10 set, 2021 - 13:35 • Lusa
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O histórico comunista Domingos Abrantes recorda Jorge Sampaio como "um resistente", lembrando que o ex-chefe de Estado foi seu advogado quando esteve preso nos tempos de ditadura, e expressou a sua gratidão.
Em declarações à Lusa, o membro do Conselho de Estado Domingos Abrantes lamentou a morte de Jorge Sampaio nesta sexta-feira, aos 81 anos, e dirigiu à família os seus sentimentos e pêsames.
O comunista recordou Sampaio como "um resistente, como um lutador empenhado pela luta, pela liberdade e pela democracia", destacando o papel que este teve como seu advogado quando esteve preso em Peniche.
"Primeiro, o que Jorge Sampaio foi: foi meu advogado quando eu estive preso e devo-lhe essa gratidão", vincou.
Domingos Abrantes realçou que, no período do Estado Novo, o trabalho dos advogados nos tribunais plenários "não era um trabalho fácil", uma vez que "à partida os presos estavam condenados", mas Sampaio "sempre o desempenhou com muita coragem, com muita determinação".
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"Ele foi-me visitar a Peniche. Como deve calcular, eram momentos muito sombrios e incertos quanto ao futuro", evocou, lembrando que na inauguração da primeira fase do Museu de Peniche, teve ocasião de recordar o papel de Sampaio no apoio aos presos políticos.
Mas Domingos Abrantes destacou ainda um outro momento marcante na sua convivência com Jorge Sampaio, quando integrou o Conselho de Estado. Segundo o histórico comunista, o ex-Presidente fez questão de mencionar o que "significava um preso político, e um preso político que ele tinha ajudado, estar num órgão como o Conselho de Estado, ainda por cima um operário".
Domingos Abrantes disse ainda temer que, "se não houver um trabalho de educação democrática, do que significou a luta e o papel dos resistentes, daqui a uns anos já ninguém se lembre de Jorge Sampaio, como de outros", salientando que "essa geração de resistência está a chegar ao fim".
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Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.
Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).
Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.
Durante o seu segundo mandato, em 2003, organizou a primeira reunião do "Grupo de Arraiolos", constituído por chefes de Estado da UE sem funções executivas.
Atualmente, presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.