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Alta Comissária para as Migrações

Portugal vai receber mais 20 cidadãos afegãos nos próximos dias

31 ago, 2021 - 10:57 • Anabela Góis , Olímpia Mairos

A informação foi avançada à Renascença pela Alta Comissária para as Migrações. De acordo com Sónia Pereira, em princípio vêm de Espanha. Vão juntar-se ao grupo de 66 que chegou no fim de semana e que ainda se encontra no local de acolhimento.

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Mais de 120 mil civis já foram retirados do Afeganistão. Estrangeiros e pessoas que colaboraram com os aliados. Só com Portugal, estão identificadas mais de cem pessoas que o Governo se dispôs a receber e que fazem parte da lista prioritária.

Em entrevista ao Programa As Três d’Manhã, a Alta-Comissária para as Migrações, Sónia Pereira, diz que é impossível saber se já saíram do Afeganistão as 166 pessoas consideradas prioritárias pelo Governo português, adiantando que a capacidade de acolhimento em Portugal continua a crescer e nesta altura temos possibilidade de receber mais de 400 pessoas.

Portugal já recebeu 66 afegãos. Sabemos que já teve oportunidade de contactar com alguns deles. Onde estão alojados?

Nesta fase, estão na região de Lisboa num espaço coletivo que nos permite entrar já em contacto com as várias famílias ao mesmo tempo e dar início às entrevistas que são fundamentais para os encaminharmos para as respostas subsequentes já mais estáveis em apartamentos.

E que tipo de pessoa é que estamos a falar? São famílias? Mais homens, mais mulheres, muitas crianças?

É bastante equilibrado. São famílias, alguns cidadãos individuais, tem homens, mulheres e tem várias crianças que vieram em família para Portugal.

E falam todos inglês?

Falam, alguns inglês, outros menos inglês, mas percebem alguma coisa e a sensação que eu tive no contacto é que se apoiam também uns aos outros. Aqueles que falam mais inglês apoiam também aqueles que falam menos, mas em geral o conhecimento de inglês é de um nível bastante bom.

São 66. Como é que eles se encontram?

Eu encontrei-os já bem, mas eles vieram muito cansados. Portanto, também para nós, enquanto trabalho técnico, foi muito importante dar-lhes uns momentos iniciais para poderem descansar. Já estavam há vários dias sem dormir e sem ter descanso. Gostei muito de ver as crianças, são várias crianças das famílias, a brincarem umas com as outras. Nota-se que já havia ali algum espaço, pelo menos alguma estabilidade e das crianças estarem a aproveitar também o espaço que tinham de tranquilidade para brincarem. Existe ainda alguma apreensão, a chegada ainda é muito recente, mas nota-se que já há uma estabilidade e que já estavam mais descansados, já tinham conseguido dormir.

O facto de falarem inglês facilita, naturalmente, a integração. Já se sabe onde é que vão ficar depois alojados? Como é que vai ser feita a distribuição pelo país?

Nós estamos a adotar a mesma lógica que adotamos nos nossos programas de receção de refugiados. Fizemos o mapeamento das disponibilidades, da capacidade que está em permanente atualização face à realidade que estamos a enfrentar, mas já temos as respostas mais imediatas sinalizadas e estamos agora a recolher informação sofre os perfis das famílias para poder adequar melhor a capacidade que já temos identificada aos seus perfis, às suas características, possibilidades de inserção no mercado de trabalho e também ao nível de contacto com meios urbanos ou meios rurais. Também vamos ter isso em conta na canalização para as respostas seguintes.

Mas será um processo paralelo aos outros que já decorrem nesta altura, nomeadamente com os refugiados sírios? Portanto, estes não vão passar à frente, será um processo paralelo?

Sim.

E quando é que vêm mais? Há indicação?

Estamos sempre a receber informação. Como sabem, o fluxo dos voos tem sido bastante diverso, nós nem sempre temos a certeza, mas sabemos que muito em breve vai chegar um segundo grupo, dependendo agora apenas do voo, mas estamos já à espera, a qualquer momento, que possa vir já um novo grupo.

E vem de onde?... Porque agora já não vêm de Cabul…

Este grupo que nós temos indicação de que chegará em breve, em princípio virá de Espanha, mas pode haver alterações nos voos. É um processo que nós não controlamos completamente.

E serão quantas pessoas?

Em princípio, cerca de 20, um pouco menos.

Ainda longe dos 166 que faziam parte daquele grupo prioritário. Esses já estão todos fora do Afeganistão?

Não temos a certeza. Este é um processo que está em permanente atualização. Há muitos países a atuar naquela região e nós vamos recebendo informação à medida que ela vai sendo disponibilizada também através das áreas governativas competentes nessa matéria e vamos recebendo a informação sempre muito faseada. Estamos mesmo a atuar num contexto de crise e de emergência, portanto vamos construindo este puzzle à medida que as peças se vão também encaixando. A nossa responsabilidade e preocupação é garantir que, de facto, as condições de acolhimento no nosso país estão preparadas, assim que nós recebemos o ok de que vai chegar um avião. Nós temos a equipa pronta e as condições de acolhimento mais ou menos estabilizadas para dar uma resposta imediata.

Na semana passada tínhamos capacidade para acolher 300 pessoas. Essa capacidade aumentou?

Nós tivemos a oportunidade de canalizar um conjunto de manifestações da sociedade civil a nível também de alojamento e de apoio social.

Isso significa que são famílias portuguesas que abririam as suas casas para receber?

Sim. E estamos a tentar obter mais informação dessas famílias para perceber que tipo de casas é que estariam a disponibilizar e de que forma é que podemos aproveitá-las também para as entidades que já se disponibilizaram. E neste momento temos já respostas que nos permitem subir um pouco mais. Ainda não temos a certeza se todas estas casas, de facto, resultarão em acolhimento efetivo, mas fizemos um questionário para ter informação mais detalhada e já temos 520 respostas para trabalhar neste momento, com capacidade de acolhimento.

Para acolher as pessoas têm que manifestar essa vontade?

Sim. As pessoas manifestaram através de um primeiro formulário essa disponibilidade para acolher, que pode ser apenas através de alojamento ou também com acompanhamento. Quer dizer, a família disponibiliza-se também para acompanhar a pessoa, não só a disponibilizar um alojamento, por exemplo, uma segunda habitação que tenha disponível e que possa mobilizar, e nós agora estamos a tentar perceber se as pessoas têm experiência também neste tipo de acolhimento, se já alguma vez trabalharam com refugiados, se até falam outras línguas e podem ter alguma interação, que tipo de casas é que têm, quando é que estariam disponíveis para acolher e durante quanto tempo, porque nós precisamos de alguma estabilidade e informação mais detalhada. A partir daí, habitualmente o ACM faz visitas às casas para perceber as condições. Isto é a prática normal no acolhimento e também está a ser aplicada agora. Visitas para perceber se as casas cumprem. Nós não somos a entidade de acolhimento, mas somos responsáveis por articular respostas de acolhimento e temos muitas entidades que precisam de alojamento portanto é muito importante também podermos fazer a combinação entre aquilo que é a disponibilidade de particulares e as entidades que já têm experiência, capacidade técnica para poderem aproveitar também essa disponibilidade.

Estamos todos muito curiosos em relação àquelas duas mulheres afegãs que tinham sido contratadas por empresas portuguesas, há alguma notícia? Conseguiram sair do Afeganistão?

Essa área é dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, eles é que estão a trabalhar. Nós não temos conhecimento de qual é a situação dessas duas mulheres, contactamos as empresas, percebemos quais eram as condições que tinham para as acolher, fizemos esse mapeamento e esse registo encaminhamos para as autoridades competentes e neste momento está nas mãos de quem realiza estas operações no terreno.

O refugiado afegão Nasir Ahmad, que vive no Porto desde 2016, está em greve de fome, desde segunda-feira, até receber uma resposta do Governo português sobre a vinda da mãe e irmã para Portugal. Como é que se gere um caso destes? Para o Nasir haverá resposta?

A nossa resposta tem sido de articular com ele para receber o máximo de informação possível. Desde o início que lhe transmitimos que a capacidade de acolhimento, a nossa disponibilidade para o acompanhar e à família, existe, mas que é um processo muito complexo e complicado no Afeganistão e aí há muito fatores que não dependem nem das autoridades portuguesas nem muito menos do ACM, que não tem essa área de intervenção.

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