva a crer que a situação se tornou endémica, pelo menos, a nível social e na nossa forma de olharmos para ela”, disse Henrique Barros.
No final da intervenção, apelou que “não podemos esquecer que quando se infeta, o risco, de uma forma crónica, cujos contornos conhecemos ainda mal, é exatamente igual, independentemente da carga viral, e mais alta entre os 40 e os 60. É importante a vacinação nestes grupos etários”.
As áreas críticas em Portugal podem ser concelhos ou grupos de concelhos, mas interessa reforçar que este método permite distinguir áreas que se destacam e que são os piores valores observados em determinado período de tempo.
Lisboa tem-se mantido no topo, sendo que, entre 17 e 3 de maio o concelho teve três vezes mais casos observados do que o esperado, tendo em conta o panorama nacional.
Golegã e Salvaterra de Magos também são “clusters” que se destacam.
Nesta intervenção sobre áreas críticas no espaço e tempo e perceções sociais sobre a Covid-19, Carla Nunes indica que, em termos sociais, os valores aproximam-se da situação pré-pandémica e os comportamentos são concordantes com o estado de desconfinamento: as pessoas estão a sair mais de casa e a reduzir o distanciamento.
Além disso, a quantidade de pessoas a sentir-se deprimida, triste ou ansiosa está mais baixo e, na comparação com a mesma quinzena do ano passado, também se verifica uma diminuição.
O risco de infeção reduziu-se.
Um outro item analisado a confiança nos serviços de saúde, que aumentou, tal como o número de pessoas a ir a consultas. Homens em idade ativa e com maior escolaridade são os que se mostram mais desconfiados.
Nas estratégias para a saúde adotadas pelas pessoas, a destacar a diminuição da prática de atividade física.
A matriz de risco, ou seja, o referencial das linhas
vermelhas para monitorizar a situação pandémica em Portugal, vai manter-se com
os mesmos indicadores utilizados até agora, disse Andreia Leite, da Escola Nacional
de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.
De acordo com a especialista, a estratégia passa por "continuar a olhar para a incidência" e para os valores do Rt como indicadores principais, acrescentando uma atenção especial ao indicador da efetividade das vacinas.
A decisão de se manter a mesma estratégia justifica-se pela existência de "muitas incógnitas, ainda", como é o caso das novas variantes do vírus, e porque "é apenas com a segunda dose da vacina que conseguimos atingir valores muito elevados de efetividade."
"A vacinação tem sido considerada como um apoio para o processo de desconfinamento. No passado, o controlo assentou apenas em medidas não farmocológicas", referiu Andreia Leite.
Segundo a especialista, Portugal encontra-se numa fase de transição, entre o passado e um futuro que, para além da medida farmocológica das vacinas, poderá vir a contar com a medida dos tratamentos fármacos para a Covid-19.
Numa análise à redução das medidas restritivas de controlo da Covid-19, a maioria dos especialistas consultados considera fundamental a manutenção da obrigatoriedade das medidas de proteção individual.
Pessoas entrevistadas defendem, de forma generalizada, o uso de máscara sobretudo em locais fechados, mostrando algum receio face ao desconfinamento e risco de inobservância das regras.
Avanço seguro e sustentado que evite o regresso a fases anteriores mais restritivas, é o desejo generalizado.
Para tal, importância da vacinação e a manutenção da estabilidade e previsibilidade para a população.
Para reduzir os danos do desconfinamento, é necessário levar em consideração a saturação sentida na população, que, à medida que a vacinação avança, vai querer sair e conviver mais. E levar as pessoas a cumprir as normas sanitárias de modo o mais natural possível.
É preciso apostar num caráter menos restritivo das regras, com organização de eventos recreativos com todo o cuidado, garantindo sempre o cumprimento das medidas gerais da distância e da utilização de máscara e de outras medidas aconselhadas pela Direção-Geral de Saúde.
Promovidas as atividades culturais e desportivas, com respeito pelas orientações gerais e incentivando a adoção de comportamentos preventivos da Covid-19.
É muito importante apostar na ventilação dos espaços, defende Raquel Duarte, e estes vários sistemas devem ser monitorizados.
Atenção particular aos países com novas estirpes e vigiar as fronteiras, nomeadamente as terrestres, com recursos suficientes para a análise imunológica.
Na saúde mental, é reconhecido o impacto da pandemia e é importante definir estratégias para o reduzir, com atenção aos mais vulneráveis e populações mais atingidas/expostas.
A comunicação é outro fator fundamental. As pessoas estão cansadas e tem de haver estratégias para reenergizar o comportamento preventivo, sobretudo nas populações mais jovens.
Na população em geral, há que a empoderar, de modo a que se torne fácil a adesão a comportamentos preventivos. A estratégia adotada na praia no ano passado é um bom exemplo, entre outros já adotados que tornam mais fácil a adesão às medidas preventivas propostas.
Em termos de mobilidade, neste momento, aproximamo-nos da existente na fase pré-pandémica. Perante isto, devemos ir avançando com segurança no desconfinamento para não regredirmos.
Resumindo, regras fundamentais: é obrigatório investirmos na ventilação e climatização adequada e na sua manutenção; continuar a promover atividades ao ar livre, promover a distância física, promover a testagem, o desafasmento de horários, higienização habitual e as bolhas, o número restrito de pessoas com quem podemos interagir com mais segurança.
De acordo com o coordenador da Task Force para o Plano de Vacinação, o vice-almirante Gouveia e Melo, 5,2 milhões de vacinas já foram administradas em Portugal – 3,5 milhões de primeiras doses e 1,8 com duas doses.
Na sua intervenção, o coordenador referiu que, até ao final desta semana, cerca de 65% da população entre os 60 e os 69 anos estará vacinada e que cerca de 50% das pessoas com 50 a 59 anos também estará inoculada na mesma altura.
“Quando chegamos a cerca de dois terços de uma faixa etária vacinada, começamos a encontrar alguma resistência. A experiência diz-nos que temos de abrir a faixa anterior”, explicou o vice-almirante, que avança que, “se tudo correr bem”, a partir de 6 de junho começa a ser vacinada, com agendamento local, a faixa dos 40 anos, e partir do final de junho, a faixa dos 30.
O objetivo é chegar ao valor necessário definido para que exista imunidade de grupo (70%), entre a primeira e a segunda semana de agosto. “A data pode andar 15 dias para a frente, ou 15 dias para trás, dependendo da disponibilização de vacinas”, sublinhou.
"Estamos a atingir uma proteção na ordem dos 98%. A estratégia vai passar a ser proteger e libertar a economia. Queremos um país à mesma velocidade, para atingir a imunidade de grupo", disse, acrescentando que, neste momento, se começou a reforçar a vacinação em regiões mais atrasadas, como é o caso do Norte, Algarve, Açores e Lisboa e Vale do Tejo.
No final da sua intervenção, o coordenador da task force nacional admitiu que tem dois tipos de preocupações.
"Uma é manter o ritmo de vacinação elevado para poder libertar mais rapidamente a economia, com a preocupação de que os critérios das vacinas seja demasiado restritivo e que implique esse ritmo", começou por dizer.
As outras preocupações do vice-almirante prendem-se com questões mais pequenas, mas "não menos importantes".
"Preocupa-me a qualidade do processo em termos de conseguir ir a nichos, enquanto se mantém o ritmo de vacinação. Preocupam-me algumas bolsas de idosos que vão ficando para trás, e para isso criamos metodologias para encontrar essas pessoas. Preocupa-me os acamados, onde já vacinamos cerca de 50% destas pessoas. Preocupam-me as comorbilidades graves e comunidades isoladas geograficamente, em que os cuidados de saúde são ainda elementares, sem hospitais e centros de saúde", rematou.
Conselho de Ministros
Situação de calamidade mantém-se até 13 de junho. (...)
Na conferência de imprensa no final da reunião de Conselho de Ministros de quinta-feira, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, deixou o alerta de que o país se aproxima da zona amarela na atual matriz de risco, pedindo aos portugueses o reforço da prevenção.
A atual matriz de risco é composta por dois critérios, o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus e a taxa de incidência de novos casos de covid-19 por cem mil habitantes a 14 dias, indicadores que têm servido de base à avaliação do Governo sobre o processo de alívio das restrições iniciado a 15 de março.
Portugal vai receber mais de 1,4 milhões de vacinas contra a Covid-19 nesta e na próxima semana, que permitirão acelerar o processo de vacinação de três escalões etários em paralelo.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, até terça-feira, tinham sido administradas em Portugal continental mais de cinco milhões de vacinas, sendo cerca de 3,5 de primeiras doses e mais de 1,5 de segundas tomas.
A “task force” pretende, na semana de 6 de junho, começar a vacinar a faixa etária dos 40 aos 49 anos e, na semana de 20 de junho, o grupo dos 30 aos 39.
Em Portugal, morreram 17.022 pessoas dos 847.006 casos de infeção confirmados, de acordo com o último boletim da Direção-Geral da Saúde.