01 out, 2021 - 08:30 • Ana Carrilho
Mais de um terço (35%) das pessoas que este ano e em 2020 ligaram o “144” – Linha Nacional de Emergência Social – expuseram aos técnicos da Segurança Social problemas de “desalojamento”, por dificuldades financeiras, desemprego ou zangas familiares. Só depois aparecem todos os outros casos de necessidades básicas como alimentação ou medicamentos, violência doméstica sobre mulheres, idoso ou crianças, dependências de álcool ou de drogas, de pessoas sem-abrigo.
Na cerimónia em que se assinalaram duas décadas da Linha, que decorreu em Arroios, Lisboa, a atual coordenadora, Marga Borges, revelou que, só neste ano, “já foram tratadas 13 mil situações que envolvem cerca de 19 mil pessoas”.
"Em tempos de pandemia, a Linha permitiu e facilitou também o contacto de pessoas que tinham vergonha de expor a sua situação de necessidade, pessoalmente”, sublinhou Marta Borges, revelando ainda que “mais de 50% dos pedidos continuam a ser feitos por mulheres”. As idades variam entre os 30 e os 60 anos. O segundo grupo mais significativo é o das pessoas com mais de 65 anos.
A coordenadora da Linha de Emergência Social sublinha que há muitas dificuldades a ultrapassar a cada chamada a que os técnicos respondem com um “144, em que posso ser útil?”. E elogia a equipa e a rede de parceiros “com grande sentido cívico” sempre disponíveis a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer dos 365 dias do ano, que “veste a camisola” .
Há vinte anos, Cristina Louro, na altura vogal da direção do Instituto de Segurança Social, lançou o “144”. Na cerimónia de quinta-feira à tarde, fez questão de lembrar que o ministro da Segurança Social era Paulo Pedro e que compreendeu muito bem a necessidade desta Linha”.
A antiga responsável diz sentir que mudou a vida de muitas pessoas, “trouxe um rosto à Segurança Social porque até então as pessoas não tinham a quem expor os seus problemas e necessidades”.
Cristina Louro recorda que a criação da Linha foi um sucesso, “começaram a chover chamadas, chegámos a ter 700/dia. Mas deu-se sempre resposta”.
Revelou ainda a surpresa que tiveram na altura quando começaram a receber mais casos de abandono de idosos e crianças, em vez das esperadas situações de violência doméstica. Também lhe chegavam casos de pessoas com dependências ou sem-abrigo. “Ficámos a conhecer muitas situações dramáticas que desconhecíamos completamente e ao mesmo tempo, a grande dedicação das pessoas que trabalhavam na Linha, de manhã à noite, aos fins de semana, feriados, sem descanso”, cotou Cristina Louro.
E foi “com pena” que referiu o facto de atualmente já não existirem as equipa que iam ao local onde as pessoas estavam para ver o que se passava e tentar arranjar a melhor solução.
Uma situação que poderá estar em vias de solução. Esta tarde, a ministra do Trabalho, Solidariedade Social assumiu que “a pandemia também foi um grande momento de aprendizagem e agora tem d servir para dar o salto e fazer melhor.
“A maior frustração é atender o 144, perguntar em que se pode ser útil e depois não ter uma resposta para dar. É preciso perceber o que é preciso mudar”, frisou Ana Mendes Godinho no final da cerimónia que assinalou as duas décadas da Linha de Emergência Social.
Foi nesse contesto que anunciou que já foram lançados os avisos para a instalação de 1.200 pessoas sem-abrigo em alojamentos num ano mas também a criação de uma rede integrada para resposta personalizada, com equipas a funcionar a nível local. Os projetos-piloto já estão eme andamento em Braga e Faro. “Porque cada pessoa tem as suas características e as suas necessidades”.
Além disso vai ser criada uma Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário, financiada com verbas do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. O financiamento vai permitir a recuperação de imóveis públicos e do setor social, com a contrapartida de depois integrarem a Bolsa.
No entanto, ao fim de vinte anos ainda há quem desconheça a existência da Linha “144”.Por isso, Ana Mendes Godinho considera que alargar a sua divulgação é mais um desafio.