14 out, 2021 - 19:34 • Lusa
Uma em cada cinco espécies de aves do continente europeu está ameaçada de extinção, alerta a Lista Vermelha das Aves da Europa 2021, publicada esta quinta-feira.
A lista, publicada pela associação internacional de defesa das aves BirdLife International, que junta associações de todo o mundo, avaliou o risco de extinção de 544 espécies de ave em mais de 50 países e territórios da Europa.
Divulgada em Portugal, em comunicado, pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), membro da BirdLife International, o trabalho nota também que há um impacto positivo nos trabalhos de conservação de espécies, como o exemplo do priolo nos Açores.
A Lista Vermelha indica também que uma em cada três espécies de ave na Europa sofreu um declínio nas últimas décadas, sendo as aves marinhas, aquáticas e de rapina os grupos mais ameaçados e em declínio mais acentuado.
Segundo o documento, são os habitats marinhos e agrícolas, as zonas húmidas e os prados que estão com mais aves ameaçadas ou em declínio, e há 71 espécies (13%) que estão ameaçadas, algumas criticamente em perigo. Outras 35 espécies estão quase ameaçadas e cinco espécies estão regionalmente extintas.
De acordo com o comunicado da SPEA, entre as principais causas para o declínio das populações estão as mudanças no uso dos terrenos, a agricultura intensiva, a sobre-exploração dos recursos marinhos (menos alimento para as aves, perturbação dos locais de nidificação ou captura nas redes de pesca), a poluição de águas interiores ou práticas florestais insustentáveis.
"Embora as conclusões da nova Lista Vermelha da Europa sejam em geral preocupantes, também há boas notícias. Os dados mostram que intervenções como programas agroambientais bem delineados podem salvar espécies como o codornizão (Crex crex)", diz a SPEA, acrescentando que, com a melhoria do estatuto de conservação do priolo, os dois casos de sucesso "mostram que abordagens direcionadas para a recuperação de espécies podem resultar".
O priolo é uma ave que apenas existe numa zona da ilha de São Miguel, nos Açores, que no início deste século era uma das aves mais ameaçadas da Europa. Na Lista Vermelha passou do estatuto de Ameaçado a Vulnerável, "graças a mais de 15 anos de trabalho da SPEA em conjunto com autoridades e populações locais e com o apoio de centenas de voluntários", diz a associação portuguesa.
"Esta Lista Vermelha mostra que é possível salvarmos as aves da Europa, mas que o tempo está a acabar. É urgente agir já, a nível nacional e europeu, implementando políticas agrícolas, de pescas e de gestão de território que salvaguardem os valores naturais antes que seja tarde demais", diz Domingos Leitão, presidente da SPEA, citado no comunicado.
E também citado Martin Harper, diretor regional da Birdlife Europe, diz que os resultados da Lista Vermelha mostram que a terra, a água doce e os mares não estão a ser geridos de forma sustentável.
"Queremos e precisamos que a Europa seja líder mundial no restauro da natureza, mas para isso acontecer será preciso nada menos que uma transformação das nossas economias. Esta transformação tem de começar agora, nesta década a que a ONU chamou Década do Restauro Ecológico", acrescentou.