14 out, 2021 - 13:00 • Cristina Nascimento , André Peralta
Não é por acaso que a Santa Casa da Misericórdia é uma instituição de referência. Só no Porto, a instituição presta apoio a 2.500 pessoas por dia, seja na área da saúde, na proteção social, trabalho com idosos, com crianças, crianças em risco, pessoas sem abrigo. Nesta área geográfica, a Santa Casa da Misericórdia do Porto partilha responsabilidades até na prisão feminina de Santa Cruz do Bispo.
Quando surge a pandemia, em cada um dos setores houve aflições, mas o provedor da Santa Casa, António Tavares, considera que os idosos são os que mais sofreram.
“Os idosos são as vítimas silenciosas da pandemia, porque são as vítimas que muitas vezes, na primeira fase, antes da vacinação, mais desgaste sofriam até à própria morte e são depois aqueles que nós vamos ter acompanhar para que não se sentiam abandonados ou, acima de tudo, desprotegidos”, argumenta.
Na descrição sobre como é que tem sido lidar com a Covid-19, António Tavares lembra o tempo em que todos foram para casa. A Santa Casa manteve o “programa, que chamamos ‘Chave de Afetos’ e que, envolvendo alguns dos municípios da Área Metropolitana do Porto, foi possível retirar da solidão mais de 1.400 idosos, com recurso a meios tecnológicos de chamada e de participação das nossas equipas”.
A Santa Casa do Porto tem cerca de 1.200 trabalhadores. Ninguém foi para lay-off e, pelo contrário, sentiram sim falta de quem respondesse a ofertas de trabalho.
“Não havia pessoas que estivessem disponíveis para vir trabalhar, pelas mais variadas razões, algumas até por receio e isso naturalmente obrigou-nos a dar o máximo”, descreve. As dificuldades acabaram por ser ultrapassadas, “porque todos colaboraram e todos souberam estar do lado da solução”.
António Tavares faz também as contas ao custo da pandemia. Já gastaram cerca de um milhão de euros em material de proteção e tiveram inquilinos a quem deixaram de cobrar renda.
“Tivemos que conceder algumas moratórias a inquilinos nossos, por exemplo, para poderem suportar o pagamento das suas dívidas e não tivemos do Estado nenhum tipo de apoio objetivo nesta matéria”, diz.
Aliás, ao Governo o provedor diz que “as medidas para a economia social foram poucas, para não dizer poucochinhas, e muito fracas do ponto de vista do suporte financeiro”.
“Houve algumas medidas de apoio à contratação de pessoas, essas medidas foram bem vindas porque ajudaram à contratação, mas não são nada de especial em termos de impacto”, reforça.
Para o futuro pós-pandemia, António Tavares considera que a transição digital que se fez não pode ser perdida e pede uma aposta clara no apoio domiciliário a idosos, lembrando que, em breve, Portugal será dos países da Europa com população mais envelhecida.
Respostas Sociais à Pandemia é uma rubrica da Renascença com apoio da Câmara Municipal de Gaia que surge no seguimento da Conferência "Pandemia: Respostas à Crise" onde se debateu em maio de 2021 o papel das Instituições Sociais e do Poder Local.