23 jun, 2021 - 10:19 • Marta Grosso
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Está comprometida a meta avançada para agosto para a vacinação contra a Covid-19 em Portugal, diz o coordenador da “task force”, que foi nesta quarta-feira ao Parlamento fazer o balanço do processo em curso.
Atrasos na entrega das vacinas e redução na produção em duas marcas (Janssen e AstraZeneca) estão na origem do incumprimento da meta prevista, de 70% da população vacinada a 8 de agosto.
“Pode atrasar-se até 15 dias”, afirma o vice-almirante Gouveia e Melo, avisando desde logo que “se o atraso na entrega for muito grave”, maior será o atraso também nessa meta.
Segundo o coordenador do processo de vacinação, estava previsto chegarem, no segundo trimestre deste ano, 11 milhões de vacinas. “Só pude usar 7,2 milhões e 1,4 milhões vão chegar nos últimos dois dias”, pelo que “vão transitar para o quarto trimestre”.
“Foi uma redução significativa”, afirma, adiantando que, no que toca à vacina da Janssen, está previsto receber, em julho, “164 mil vacinas das 800 mil previstas” – mais “uma redução muito significativa”.
Perante isto, Gouveia e Melo não se sente com condições para garantir os 70% de pessoas vacinadas até 8 de agosto.
Até agora, foram vacinados 46% da população, pelo menos com uma dose. E a capacidade de vacinação é hoje de 135 mil vacinas por dia. Contudo, Portugal está sempre dependente das vacinas que recebe.
“É uma negociação muito mais macro [do que o Governo], envolve todo o mundo”, explica.
Ainda assim, Gouveia e Melo aponta para as “primeiras três semanas de agosto” para chegarmos aos 70% da população vacinada. Mas não deixa de ser uma previsão.
Os maiores de 20 anos poderão começar a agendar a vacina a partir de 4 de julho, adianta o vice-almirante na audição parlamentar, antecipando a previsão inicial.
“4 de julho é a estimativa para começar a vacinar pessoas de 20 anos – ou seja, dos 18 aos 30 anos, pois não vamos deixar de fora a faixa dos 18”, anunciou.
Ou seja, “daqui a 15 dias, temos todas as faixas etárias em processo de vacinação”, disse, concluindo que “já começamos a ver a luz ao fim do túnel”.
“Não me parece que seja mau, tendo em conta tudo o que temos sofrido em termos de atraso nas vacinas”, considera.
Perante os deputados da comissão parlamentar de Saúde, o coordenador da “task force” explicou ainda o porquê de fatiar as faixas etárias de dois em dois anos.
“Decidimos fatiar o agendamento para começar a vacinar as pessoas mais idosas e depois as menos idosas. Por isso é que estamos a fazer de dois em dois anos, para que todas as idades tenham oportunidade para se vacinar”, justificou.
Chegados à faixa dos 40, a razão principal da vacinação por idades deixa de ser a proteção das pessoas e passa a ser uma razão epidemiológica, explicou ainda.
“Como o vírus é muito oportunista”, afeta quem está mais suscetível e, na faixa dos 40, estão as pessoas que trabalham “e que sustentam a economia”. Daí, a vacinação das faixas abaixo dos 40 anos.
Uma vez vacinada a população a partir dos 18, “o processo será mais tranquilo”, diz Gouveia e Melo, considerando, contudo que “este processo não tem fim”, sobretudo se “houver necessidade de uma terceira dose ou de uma quarta”.
Mas já terá passado a emergência, “que a fase que estamos a passar”, e nessa altura “o Ministério da Saúde tomará conta do processo”.
O coordenador da “task force” admite que a variante Delta suscita preocupação, sobretudo porque “estudos no Reino Unido indicam que uma dose da vacina AstraZeneca têm apenas 30% de proteção” contra esta variante.
Foi nessa medida que a Direção-Geral de Saúde decidiu reduzir o intervalo das doses daquela vacina. “Devemos acelerar as segundas doses”, diz o vice-almirante, sobretudo porque a primeira dose foi administrada a pessoas entre os 60 e os 80 anos.
E isso “já começou a ser feito”, garante, através da chamada metodologia “casa aberta”, em que as pessoas com mais de oito semanas de intervalo da vacina da AstraZeneca podem aparecer sem marcação e terão prioridade.
“É um processo que estamos a divulgar pelos agentes locais e de proximidade”, adianta o coordenador.
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A metodologia “casa aberta” vai também ser utilizada durante as férias de Verão, primeiro na área de residência e depois fora da área de residência. “É assim que pretendemos responder à sazonalidade”, afirmou, em resposta a uma deputada.
“Claro que se se deslocarem quatro milhões para o Algarve, não conseguimos vacinar quatro milhões de pessoas. Vamos tentar que as pessoas se vacinem antes ou depois das férias”, adiantou.
Há outros grupos que preocupam o coordenador da "task force" e que têm tido uma abordagem paralela à aplicada ao resto da população. "São grupos como migrantes, detidos nas prisões” e outros grupos mais desfavorecidos, apontou Gouveia e Melo. São grupos que “precisam da nossa proteção e que acabam por ser vítimas e são concentradores dos focos” de Covid-19.
No que toca às prisões, 82% dos reclusos estão vacinados, avança o vice-almirante.
No setor dos migrantes, a “task force” contactou as associações “para que essas pessoas acedam ao processo de vacinação”. E mesmo o migrante irregular terá acesso a um número, que é temporário e não interfere com o processo de regularização, mas que permite que seja vacinado.
Já vacinada está a população sem-abrigo. “E continuamos a vacinar em processos atípicos os tais nichos de pessoas”, em simultâneo com o processo para o resto da população, por faixas etárias.
Perante os deputados da comissão parlamentar de Saúde, Gouveia e Melo recusou que seja possível vacinar mais.
“Tenho ouvido que a solução é vacinar mais. Dá a sensação que não estamos a vacinar ao máximo que podemos, mas quero deixar claro que estamos a vacinar ao máximo que podemos”, afirmou.
“As vacinas são previstas com um mês para a frente e temos de ter um stock mínimo para não comprometer segundas doses”, no caso de haver atraso na entrega das vacinas previstas, explica ainda.
A nova fase do processo de vacinação contra a Covid-19 inclui o equilíbrio das percentagens de vacinação em todo o território.
“O vírus é oportunista e o que procura é [pessoas] suscetíveis”. Por isso, “continuamos a descer [a vacinação] por faixas etárias, mas a tentar equilibrar todas as regiões para terem a mesma percentagem de vacinação”, explica o coordenador da “task force” aos deputados da comissão parlamentar de Saúde.
A maior dificuldade desta tarefa está nas zonas mais populosas, admite.
A percentagem já vacinada de pessoas acamadas (ou que necessitam de vacinação ao domicílio por outras razões) varia, “grosso modo, entre os 65% e os 70%”, diz Gouveia e Melo.
Neste processo – mais um paralelo, “de nicho” – decidiu-se introduzir uma novidade: “decidimos vacinar não só o utente como uma pessoa do agregado que o acompanha ou está mais próxima”.
Garante-se, assim, “que há alguma pessoa que, em caso de infeção, tem alguma resistência e não vai adoecer e deixar o utente desamparado”, justifica o vice-almirante no Parlamento.
Este processo “requer muitos recursos humanos, mas está a ser feito e está a correr bem”, adianta.
Para atingir todos, incluindo os grupos mais à margem, o programa de vacinação precisa de pessoas. Perante os deputados, Gouveia e Melo elogiou o trabalho “sem mancha” de todos os enfermeiros envolvidos e manifestou esperança de que mais se possam juntar à missão.
“Estão a sair das universidades três mil novos enfermeiros para o mercado de trabalho. Penso que há boas notícias em termos de mão-de-obra”, afirmou.
Quanto à capacidade instalada, o coordenador do programa de vacinação anti-Covid-19 considera que é satisfatória, pelo que não pondera recorrer a hospitais ou farmácias.
As farmácias não têm capacidade para vacinar muita gente e colocá-la no recobro definido e os hospitais estão ainda a lidar com o resultado dos meses de pico da pandemia. Seria “stressar um sistema que já por si esteve muito stressado e continua, porque tem de recuperar um conjunto muito elevado de atos que estiveram parados”.
“Para já, a limitação [ao processo de vacinação] tem sido as vacinas e não a capacidade. Se se inverter isso, mudaremos a estratégia”, garantiu, dizendo ainda que o novo centro que abriu em Lisboa nesta quarta-feira, onde estão sobretudo militares, está também a servir de teste.
A pandemia de Covid-19 já infetou, desde março de 2020, 866 mil pessoas em Portugal, tendo morrido com a doença 17.074 pessoas, de acordo com o último boletim da Direção-Geral de Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.