30 jul, 2021 - 10:30 • Liliana Carona
O cheiro a alcatrão inunda a aldeia de Paradela que, há mais de 40 anos, não via obra idêntica na estrada. A gravilha tornava o piso sinuoso até se alcançar a povoação.
“Este serviço é feito pela câmara, sabe Deus com a corda na garganta, estamos agora a investir e não é por causa das eleições, porque não é com estes votos que ganham as eleições, há 46 anos que não leva alcatrão”, observa António Ribeiro, 70 anos, tesoureiro da União das Freguesias de Paradela e Granjinha, para quem os Censos não foram uma surpresa.
“Cada vez vai ser pior. Os velhos vão para o cemitério e os novos vão para as cidades. Temos sete crianças na Paradela e três na Granjinha, 10, no total”, conta o mesmo responsável.
E a Granjinha tem café? Mercearia? “Não, não tem nada”, responde Damião Altino, 69 anos, um dos 70 habitantes de Paradela. Emigrante em França, só vem no verão, mas está desiludido. “Não há gente nova para fazer crianças, os velhos já não dão nada, nem venho para aqui, já não gosto disto, é uma terra morta”, lamenta o sexagenário que aos 18 anos partiu para França para trabalhar na construção civil. Hoje, gostava de poder ir a um café na sua aldeia.
“Temos de fazer oito quilómetros até Tabuaço ou 20 para Moimenta da Beira para tomar um café. Isto está muito abandonado e estou farto de aqui estar. Já disse para a minha mulher, arranja-me o saco para irmos embora”, atira.
António Ribeiro, da União das Freguesias lança críticas aos vários executivos. “Os sucessivos governos puxam só para as grandes cidades. O interior está cada vez mais deserto”.
“Há 80 anos, desde a implantação da República, nunca um governo gastou um tostão a compor as estradas de cá. Como querem cá segurar as pessoas?”, questiona.
Das 29 pessoas na Granjinha, 10 têm mais de 80 anos, António Ribeiro, 70 anos, é dos mais novos, e a mais velha, tem 94 anos.
António teme o futuro. “Quando abandonarmos isto e formos viver para junto dos filhos, daqui a 10 anos, encontram sete ou nove habitantes aqui. Ninguém vem para cá. Então um jovem de 20 anos vai andar a cavar terra, para depois ninguém lhe comprar as batatas?”, lança.
Ainda assim, este responsável não poupa elogios à aldeia.
“A Granjinha é a melhor terra do mundo para viver. Temos o Mosteiro de São Pedro das Águias, uma igreja românica, que é monumento do século XII visitado por centenas de pessoas ao ano - 296 pessoas só já este ano, a quem eu abri a porta. É a terra mais visitada do concelho de Tabuaço e dos limítrofes”, lembra.