19 ago, 2021 - 15:57 • Ana Carrilho
O grande incêndio voltou esta semana a ameaçar Monchique, mas a Proteção Civil do concelho algarvio atuou por prevenção para tentar impedir o avanço das chamas para a sua área. A estratégia é referida pelo autarca Rui André, em declarações à Renascença.
No entanto, travar os fogos e outras catástrofes naturais passa polo ordenamento do território, transformação da paisagem, com presença humana, agricultura, floresta autóctone de produção, defende o presidente da Câmara de Monchique.
Rui André exige a colaboração com os proprietários e, acima de tudo, coragem política.
"As catástrofes são bons momentos de mudança"
É preciso fazer um ordenamento do território, criar uma paisagem resiliente com um mosaico que permita a descontinuidade das espécies e da vegetação, para que o fogo seja travado. “Numa floresta como a portuguesa, que é maioritariamente propriedade privada, isso exige o acordo com os proprietários; é preciso coragem política para o fazer”, o presidente da Câmara de Monchique.
No concelho algarvio a estratégia começou a ser seguida depois do grande incêndio de 2018.
“As catástrofes são sempre bons momentos de mudança”, diz o autarca. Foi criado um “Plano de Ordenamento da Paisagem” que tem uma componente física, mas também económica e social.
No entanto, Rui André admite que “está a arrancar timidamente, é um trabalho para 20 anos, precisa de envolver os proprietários e o Estado, com a disponibilização de meios financeiros”.
“Não sou um purista para defender subsídios, só por si, mas tem que haver um investimento do Estado ou ajuda dos fundos comunitários para pagar a floresta de proteção, de descontinuidade, que não é rentável. Se não tivermos um modelo em que o proprietário tenha retorno não vamos a lado nenhum", adverte o presidente da Câmara de Monchique.
Para o autarca algarvio, é possível redesenhar um modelo económico em que a agricultura volte a ter lugar e em que seja viável criar circuitos curtos entre o produtor, o comércio, a restauração e a hotelaria.
“Somos uma região essencialmente turística: temos meio milhão de habitantes, mas no Verão temos 20 milhões de dormidas. Porque não criar esta estratégia de circuitos curtos entre a produção agrícola e esta restauração que é tão viva e dinâmica? Isso seria suficiente para que os terrenos agrícolas voltassem a ser plantados e com isso, tornarmos viável a gestão agrícola do território. E é este caminho que temos de seguir; se não o seguirmos, teremos sempre grandes desequilíbrios”, defende Rui André.