15 set, 2021 - 11:26 • Inês Braga Sampaio , Celso Paiva Sol
O ministro da Administração Interna (MAI) continua a refutar responsabilidade pelos festejos do Sporting, mesmo perante as críticas dos partidos da oposição. Esta quarta-feira, o PSD acusou Eduardo Cabrita de fazer "muitos disparates e asneiras" e, depois, "lavar as mãos" de culpa.
No Parlamento, onde foi ouvido a pedido do PSD, esta quarta-feira, Eduardo Cabrita voltou a dizer que a culpa foi de quem organizou a festa, ou seja, do Sporting e da Câmara de Lisboa. O PSD defendeu que o PS não pode desculpar o que aconteceu com "um conjunto de alarvidades" que pretendem apenas descredibilizar o debate deste assunto.
Para o social-democrata Duarte Marques, "a PSP foi desautorizada pelo ministro", que classificou como "muito pouco competente":
"Fica a sensação de que o senhor ministro lava as mãos como Pilatos desta responsabilidade. O senhor ministro delegou na Câmara de Lisboa a decisão sobre os festejos do Sporting, o senhor ministro ignorou os avisos da PSP, o senhor ministro ignorou os avisos da DGS e preferiu deixar que a festa continuasse sem qualquer controlo."
"Bem sei que tenta desvalorizar, mas nós não desvalorizamos. Este é o segundo requerimento do PSD para o trazer cá. Ser o campeão das visitas ao Parlamento só demonstra que faz muitos disparates e asneiras. Não devia ficar orgulhoso de vir cá tantas vezes", acrescentou o deputado.
Cabrita respondeu acusando o PSD de "desespero" e relembrou que determinou, face às dúvidas, a 12 de maio, a realização de um inquérito pela IGAI. No dia 16 de junho, "foi apresentado o relatório desse inquérito". "Esta ideia de ausência de escrutínio não tem qualquer sentido", vincou.
Por outro lado, Duarte Marques assinalou que "é importante esclarecer que estes festejos ocorreram em maio e o Governo tinha poder para impedir ajuntamentos". "Não conhecia ou não quis exercer", atirou.
Telmo Correia, do CDS, referiu que "não é possível" dizer-se que o tema já não tem atualidade "quando no momento em que se quis discutir isto, mais próximo ao momento do evento, foram levantados todos os travões".
O deputado afirmou que Cabrita é "responsável por garantir que as regras de proteção dos cidadãos são cumpridas", acrescentando que caberia ao Governo explicar a forma como os festejos deveriam ter ocorrido.
Telmo Correia realçou que, "ao reportar-se àquilo que tinha sido acordado" entre o Sporting e a Câmara de Lisboa, Cabrita "ignorou aquilo que vinha da PSP". "Não foi uma decisão de bom senso e pôs em causa a autoridade do Estado para prevenir a evolução da pandemia", disse.
O Bloco de Esquerda sublinhou que, "como se previa, a ocorrência de festejos iria ter impacto profundamente negativo sobre a evolução da pandemia no país e em especial na Grande Lisboa".
José Manuel Pureza destacou que a legitimação dos festejos implicou "um manifesto uso abusivo da figura do direito à manifestação".
"Sendo tão patente a inadequação dessa figura àquilo que se passou, como é que é possível que não tenha havido uma entidade capaz de inaplicar esta figura?", questionou o deputado bloquista.
Numa avaliação global e em resposta aos deputados, o ministro da Administração Interna reconheceu que "os festejos não correram bem".
No que toca ao modelo de celebração, Cabrita explicou que não compete à PSP defini-lo, mas sim garantir a segurança. Do seu ponto de vista, a PSP "fez aquilo que era adequado num quadro particularmente difícil".
O ministro afastou, no entanto, a possibilidade da relação entre os festejos do Sporting e o crescimento da pandemia de Covid-19 em Portugal.
"Não resulta nenhuma correlação demonstrada entre este evento e aquilo que foi o crescimento a partir de junho/julho do número de novos casos relacionados com a variante Delta", sublinhou. Sobre eventos futuros, Cabrita apelou "à responsabilidade de todas as entidades".
Quanto ao direito de manifestação, explicou que "teve a ver com o pedido associado a elementos da [claque] 'Juventude Leonina' relativamente às imediações do estádio".