10 ago, 2021 - 12:03 • Redação
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A Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a vacinação contra a Covid-19 de todos os jovens entre os 12 e os 15 anos, anunciou Graça Freitas em conferência de imprensa. Até agora, só os jovens com doenças de risco estavam indicados para receber a vacina.
Os cerca de 400 mil menores deverão ser acompanhados pelos seus tutores legais e "se não for exatamente antes do início do ano letivo", a vacinação desta faixa etária "acontecerá nos dias a seguir", antevê a diretora-geral da Saúde.
"A questão do ponto de vista do impacto na epidemia desta vacinação, se for mais uma semana ou menos uma semana, não terá um impacto negativo importante", refere Graça Freitas.
A diretora-geral da Saúde sublinha que hoje foi anunciada a recomendação técnica, depois terá lugar a decisão logística.
"A partir deste momento fica aberto o caminho para a vacinação universal destes jovens, dos 12 aos 15 anos, depois será a parte da logística que comunicará em que moldes é que vai acontecer a vacinação. Não se tenha a expetativa que é hoje que começa. Hoje foi tomada a decisão técnica, depois vem a decisão logística", diz a responsável da DGS.
Tendo em conta os estudos feitos até ao momento, os jovens portugueses deverão ser vacinados com duas doses, sendo que serão utilizadas apenas as duas vacinas licenciadas para este grupo etário, sublinhou Graça Freitas.
Luís Graça, membro da Comissão Técnica de Vacinação Covid-19 e presente na conferência de imprensa, lembrou que nesta faixa etária os efeitos da doença são pouco graves e por isso a vacinação dos jovens tem como objetivo “reduzir a transmissão do vírus” e garantir o bem-estar deste grupo etário.
Depois desta conferência de imprensa, o primeiro-ministro, António Costa, prometeu que a vacinação contra a Covid-19 dos jovens entre os 12 e os 17 anos vai acontecer até ao início do ano letivo.
São cada vez mais e começam a atrasar a meta da im(...)
A decisão foi tomada após a análise dos novos dados da vacinação dos jovens nos Estados Unidos e na União Europeia, que apontam para casos de miocardite e pericardite "extremamente raros e têm evolução clínica benigna" entre o universo de vacinados contra a Covid-19, entre os 12 e os 15 anos.
Questionada pela Renascença se a pressão política e social foi um fator positivo ou negativo para esta discussão e decisão, Graça Freitas responde que a decisão foi meramente "técnica", após a verificação da informação sobre a vacinação de jovens na UE e nos EUA.
"No dia 30 [de julho], quando fizemos o outro comunicado, dissemos que a DGS recomendará a vacinação universal dos jovens dos 12 aos 15 anos logo que estejam disponíveis dados adicionais. No dia 30 de julho saíram dados dos EUA sobre nove milhões de adolescentes vacinados e das reações que tiveram e esse report foi muito importante. Na semana seguinte, saíram dados da União Europeia e foi possível saber que as cerca de seis milhões de vacinas que já tinham sido dadas não tinham acrescentado um sinal de alerta àquilo que já sabíamos. Foi a sequencia destes acontecimentos que levou a que no dia 30 nós tivessemos um parecer e agora tenhamos outro", explica a diretora-geral da Saúde.
O anúncio de hoje da DGS surge depois de a autoridade nacional de saúde ter publicado uma norma sobre a vacinação de adolescentes dos 12 aos 15 anos com doenças de risco, na qual esclarecia que os jovens saudáveis não estavam incluídos na fase atual da vacinação, tendo que esperar pela calendarização da ‘task force’.
Tanto o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como o coordenador da ‘task force’ do plano de vacinação contra a covid-19, Gouveia e Melo, defenderam a importância de vacinar os jovens a partir dos 12 anos.
O Presidente da República frisou na passada quinta-feira que o “fundamental” é que, “quanto à questão de princípio” da vacinação das crianças, não haja “nenhuma objeção definitiva”, e reiterou que é preciso “deixar correr o tempo” para mostrar que, “aquilo que é bom neste momento na Madeira”, – onde está a decorrer a vacinação entre os 12 e os 15 anos – “venha também a ser considerado bom nos Açores e no continente”.
Na sexta-feira, o vice-almirante Gouveia e Melo considerou que "o tempo está a esgotar-se" para vacinar os adolescentes entre os 12 e os 15 anos, reconhecendo, no entanto, o "cuidado" da DGS em proteger os jovens.
Na mesma conferência de imprensa, Luís Graça, professor de imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi questionado sobre a possibilidade de administração de uma terceira dose da vacina e disse que os testes serológicos não serão tidos em conta nessa decisão.
“Em relação aos testes de imunidade importa referir que a eficácia e efetividade das vacinas não pode ser medida exclusivamente por estes testes serológicos. Os ensaios clínicos que foram a base da autorização da utilização das vacinas não se basearam em serologia, mas na eficácia das vacinas em prevenir infeções em pessoas vacinadas. A decisão sobre a necessidade de uma terceira dose terá de ser tomada com base na proteção que as vacinas continuam a manter contra a doença que é causada por esta infeção e não por dados serológicos", disse o coordenador adjunto da comissão técnica de vacinação Covid-19.
De acordo com Luís Graça, existe uma grande unanimidade sobre as várias agências que se pronunciam sobre as vacinas em relação à "inadequação de testes serológicos para decisões sobre a vacinação".
"Em Portugal e noutros países há uma monitorização contínua da efetividade das vacinas que vão sendo administradas na população para verificar se existe uma perda de efetividade, que se mede com o aumento de infeções, e se isso deve condicionar medidas para reforçar a proteção de grupos populacionais onde esta efetividade possa estar a decair", explica o especialista em imunologia.
Questionada sobre os dados da mortalidade Covid-19 em Portugal, a diretora-geral da Saúde afirma que o atual número diário de mortes é o "expetável em função da efetividade da vacinação".
“Tem havido uma mortalidade diária que ronda os 17, 18, 19 a 20 pessoas. Essa mortalidade diária ocorre predominantemente em pessoas muito idosas e também em pessoas muito doentes", afirma Graça Freitas.
A maior parte das vítimas mortais tem duas doses da vacina contra a Covid-19, adianta a DGS. Luís Graça explica que isso acontece porque 99% das pessoas com mais de 80 anos já completaram a vacinação.
“Os números podem ser enganadores. À medida que o processo de vacinação avança, neste momento, na população acima dos 80 anos temos mais de 99% das pessoas vacinadas com duas doses e muitas são pessoas com uma condição muito frágil, uma infeção respiratória, seja por Covid ou por outra causa, é sempre uma situação que faz perigar a vida de pessoas que têm uma situação clínica de grande fragilidade", refere o especialista.