16 jun, 2021 - 10:40
Os custos com medicamentos são a principal dificuldade financeira no acesso aos cuidados de saúde. Na classe socioeconómica mais baixa aumentou para 15%, em três anos, a percentagem das pessoas que deixaram de comprar fármacos de que precisavam.
De acordo com o relatório "Acesso a cuidados de saúde - As escolhas dos cidadãos 2020", a situação melhorou e entre 2017 e 2020 passou, em média, de 10,7% para 5,4% a proporção de pessoas que deixou de comprar medicamentos de que necessitava, pelo menos uma vez no ano, mas há desigualdades socioeconómicas relevantes e a percentagem aumentou de 11% para 15% na classe socioeconómica mais baixa.
O mesmo aconteceu quando se perguntou quem deixou de ir a uma consulta médica ou de fazer um exame por falta de dinheiro, com um aumento de 7% (2017) para 10% (2019) na classe socioeconómica mais baixa.
"Apesar do esforço que tem sido feito em termos de políticas públicas de baixar os preços dos medicamentos, a verdade é que continua a ser o elemento central da despesa das pessoas quando vão a uma consulta, em termos de pagamentos diretos e tem esse aspeto de acabar por ser bastante mais pesado nas famílias com menores rendimentos, o que é natural", disse à Lusa o autor do relatório, Pedro Pita Barros.
O estudo, que resulta de uma parceria da Fundação "la Caixa" com o BPI e a Nova SBE, refere que, apesar de existirem desigualdades socioeconómicas na doença, o acesso ao sistema de saúde é similar para toda a população e que a decisão de primeiro contacto tem poucas barreiras de acesso.
Estudo
O mesmo estudo revela ainda que os profissionais d(...)
O relatório mostra ainda que não houve uma "fuga" do SNS para o setor privado, mas sim "uma reconfiguração dentro de cada setor nos últimos anos".
"A única fuga que encontramos no último ano foi as pessoas deixarem de ir as urgências e escolherem outra forma de contacto. O que temos é uma reconfiguração dentro das escolhas dos sistemas, que é algo que Estado tem estado presente ao longo da última década", disse o autor do relatório.
Em 2020, a "fuga" foi das urgências hospitalares, públicas e privadas, para outro ponto de contacto dentro do mesmo setor, pois houve menor procura de urgência por receio da pandemia.
A pandemia trouxe duas novas "barreiras de acesso" ao SNS: o receio de ir ao sistema de saúde por causa da Covid-19, referida por 15% das pessoas inquiridas entes estudo, e o cancelamento de um agendamento por iniciativa do prestador, apontado por 20% dos entrevistados.
Os mais idosos e as classes socioeconómicas mais baixas indicaram maior receio. Os cancelamentos por iniciativa do prestador afetaram igualmente todas as classes socioeconómicas. Contudo, os mais idosos, tendo mais consultas marcadas, foram também mais afetados.
Apesar do receio que se gerou, continua a existir confiança nos serviços de saúde, sendo que os que mais se isolaram durante a pandemia não têm mais receio de ir ao sistema de saúde.
Os dados deste relatório foram recolhidos pela empresa GfK, entre os dias 23 de maio e 30 de junho de 2020, através de inquérito elaborado pela equipa de investigação do Nova SBE Health Economics and Management Knowledge Centre, tendo como universo pessoas com 15 ou mais anos de idade, residentes em Portugal Continental, numa amostra representativa constituída por 1.271 entrevistas.