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Especialistas pedem reconhecimento do clima como património da Humanidade

25 out, 2021 - 21:10 • Lusa

Abaixo-assinado pelo reconhecimento do clima estável como património da Humanidade galvanizou mais de 250 académicos portugueses.

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A construção de “uma nova abstração jurídica” que crie a figura do clima estável como um bem jurídico e o reconheça como património da Humanidade foi hoje discutida na Reitoria da Universidade do Porto.

O professor na Faculdade de Direito da Universidade do Porto e investigador do CIJE Paulo Magalhães esclareceu que a ideia é “construir uma nova abstração jurídica, capaz de representar o global, no direito, para os homens conseguirem gerir um bem comum”.

A ideia de reconhecer o clima estável como património da Humanidade chegou ao parlamento pela mão da comunidade académica, que fez circular um abaixo-assinado que galvanizou mais de 250 académicos portugueses.

O PS, o PSD e o PAN apresentaram projetos de resolução nesse sentido.

“Ele [o clima estável], não só é um bem comum porque é indivisível materialmente e juridicamente, como é um bem económico, como a qualidade dele é ilimitada”, detalhou o jurista.

O grande impulsionador do conceito de “casa comum”, que permitiria este reconhecimento legal, realçou as contradições do sistema de Direito e a sua incapacidade de encaixar a emergência climática no sistema e defendeu a mudança do paradigma económico, nomeadamente do mercado de emissões, que deve compensar quem tem capacidade de captar emissões de gases de efeito de estufa.

Já a professora da Faculdade de Direito da UP Maria Regina Redinha apontou que “O Direito é a única fórmula que permite a afirmação de uma situação de prevalência de determinado interesse face a outro interesse” e que “só com o estabelecimento de um concreto direito é que se pode, no fundo, ter proteção, preventiva e repressiva, em toda a sua plenitude”.

Com a aproximação da 26.ª Conferência do Clima, que arranca em Glasgow, na Escócia, no próximo domingo, Alexandre Quintanilha, deputado do PS à Assembleia da República e professor jubilado da Universidade do Porto, começou por mostrar o lado pessimista que “há 25 anos andamos a discutir a necessidade de mitigar as emissões e há 25 anos que não só aumentam, como aumentam de forma acelerada”.

Pelo lado positivo, deixou a previsão de desaceleração do crescimento demográfico a nível mundial, mas também um caminho que vem sendo traçado na transição para energias renováveis, na ideia de economia circular, numa agricultura mais inteligente, e um uso mais eficiente dos recursos.

Por último, lembrou que “as alterações climáticas estão a acontecer, vão continuar a acontecer”.

“Suspeito que vamos ter de nos adaptar e continuar a adaptar durante muito tempo”, rematou.

Neutralidade carbónica é um "desafio brutal"

O presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Filipe Duarte Santos, destacou que os pontos da agenda para a conferência de Glasgow estão já desatualizados.

Referindo que um dos pontos sugere que se estabilize a concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera, o especialista sublinhou que, para “baixar a temperatura, é necessário que a concentração mergulhe”.

“Isso é um desafio brutal, e exige que as emissões cheguem a zero, ou sejam neutras, havendo uma compensação”, adiantou.

Para a professora catedrática de Ecologia na Universidade de Coimbra e diretora do Centro de Ecologia Funcional Helena Freitas, “a transição está já a impulsionar uma nova revolução industrial, gerando atividade económica e postos de trabalho”.

A cientista referiu que “os investimentos públicos serão fundamentais, não apenas em si mesmos, mas para mobilizar também o capital privado” e frisou os aspetos sociais, como a necessidade de garantir que “os empregos do futuro devem ser de qualidade e bem remunerados, que ofereçam segurança e impulsionem as economias locais”.

“Não necessitamos apenas de uma transição, mas de uma transição justa”, defendeu.

O presidente da associação ambiental Zero Francisco Ferreira reconheceu que as negociações internacionais não são fáceis, mas “são fundamentais para acrescentar à mudança”.

“Se calhar ainda vamos ter uma Lei Portuguesa do Clima antes do Orçamento”, brincou, antes de adivinhar que o país terá “uma Lei Portuguesa do Clima que será, esperamos, uma grande forma de consenso”.

O filósofo Viriato Soromenho-Marques, a quem coube o encerramento da sessão, relevou que “a ideia de clima como património comum tem um efeito extremamente importante na mudança do modelo das relações internacionais”.

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