17 ago, 2021 - 08:03 • Eunice Lourenço
A ministra da Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, está esta terça-feira presente no arranque do estudo de imunidade nos lares de idosos. O estudo foi anunciado há mais de uma semana pelo seu ministério no meio de várias tomadas de posição sobre uma eventual terceira dose da vacina anti-Covid.
Que estudo é este?
De acordo com o que foi anunciado pelo Ministério da Solidariedade e Segurança Social vai ser feito um estudo serológico a uma amostra de 5 mil funcionários e utentes dos lares. Este estudo vai ser feito este mês de agosto e os resultados vão ser apresentados publicamente em setembro. A participação será voluntária e o estudo será conduzido pelo Algarve Biomedical Center (ABC) e pela Fundação Champalimaud, e os resultados serão apresentados publicamente em setembro.
Vai ser um estudo nacional?
Não. Vai ser realizado apenas nas regiões do Algarve e Alentejo. O Algarve Biomedical Center vai contactar as instituições destas regiões, pedido a participação dos utentes e dos profissionais, até se atingir a meta de 5 mil participantes.
E qual o objetivo do estudo?
O objetivo deste estudo é, de acordo com o comunicado “aumentar o conhecimento científico atual sobre a duração dos efeitos da vacina nesta população, através da análise da imunidade dos idosos mais vulneráveis que já receberam a vacina, comparando-a com a dos funcionários vacinados na mesma altura”. Os resultados do estudo serão partilhados com as autoridades de saúde e poderão contribuir para decisões futuras sobre esta matéria.
Quando se fala de decisões futuras trata-se de terceira dose da vacina?
Era o que se depreendia do comunicado do Ministério que anunciava o estudo, mas os especialistas e o secretário de Estado da Saúde já vieram dizer a publico que os estudos serológicos não servem para tomar decisões sobre vacinas.
Na semana passada, o imunologista Luís Graça, que faz parte da comissão técnica para a vacinação disse isso muito claramente. E até lembrou que nem sequer os ensaios clínicos que estiveram na base da autorização das vacinas se basearam em serologia. E esta segunda-feira, o secretário de Estado Lacerda Sales voltou a dizer que estes testes não servem por si só para medir a eficácia das vacinas.
Porquê?
Porque estes testes medem a presença de anticorpos e os anticorpos são gerados pelo contacto com a Covid-19, seja por contágio da doença, seja por vacinação. Mas uma pessoa vacinada contra a Covid-19 pode estar muito tempo sem ter contacto com a doença, pelo que os anticorpos vão diminuindo. Isso não quer dizer que não esteja imune, quer só dizer que não tem tido contacto com este coronavírus. Mas há umas células no nosso sistema imunitário – as chamadas células T - que como que guardam memória do contacto e, uma vez que volte a ter contacto com o vírus, essas células voltam a produzir anticorpos.
Então e o que é que servirá para tomar decisões sobre uma terceira dose da vacina?
A decisão sobre a necessidade de uma terceira dose terá de ser tomada com base na proteção que as vacinas continuam a manter contra a doença que é causada por esta infeção, como disse Luís Graça. Ou seja, o que pode ser decisivo para uma decisão sobre a terceira dose é o aumento do número de infetados de um grupo populacional já vacinado. Só o aumento do número de infetados é que mostra que a vacina está a perder efetividade.
Então para que servem os testes serológicos?
São importantes para estudos científicos sobre a sero prevalência. Ou seja, os estudos serológicos servem para saber quantas pessoas já tiveram contacto com o vírus, seja por doença ou por vacinação, não servem para medir o grau de proteção imunitária que essas pessoas têm.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.573 pessoas e foram registados 1.004.470 casos de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.