19 jun, 2021 - 09:30 • Henrique Cunha
A Confederação Nacional de Ação Sobre o Trabalho Infantil (CNASTI) pede maior atenção aos encarregados de educação e à comunidade educativa para um novo jogo na Internet idêntico ao da “Baleia Azul”.
Fátima Pinto revela à Renascença ter sido alertada por uma outra dirigente da CNASTI para a existência de “um novo jogo estilo baleia azul, em que uns fulanos faziam jogos com crianças, as quais pensavam estar a jogar com outras crianças”.
De acordo com a descrição feita pela responsável, o jogo tinha “a penalização de quem perdia tinha que ir tirando uma peça de roupa e às tantas estavam praticamente nus”. Depois também eram impelidos a tirar fotografias e a mandar, uma situação que os colocava “nas mãos dos predadores, que depois as usavam para chantagear as crianças e muitos tinham problemas graves por causa disso”.
Mas há outro tipo de jogos a dinheiro. Fátima Pinto fala do caso de um jovem de 15 anos que lhe contou as suas façanhas na Internet. “Tive uma criança que me disse que ganhava imenso dinheiro e que era famosíssimo na internet. Quando ele punha o nickname na net, toda a gente o conhecia porque ele era campeão. E ganhava imenso dinheiro.”
E o que fazia ao dinheiro ganho? “Eu guardo, compro melhores computadores, o meu computador é sempre topo de gama para eu poder jogar e competir com os estrangeiros.”
Mais surpreendida ficou quando o jovem lhe disse que “os pais não davam por nada”, porque jogava de madrugada “no quarto e muitas vezes debaixo dos cobertores”.
A dirigente da CNASTI apela a uma atenção redobrada por parte dos encarregados de educação a este tipo de realidade, lembrando ser “possível negociar com as operadoras os tempos de acesso à Internet”.
Revela ainda que nos últimos dias soube de novas situações de abusos. “Uma era vendida pelo pai para atos sexuais e a outra estava a ser vítima de maus-tratos, mas quem os praticava não era familiar dela. A criança já se queixava de que o substituto do pai lhe batia muito, mas as pessoas só reagiram quando ela começou a aparecer com queimaduras.”
“É importante que ao pequeno sinal haja uma ação, haja uma atitude”, sublinha a mesma responsável, acrescentado que “toda a criança que falte na escola seja sinalizada e que as comissões de proteção de menores tenham as condições necessárias para acompanhar todas as crianças em situação de risco”.
Para debater este tipo de realidade, mas também os efeitos da pandemia na vida das crianças, a CNASTI vai promover depois do verão uma série de três conferências, em parceria com outras organizações envolvidas na promoção dos direitos das crianças.
A primeira, a 6 de outubro terá por tema “Migrações e as Crianças”; depois no dia 27 segue-se outra sobre “Trabalho escravo de crianças”; a última acontece a 24 de novembro e terá por tema “Erradicação do trabalho infantil no mundo”.
A iniciativa pretende responder às novas preocupações decorrentes das incidências da pandemia nas condições de vida das crianças.
A instituição revela que as situações de risco a nível global aumentaram muito com a Covid-19. De acordo com Fátima Pinto, “pela primeira vez, em muito tempo, os dados agravaram-se: muitos milhões de crianças caíram, quer no trabalho infantil, quer em situações de risco devido à pandemia”.
“A covid-19 criou situações de grande pobreza e de grande calamidade no mundo inteiro”, lembra Fátima Pinto, referindo haver ainda “muito a fazer para salvar as nossas crianças, pois elas são da responsabilidade de todos que tenha vontade de colaborar no sentido de promover os seus direitos”.
“O objetivo é que os direitos das crianças não sejam palavras vãs”, reforça.