30 jun, 2021 - 20:33 • Lusa
O presidente do CDS-PP espera que "a culpa não morra solteira" no processo que envolve o empresário Joe Berardo, considerando que a "sensação de impunidade" começa a ser preponderante na sociedade portuguesa.
Numa declaração aos jornalistas antes do Conselho Nacional que se reúne hoje por videoconferência, e à 'porta fechada', Francisco Rodrigues dos Santos foi questionado sobre a detenção do empresário madeirense, na terça-feira.
"Eu defendo um sistema que seja forte com os fortes, e não apenas forte com os fracos, e que a justiça no nosso país não seja um problema no combate à corrupção e aos crimes de colarinho branco, mas que seja uma solução. Porque embora a corrupção não seja um problema exclusivamente português, a verdade é que a sensação de impunidade começa a ser uma coisa muito nossa", considerou.
Subscrevendo "na íntegra" as declarações da deputada centrista Cecília Meireles, num primeiro comentário do partido à detenção de Joe Berardo, o presidente do CDS-PP reiterou que "de facto é sempre bom sinal quando a justiça funciona e investiga, sobretudo ilegalidades que já terão sido praticadas há largos anos a esta parte".
E considerou que "cabe à justiça investigar tudo quanto se passou, e todos os contornos de desvios e irregularidades, ilegalidades e crimes que ocorreram, nomeadamente com a relação de alguns devedores" com a banca, porque "no fundo são os portugueses que estão a pagar estas mesmas dívidas através dos seus impostos".
"E é necessário naturalmente ter respeito pelos sacrifícios dos portugueses e que tudo se apure para que a culpa não morra solteira e para que os prevaricadores no fundo se fiquem a rir, achando que nunca vão responder pelas suas ilegalidades", sublinhou Francisco Rodrigues dos Santos.
Opinião de Henrique Raposo
Comentador considera que casos como o que envolve (...)
O processo sobre crimes de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal qualificada e branqueamento que levou à detenção, na terça-feira, do empresário madeirense Joe Berardo conta com 11 arguidos, dos quais seis são empresas e cinco individuais.
Fonte ligada ao processo disse à Lusa que, dos cinco arguidos individuais apenas dois estão detidos, Joe Berardo e o seu advogado, André Luíz Gomes, ambos presentes hoje ao juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal.
Vários órgãos de comunicação social avançaram desde terça-feira que um dos arguidos é o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos Carlos Santos Ferreira, informação não confirmada oficialmente.
O caso foi tornado público depois de uma operação em que foram feitas cerca de meia centena de buscas, 20 domiciliárias, 25 não domiciliárias, três a estabelecimentos bancários e uma a escritório de advogado, tendo ainda sido emitidos dois mandados de detenção, visando o empresário e o seu advogado de negócios e de longa data André Luíz Gomes.
Segundo comunicados da Polícia Judiciária (PJ) e do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), nesta investigação, que decorre no âmbito do denominado processo Caixa Geral de Depósitos (CGD), existem suspeitas da prática de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal qualificada, branqueamento e, eventualmente, crimes cometidos no exercício de funções públicas.
A PJ esclareceu que se trata de um grupo "que entre 2006 e 2009 contratou quatro operações de financiamentos com a CGD, no valor de cerca de 439 milhões de euros" e que terá causado "um prejuízo de quase mil milhões de euros" à CGD, ao Novo Banco e ao BCP.