24 set, 2021 - 16:48 • Lusa
Os trabalhadores da refinaria da Galp, em Matosinhos, que encerrou em abril, exigiram hoje a sua reativação e garantiram demonstrar o seu descontentamento nas urnas no domingo, aquando das eleições autárquicas, apelidando o primeiro-ministro de "mentiroso".
Frente à Câmara Municipal de Matosinhos, no distrito do Porto, cerca de uma centena de trabalhadores acusaram o primeiro-ministro, António Costa, de mentir sobre o encerramento da refinaria, exigindo-lhe respeito por quem perdeu o emprego.
"Fechar não é solução, Costa é aldrabão" lia-se numa faixa exibida pelos trabalhadores que, cada vez que se ouvia o seu nome, assobiavam em forma de protesto.
Garantindo que os trabalhadores não vão baixar os braços, o coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT) da empresa do grupo Galp Energia, Hélder Guerreiro, afirmou que não vão abdicar do futuro de Matosinhos.
Condenando fortemente as declarações do passado domingo de António Costa que, durante uma ação de campanha para as eleições autárquicas, em Matosinhos, na qualidade de secretário-geral do PS, afirmou que "era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade" como a Galp demonstrou no encerramento da refinaria de Matosinhos, prometendo uma "lição exemplar" à empresa, Hélder Guerreiro pediu que passe das palavras à ação.
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"Se quer dar uma lição à Galp, vamos readmitir os trabalhadores demitidos e pôr a refinaria a trabalhar em prol do país e da região", afirmou.
Falando num crime social cometido em Matosinhos, na Área Metropolitana do Porto, na região e no país, o coordenador da CT lembrou que o primeiro-ministro nunca respondeu aos apelos dos trabalhadores e que, só agora em vésperas de eleições, é que lhes veio dar razão.
"Mostrou uma total insensibilidade ao longo de todo este processo", vincou.
As críticas a Costa dominaram toda a manifestação com Miguel Ângelo, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), a dizer que o primeiro-ministro é a "figura" do encerramento da refinaria.
"Ele [primeiro-ministro] foi a primeira pessoa a saber", reforçou, dizendo que enquanto a "chama não se extinguir" vão continuar a lutar.
O sindicalista ressalvou que o país vai ficar mais pobre e vai perder soberania, acreditando que o tempo há de dar razão aos trabalhadores.
Sob o mote "A refinaria do Porto tem razão", João Marinho, despedido no âmbito do processo de despedimento coletivo, depois de 19 anos a trabalhar na refinaria, falou numa situação "dramática" dadas as perdas de rendimentos.
"Mas, vou lutar até ao fim. Continuo a acreditar na reintegração e na reativação da refinaria, é só haver vontade política", entendeu.
A Galp desligou a última unidade de produção da refinaria de Matosinhos em 30 de abril, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines.
A petrolífera justificou a "decisão complexa" de encerramento da refinaria com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações.
O encerramento da refinaria de Matosinhos, em abril, representa perdas de 5% do PIB em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto, segundo um estudo socioeconómico a que a Lusa teve acesso.
O estudo, encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos à Universidade do Porto para avaliar os impactos socioeconómicos do fecho do complexo petroquímico no concelho, traça um "cenário particularmente grave" para a região Norte e para o país, caso não seja dado qualquer destino àquela instalação industrial.
O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.