10 set, 2021 - 11:10 • Liliana Monteiro
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António Bagão Felix, antigo ministro das Finanças, cruzou-se politicamente com Jorge Sampaio e destaca duas decisões "corajosas" tomadas pelo antigo Presidente da República enquanto chefe de Estado.
Em declarações à Renascença, Bagão Félix recorda Jorge Sampaio, que morreu esta sexta-feira, aos 81 anos, como uma pessoa "muito honrada, com caráter e muito sensível". Apesar das diferenças, "que havia", o economista considera que ganhou, a nível pessoal e profissional, pelos contacto com o antigo Presidente e destaca dois episódios marcantes.
"Houve dois momentos que coincidiram com a minha passagem pelo Ministério das Finanças. Um foi a coragem de não ter convocado eleições depois da saída do Dr. Durão Barroso de primeiro-ministro, porque continuava a haver uma maioria na Assembleia da República. Foi uma atitude corajosa face às pressões que teve, em particular do partido de que era militante [PS]. E depois, curiosamente, também uma atitude corajosa, embora eu pessoalmente tenha discordado, mas isso não tem importância nenhuma, de ter dissolvido o Parlamento e convocado eleições gerais na altura do governo presidido pelo Dr. Santana Lopes e do qual eu fazia parte", conta Bagão Félix.
Os dois políticos começaram a contactar mais regularmente quando Bagão Félix se tornou ministro das Finanças, no entanto, já conheciam desde o início da década de 1980.
"Quando fiz parte da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, encontrámo-nos muitas vezes em Estrasburgo e tínhamos conversas muito interessantes do ponto de vista do sentido da vida e das opções que temos à nossa frente", recorda.
Jorge Sampaio era "uma pessoa sensível" no trato e no "respeito pela diferença", além de "prudente, muito atenta e muito minuciosa". Trocou correspondência "várias vezes de um modo muito pessoal" com Bagão Félix, que considera adequada a classificação de Sampaio como "Presidente dos direitos humanos".
"Foi sempre uma pessoa muito sensível às questões humanas e sociais e que tinha sempre presente, no seu caminho, nas suas ideias e nas suas ações, o respeito pela dignidade e pela centralidade da pessoa humana. Portanto, nesse sentido, de facto, foi, decisivamente, um Presidente dos direitos humanos", enaltece.