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Pobreza e exclusão

Sem-abrigo fora das ruas em 2023? "Muito improvável", alerta a Comunidade Vida e Paz

29 set, 2021 - 01:10 • André Rodrigues

Ministério da Segurança Social identificou 8.209 sem-abrigo em 2020, mais 1.100 do que em 2019, fruto da crise provocada pela pandemia. Diretora da Comunidade Vida e Paz duvida que seja possível cumprir a meta fixada pelo Presidente da República. "Vai ser muito difícil tirar estas pessoas da rua muito para lá do tempo inicialmente estabelecido".

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A diretora da Comunidade Vida e Paz considera “impossível” o cumprimento da meta de retirar todos os sem-abrigo das ruas até 2023.

A meta foi fixada em 2018 pelo Presidente da República e revista em baixa pelo próprio Marcelo Rebelo de Sousa em 2020, quando o país já enfrentava a pandemia da Covid-19.

Esta terça-feira, o Inquérito de Caracterização das Pessoas Sem Abrigo em Portugal, relativo ao ano passado, identificou um total de cerca de oito mil pessoas nessa condição e que, só entre 2019 e 2020, o aumento foi de, aproximadamente, 1.100 novos sem-abrigo.

Em declarações à Renascença, Renata Alves considera, por isso, “bastante improvável” que se cumpra a meta estabelecida pelo Presidente da República e duvida da sua concretização até para lá de 2023.

“Já era uma meta bastante ambiciosa e com a questão da pandemia, obviamente torna-se ainda mais ambiciosa. Apesar de todos os esforços que têm sido feitos, vai ser muito difícil”, assinala a diretora da Comunidade Vida e Paz, que diz, também, ser necessário dar tempo às eventuais consequências que advirão do fim das moratórias de crédito, que “poderá ter um impacto muito grande”.

Renata Alves espera que um eventual quadro agravado de pobreza destas pessoas “seja, de certa forma, travado pelas respostas e pelas alternativas que têm estado a ser criadas, mas não sabemos a quê que poderemos vir a assistir”.

Segundo esta responsável, o quadro pandémico alargou o perfil do sem-abrigo e colocou muitos milhares de pessoas mais perto de cair nessa situação.

Cada vez mais pessoas em risco

Desde março de 2020, Renata Alves diz que se multiplicou o número de “famílias que estavam em situação de grande vulnerabilidade e que passaram a estar em situação de sem-abrigo. E houve outras pessoas que, por razões de despedimento, nomeadamente na restauração e na hotelaria, ficaram sem trabalho e caíram nessa situação. Depois, temos a questão da doença mental em pessoas que não têm recursos para fazer face a estas situações inesperadas que a pandemia causou e muitas foram parar à rua”.

A tudo isto, somam-se os problemas da dependência das drogas e do álcool que tornam mais difícil a reabilitação das pessoas e a sua reinserção plena na sociedade: “uma população sem abrigo é muito volátil que vai transitando e oscilando de resposta em resposta e que muitas das vezes, se não olharmos para as problemáticas que as pessoas apresentam e se não as tratarmos, facilmente regressam a uma situação de sem abrigo”, assinala a diretora da Comunidade Vida e Paz

A falta de uma habitação é apenas uma parte da questão, mas uma parte fundamental que tem tido resposta por parte das instituições que, em articulação, nomeadamente com a Câmara de Lisboa, têm conseguido acolher temporariamente pessoas nesta situação.

“No máximo as pessoas podem permanecer nestas estruturas durante um ano”, mas, e depois disso?

“As rendas nas habitações são muito elevadas e, se não houver medidas para as reduzir, vai ser muito difícil tirar estas pessoas da rua muito para lá do tempo inicialmente estabelecido pelo Presidente da República”, avisa.

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